30 de dez. de 2016

Perfeitamente


O perfume da roupa no varal,
O cheiro da chuva mansa da última madrugada,
A luz macia do sol que entra pela janela...
Nós sorrindo na lembrança.

E se a gente mantivesse a vida assim por um instante:
Pacífica, branda, com o cantar longínquo de pássaros?
Sem as mãos quentes de memórias e expectativas
Pressionando nossos pescoços.

Sentir saudade...
Não a saudade do que se foi para sempre,
Levando consigo toda claridade,
Mas do que chega amanhã; logo ali.

Traçar versos bobos sobre uma vida banal;
Um dia alguém florescerá sobre esses pedaços de alma,
E até lá, ser leve, como se tudo estivesse em seu lugar,
Seguindo sua sina, perfeitamente.

29 de dez. de 2016

Éden



Eu me lembro do rosto de cada anjo.
Eu me lembro do rosto de cada demônio.
Eu me lembro de cada cura e de cada cicatriz.
Mas você era o antídoto antes do veneno,
A viagem tranquila antes da grande tempestade.

Meu lúcifer particular.
Quimera de luz e sombras.
No azul celeste do seu olhar,
Eu não via... eu não via,
Ardiam as chamas do inferno.

E todas as noites chorei,
Como um deus abandonado,
Por perder sua criatura dileta.
Meu paraíso nunca foi o suficiente 
Para tão magnânima e assustadora criatura. 

Meus olhos já não te alcançam mais,
Ou minhas mãos ou meus lábios ou meus braços.
Apenas a memória é um fio eletrificado e eterno
Envolto em meu coração
Conectando-me àqueles dias em que meu Éden era apenas seu.

27 de dez. de 2016

Seu Ruas


Minha reverência, meu senhor.
Sou também Ninguém, prazer.
Soube da sua morte tentando defender a moça
Que só tava ali existindo.
Sabe meu senhor, eu acho que se o céu existe mesmo,
Tem um bom lugar esperando o senhor lá.
Por aqui anda tudo meio assim, sem jeito.
É uma gente ruim de um tanto,
Que quando a gente pensa que já viu de tudo,
A gente tem de chorar por outra desgraça!
Que os anjos te acolham, viu meu senhor,
Porque o senhor é um herói.
Mesmo que amanhã ninguém mais se lembre do senhor,
Que os jornais com sua foto forrem prateleiras,
Entupam bueiros... O senhor vai continuar sendo herói.
A gente é assim, a tal da amnésia coletiva.
Num dia a gente chora, no outro tá rindo de novo,
Como se estivesse tudo bem. Não tá nada bem.
Sabe, o mundo é um lugar muito feio
Pra pessoas bonitas assim, como o senhor.
Não vai dar pra esperar muito da justiça dos homens,
Ela é feito cobra de brejo, só pica pé descalço.
A gente aqui roga é pela divina.
Vai com Deus, viu, Seu Ruas.
Um mundão de gente tá com o coração danado de doído,
Mas também cheio de orgulho
De um entre nós, ser um Humano de verdade.

22 de dez. de 2016

Antônimo da dor


Chorei à despedida da Grande Dor.
Uma inimiga tão íntima, tão fiel.
Sempre tornando as noites mais escuras
Do que qualquer noite deveria ser.
Sempre tornando a memória
Mais reluzente do que qualquer memória deveria ser.

Chorei à chegada do Grande Bem.
Na tela fria eu via o mais doce sorriso,
O mais nítido olhar.
E quase me esqueci de como tudo...
Como tudo está em escombros lá fora
E aqui dentro.

E nesta noite a oração será pelo coração;
O esquecido em uma velha estação
Quando seu sabor começou a desaparecer.
Será pelo coração
Que agora, em não tão mais longe,
Gera sorrisos nas horas mágicas da tarde.

21 de dez. de 2016

Luminescência


Olha-me de volta o abismo.
Estende mãos sedutoras,
Sussurra canções sobre paixões idílicas.
Chama meu nome exalando hálito quente,
Põe em chamas a minha carne fraca.

Já prestes a precipitar, a render,
Distante, meiga luminescência 
Faz com que escorra lágrima tímida.
Eu não a alcanço,
Eu não confio nos meus próprios olhos.

E sou eu que estendo as mãos...
Eu que entoo perigosas canções...
É meu o olhar do fundo.
Eu é que seduzo lindas negras estrelas
Que despencam tão belas;

Puras, como cada antiga veia 
Em que pulsava sentimentos insossos demais
Para qualquer maligno anjo faminto.
Mas me perdoo; há a luminescência distante...
E ela olha para mim, ela vem em direção a mim.

19 de dez. de 2016

Água passada


Lembra daqueles barquinhos de papel
Que fazíamos e deixávamos ir com a enxurrada?
Íamos acompanhando até que se desfizessem
E o papel voltasse a exibir letras, figuras...

A maior de todas as histórias é essa folha molhada.
Flutuando frágil sobre águas sujas.
E eu vejo indo uma dor tão minha, tão bonita;
Tudo o que resta, indo.

Seus dedos se entrelaçam aos meus,
Seu olhar se perde no horizonte junto ao meu.
E eu não afundo feito a folha que foi o barquinho de papel,
Eu fico junto do que segura minha mão.

Contenho pra não falar de esperança,
Mas já não chove,
A luz macia da tarde cai por mim adentro.
Volto a flutuar...

16 de dez. de 2016

Mais uma dose



Tantas feridas cansadas de doer.
Tudo aquilo não foi um milagre.
Não foi.
Nunca estivemos realmente lá.
Nunca fomos realmente nós.

Ao menos ainda conseguimos correr.
Fingir uma confortável revolta.
Estamos crescendo tão bem,
Perdendo o medo do escuro,
Ganhando medo de tudo.

Eu tinha direito àquela agonia,
Àqueles sonhos,
Ao luto sem prazo de validade.
Ao menos não era uma dor mesquinha,
Era algo de mais nobre, de mais refinado.

Veja agora a vida:
Todos cegos em um labirinto.
Que criatura amorfa e quase assustadora
Sobrou dos dias cheios de sol.
Todos os deuses estão mortos.

Que transcendentais eram aquelas preciosas ilusões, não?
A realidade tem um cheiro bem menos agradável.
E eu não perdoo a sua perfeição.
Eu odeio a sua perfeição.
Mas ainda amaria todo o resto de você.

15 de dez. de 2016

Tudo


Pouca coisa foi muito leve e doce
Para que se rendesse versos meigos e ordinários.
A vida me arde nos nervos, nos dedos, na epiderme.
O sangue persiste na constante ebulição.

Bem quisera aconchegar-te
Em suaves brisas de tarde veranil.
Lançar palavras leves nessa brisa
Para que em teu peito fizessem morna morada.

Mas o peito ruge, não ouve?
Tudo lá fora parece tão calmo,
Mas eu ouço as guerras,
Algumas distantes, outras internas.

É disso aquele sente: tudo.
Tudo é belo, tudo dói, tudo há e tudo falta.
Mas esse tudo, quem sente, quem nota, vê?
Os poetas. Aqueles, os já quase extintos.

Luz


Os sons do âmago persistirão a vibrar,
Ora intensos, ora tímidos,
Para sempre,
Esculpindo as essências da alma.

Não me esqueço dos tempos de tempestade,
Do frio e dos olhos de medo.
Não me esqueço das estiagens
Que levaram a graça das mais floridas promessas.

Tudo resiste na alma infinda, imensurável.
Ebulições de intensa euforia,
Tardes cinzas e mornas,
Sem vida.

Mas o vento, o sol e o verde lá fora
Faz dos olhos escorrerem morna esperança.
Talvez não venham tempos mais iluminados,
Talvez a luz nunca tenha partido daqui.

13 de dez. de 2016

Toada do alento


Serão ainda minhas mão só de louvores.
Dos dedos, hoje trêmulos e sozinhos,
Escorrerão apenas carinhos;
Uma fonte pura, cristalina.

A canção bonita vai vir trazendo paz.
Uma fé de carne e espírito,
De homem e deuses.
Feito voz doce de mãe espantando temores.

Já não faltará tudo que falta tanto.
Vai bastar... vai bastar.
A vidinha assim,
Longe dos santos e dos pecadores.

Cirandas sobre as sepulturas das memórias.
Não ter mais passados a assombrar.
Tudo se foi tão bem ido pras bandas do esquecimento.
Morreu o coração, nasceu uma flor.

13/12


Quando te vejo, assim de longe, Amor,
Os olhos desaguam mornos.
Como um riacho sob um sol brando,
Cercado de delicada vida.

Mas temo os homens de punho em riste,
De coração apodrecido,
De alma intoxicada de ganância, de ignorância.
E meus olhos ardem de medo e dor.

Estaria o Homem condenado à saudade?
A saudade morta, nebulosa e fria,
Dos tempos em que poderíamos ter mudado o mundo,
Mas escolhemos contaminá-lo.

As esperanças, feito as flores,
Desabrocham e murcham suavemente.
E mesmo que nos sonhos sua mão me segure firme,
Eu sei que ela jamais estará realmente aqui.

Desabrigado


Sinestésicas missivas a ninguém.
Alimentos insossos para anjos displicentes.
Louvores supérfluos a reis cegos de orgulho.
Finais.

As esperanças são visitas inesperadas,
Festejadas,
Que deixam um silêncio sepulcral na partida,
Um frio seco pelos corredores.

Adeus, querida cintilância.
Toda felicidade será castigada.
Abriremos as portas
Às carrascas memórias?

Lembra de mim ao pisar nas areias brancas
Em que nossos pés nunca estiveram juntos.
Eu lembrarei de ti
Sempre que for profunda a ausência de um Lar.


11 de dez. de 2016

Flores


Nunca te rendi flores.
Ofertei estrelas, filosofias, promessas.
Nunca te chamei para num dia ver um botão
E no outro, uma orquídea amarela.

O frágil sempre me foi assustador;
O efêmero, o vulgar, o transitório.
Valiam mais alianças frias
Que quentes mãos dadas.

Me perdoe,
Te privei do melhor de mim;
Da poesia em que veleja minha alma,
Da simplicidade bela em que repousam meus sonhos.

Este coração é um jardim pedregoso
Em que firo os dedos
Em busca de extrair ainda algo de belo.
Mas agora, aceita minhas flores, são o tesouro de mim.

Supernova


Por que se recusar a ouvir o canto das estrelas
Apenas por brilharem longínquas?
Se estão muito além do toque,
Não estão tão além do que alcança a emoção.

Se visse o que há dentro,
Os antigos reinos encantados,
Repletos de jovens sonhos
E leves esperanças...

Não clamaria por heróis,
Por outra mão fria e displicente,
Que evanesce em algum ponto do caminho
Para nunca mais ser sentida.

Veria a luz intensa
De um coração em eternas chamas,
Repleto de vida e calor,
Mas entorpecido por memórias e mentiras.


9 de dez. de 2016

Ébano


O tempo cavalga.
Perturba a paz com seus lunáticos urros famintos.
Devora suas próprias crias:
Consome horas, e estas,
Consomem os minutos,
E estes, as pequenas e doces esperanças.
Um banquete de horrores
Onde as luzes se apagam
E o belo se perde para sempre.

Mas tão distante,
Distante ao ponto do inatingível,
Reluz um sorriso magnânimo,
De um deus ébano,
Cuja voz estremesse o âmago esquecido
Onde soterrados, os sonhos jazem.
E por um instante a terra vibra,
Denuncia a vida que persiste na superfície.

Não seja outra preciosidade em um relicário frio.
Deixe livres minhas mãos
A te banharem de calor e desejo.
Persista sua beleza no breve campo das ilusões
Onde eu possa louvar sua pele e apelos.
Pois o sol já vem, e a magia da noite
Que torna livres todos os caminhos
Logo se despedirá.

3 de dez. de 2016

A noite chove


A noite chove.
Escuridões líquidas escorrem dos telhados
Enquanto eu danço com os silêncios
Que torturam minha mente.

A noite chove.
Empoça nas ruas quase mortas
De semi claridades amareladas
Por onde ninguém se aproxima.

A noite chove.
Relâmpagos e aromas adentram
A alma imóvel, esquecida 
Insultam sonhos já adormecidos.

A noite chove.
Dissolve as doces esperanças
Descendo ao âmago morno da terra
Onde repousa um jovem coração.

2 de dez. de 2016

Pintura


Como o pintor
Moendo suas pedras e ervas
Extraindo a vida e a cor
Da matéria morta
Para dar luz e preciosidade
Às infinitas belezas banais
Macero memórias e quimeras
Para extrair palavras
Que em versos dão formas eternas
Às sinestesias da alma.

Mas ao fim
Os sentimentos
Pincelados na tela fria
Pouco observados
Nada compreendidos
Repousam apagados
Em um leito de esquecimento
Distantes do calor
E da esperança
Incapazes de nutrir
O sangue de novos sonhos.


26 de nov. de 2016

Outa vez, último


Quantas vezes o último poema?
A última lágrima?
A última canção?

Quantas vezes mais o último exorcismo?
A última mensagem subliminar?
O último adeus?

Quantas vezes ainda a troca dos curativos?
O silêncio afiado como navalha?
A velocidade insana em direção a lugar nenhum?

Apodrecidos, os pedestais ruem.
Nenhum ídolo se mantém intacto.
Jazem as magnânimas luzes, enfim.

Antigos sonhos assombram as ruínas.
Junto aos escombros de encantadoras mentiras,
Meu coração.


24 de nov. de 2016

Adentro


Não servem mais as velhas fotografias.
Restos de memórias destoantes.
Não servem mais os velhos sonhos.
Fulguras já inanimadas.

A roseira plantada no último dia da ilusão
Não resistiu ao verão.
Assim como a esperança
Que não resistiu ao último silêncio.

Mas lembro daquele instante:
Eu tive a nova vida nas mãos,
Tão jovem, forte e bela.
Era eu em meus braços!

Enfim, um despertar:
Sem olhar atrás ou adiante;
Mas acima,
Adentro.

Não você



Todos irão desistir de você,
Não você.
O Amor não sucumbirá,
E por ele há de resistir.

Todos farão da fé uma fábula cruel,
Não você.
Sua voz é ouvida e acolhida
Por gentis Corações Celestes.

Todos morrerão pelo silêncio,
Não você.
Seu âmago para sempre
Entoará canções como milagres.

Todos levantarão a espada e o escuro,
Não você.
Seus braços prepararão o solo duro,
Suas mãos farão com que ele floresça.

Todos mergulharão no próprio reflexo,
Não você.
Sua alma submergirá entre as estrelas;
Um dia, voltará ao Lar.




23 de nov. de 2016

Ninguém


Já não imaginamos mais
Os jovens sorrisos
Esquecidos naquelas velhas ruas.

Para onde foi levada a poesia,
O frescor das esperanças tolas,
O brilho dos olhos?

Tanto das horas, dos dias,
Da fé,
Por batalhas nunca vencidas.

Agora que a realidade
Roubou o encanto de todas as coisas,
Onde brincarão os frágeis sonhos?

O destino ameaça voraz
E o amor perdeu a luta com a distância.
Ninguém nos levará para casa desta vez.

20 de nov. de 2016

30


Escrever é sempre uma auto-análise. Uma forma de falar diretamente à única pessoa realmente interessada em te ouvir: você.
Mas ainda assim, é uma mensagem lançada ao universo, que vez ou outra, mesmo que mui raramente, encontra algum receptor.
Há centenas de explicações do porquê da necessidade de escrever, suspeito que todas estão meio certas, meio erradas.
Com o passar dos anos e das páginas esses porquês vão se alterando, se adequando, encontrando novas finalidades. Desabafos, súplicas, nostalgias, sonhos, amor. E principalmente a necessidade profunda de não conter a alma apenas no pequeno cárcere da carne, o corpo.
No fundo a gente quer ser ouvido sem interrupção, sem julgamento. 
E as palavras são generosas, bondosas, muitas das vezes.
Como cheguei até aqui?
Bem, isto é uma carta. É uma checagem de dados com o presente, a única etapa razoavelmente dominável. Um confuso balancete de erros e acertos, a criação de um pedaço de uma nova cartografia de vida.
Trinta anos. Como isso é estranho. Ainda sinto mais o gosto da infância do que da maturidade. Se é que existe maturidade. 
Lembro perfeitamente das noites de lua cheia em que eu e meu primo desbravávamos as estradas de terra. Lembro dos perfumes que me faziam sorrir e das canções que me faziam sonhar. Mas lembro mal da semana passada, de como foi o mês, da última sexta-feira. Tudo parece é silencioso no passado-recente.
Trinta anos. Ontem, na casa de oração, o palestrante disse que algumas das nossas capacidades podem adormecer de uma vida para outra, redespertando no momento oportuno. Que precisamos de novas empreitadas a fim de uma evolução uniforme, que englobe muitas, até que por fim, todas as realidades. Faz sentido. Pensando em como somos  estranhos nesse ninho, faz sentido. Porque nada daqui é familiar, quase nada.
E embora exista essa imensa força, como a tempestade oriunda de uma erupção, estou estático. Não sei se de fato é, mas chamaria de paz.
Trinta anos. O tempo ainda não pesa, mas a memória, sim. Muito erro e pouco acerto para esse tempo. Muita cautela para evitar constrangimentos, muitas horas de sono perdidas para escolher o melhor caminho. Mas ainda assim: erros. Muitos erros.
Poucas coisas mudam com delicadeza. Algumas só se reafirmam ou só desaparecem no vento depois de um grande colapso. A gente percebe isso, por exemplo, depois do primeiro amor, da primeira decepção, do primeiro grande medo, da primeira profunda alegria.
Percebe como eles rasgam nossa mente ao meio? 
Metade do mundo diz que "sucesso" é ter paz consigo, com o que se tem e o que se é. Outra, que "sucesso" é chegar longe, e quando chegar, querer ir além. Nunca, jamais, de forma alguma, estar satisfeito. Ganha nossa atenção quem grita mais alto. E eles nunca param de gritar. Muita gente tentando provar suas fórmulas mágicas.
Esse bocado de gente presunçosa me exaure demais. 
Morrem de medo de assumir uma fraqueza, uma dúvida, um passo em falso. Como são cansativos. 
A humildade é a coisa mais elegante do mundo. Tenho certeza. 
Certo, vamos lá: o que será mantido e o que será cortado?
Tipo aquelas bombas de filme, sabe? Cortando o fio certo, desarma; o errado, bum! A coisa é: tá escuro, não dá pra ver as cores. 
Melhor correr o risco e cortar? Pior não correr o risco e deixar como está? Vai saber.
A gente tá cansado, vivendo a vida de forma errada ou isso aqui é assim mesmo, um pandemônio?
Não dá pra seguir o script. Não quando tudo é instável e torto.
Formatura aos vinte e dois. Emprego. Casamento aos vinte e sete. Viagem ao nordeste. Filhos. Almoço de domingo. Boletos. Tédio. Esforço para negar o tédio. Mais tédio. Não deu pra mim.
Vendo de fora as vidas normais parecem meio assustadoras também, de qualquer forma.
Ok. Qual o plano? Cansei dessa prosa doida.
Não dá pra ter planos... Nunca deu, por que daria agora?
Vai vivendo aí, respeitando os horários, os semáforos, os mais velhos, seus limites. Sem fazer muito barulho nem deixando com que percebam que você percebe tudo.
Por mais que negue, ainda tem alguma esperança do céu desnublar e a vida começar a dançar de forma menos desengonçada. 
Pode ser que alguém por aí também enxergue almas, e não corpos meramente animados. 
Talvez o mundo seja menos vazio do que se mostra.
Segura aí. 
Não corte o fio ainda.

12 de nov. de 2016

Sentença


As palavras não têm fim.
Elas continuam ecoando,
Continuam se transformando,
Como as águas de uma tempestade,
Que mudam de forma e de intensidade,
Mas nunca deixam de existir.

Contratos que o tempo não consome.
Promessas inquebráveis.
Bençãos e condenações eternas.
Eu me lembro de todas elas,
De cada uma delas;
De todos os lábios.

Embora elas já não comovam,
Não há esquecimento,
Não há silêncio.
Embora elas tentem enganar,
Embora eu saiba disso,
Sou todo ouvidos.

Em meio a um rio tóxico
Em que correm sentenças rasas
Que é a vida,
Alguma verdade ora ainda reluz,
E por ela eu bebo da água envenenada,
Na esperança de talvez sorver alguma cura.

10 de nov. de 2016

À deriva



Náufrago exausto
Agarrado com ódio e paixão
Ao podre pedaço de madeira
Que sustenta à tona
Sua carne ferida.

Vê o sol que nasce e morre
E que volta a nascer e a morrer
Enquanto tudo permanece imensidão e silêncio.
Nenhuma voz. 
Nenhum porto.

Flutuam sobre as ondas
Frágeis miragens.
Restos carcomidos de memórias e esperanças.
Tão próximos,
Tão inalcançáveis. 

Outros tantos condenados também a esse mar,
Já cegos pelo sol e pelo sal.
Iludidos por belos cantos malignos
Que os tragam às profundezas inclementes.
Já não acredita estar melhor que eles...

Segue à deriva,
Ao sabor das águas
Poluídas por sentimentos em decomposição.
E o sol já está a se pôr outra vez,
Aguarda a conhecida escuridão.


8 de nov. de 2016

Labirinto


Ainda ouço as canções que entoava do paraíso.
Ainda vejo tanto.
Uma paisagem ora repleta de sombra,
Ora repleta de luz;
Sempre a mesma fria e linda paisagem.

Ouço os estrondos das últimas esperanças.
Elas aterrizam violentamente sobre seus fiéis,
Dilacerando sonhos,
Contaminando a atmosfera com memórias tóxicas;
Eu, entre deles.

Meus dedos feridos,
Já exaustos de implorar a carne e o espírito, se contêm.
A voz rouca e inconstante,
Não declamará velhos poemas
Que um dia desabrocharam sorrisos.

Leva-me à presença dos últimos profetas,
Para longe da crueldade dos anjos!
Meus braços não erguerão mais espada e escudo,
Meu coração não sucumbirá ao novo fel da indiferença.
O espírito haverá de flutuar acima deste cruel labirinto.

6 de nov. de 2016

Belo crime



Apenas o silêncio a absolver,
A ver beleza nesses olhos,
A sorrir sem culpa
Diante dos nossos belos crimes.

A sonhos secretos
Ofereço a minha verdade.
E estamos lado a lado
Saltando da mesma altura.

E é tão alto,
O ar é tão rarefeito,
Mas eu sei:
A queda será apenas minha.

Não ressuscitei tamanha fé por nada.
Nem tudo deve ser muito claro.
Em plena escuridão
As estrelas brilham mais.

5 de nov. de 2016

Plano de viagem


Rota alterada,
Outra vez,
Outra esquina.
Até logo,
Até nunca mais.

Me embale em teus fartos cabelos,
Bela Deusa.
Dá-me o calor do teu seio,
A maciez da tua voz.
Meu sorriso, minha cura.

Não seria todo solo, sagrado?
Onde semeamos, amamos, sangramos...
Quem pode amaldiçoar ou santificar nossos caminhos,
Além de apenas e unicamente
Nossos passos?

Que pecados sustentam o mais belo de mim, de nós?
Que desejos, que medos, que culpas?
Não iremos para nenhum inferno,
Não iremos para qualquer paraíso,
Os atravessaremos, constantemente.

28 de out. de 2016

Disse a ela


Disse a ela:
"Tudo está conectado."
Enquanto observava o olhar triste da garçonete
Servindo a moça de alegria displicente.
"Há uma ponte que une todas as coisas,
Mesmo as mais distantes."

E uma memória fugidia
Passou bem ao lado.
"Tudo está conectado"
Ela me disse.
"Você, enfim, tem olhos de adeus."
E sorrimos à liberdade.

Todos os erros, dos ínfimos aos imensos,
São estrelas mortas,
Adornando as noites de silêncio.
Quando as luzes se vão,
Observamos nossa história cintilante
Num céu ainda cheio de tanto vazio.

"Não aceite menos que ter o coração em chamas."
Disse a ela.
O amor, a fé, o sonho,
Tudo precisa aquecer,
Queimar.
Não podemos correr o risco da lucidez.


Cegos


Tudo está, nada é. Fácil.
Mas o estar é eterno para aquele que está.
E as promessas dos positivistas
São tolas e inúteis
Como uma escultura de barro
Sob uma tempestade.

Por que sofrer pela sorte que os Cegos têm?
As chamas do mundo já ardem em qualquer face.
É heroísmo ou estupidez dar as costas a elas?
Cegueira todos temos, ou não viveríamos;
Se é que vivemos.
Escolhemos qual pesadelo enxergar.

A fome persiste, mais e mais voraz.
Egos famintos, bocas famintas, olhos famintos.
Sonhos famintos.
Cada qual com seu Estômago em sofrimento.
Esperançosa espera pelo Pão nunca dado,
Ânsias absurdas para saciar o que nunca será saciado.

Algemas nos pulsos de crianças.
Lacaios estufados, saindo de banquetes da nossa carne.
Mas melhore essa cara, dizem.
Já que vamos para o abatedouro, vamos sorrindo,
Empestilhando o mundo de mensagens fofas.
Bons cordeiros mansos. Resignados. Imbecis.

26 de out. de 2016

Sal da pele, sal dos olhos


A alma, antes viajora por tantas palavras,
Rios de palavras, mares de palavras;
Já apenas flutua, ébria e fascinada,
Ao admirar belas luzes.

Há algo de real neste sutil brilho
Que com carinho envolve cansadas esperanças;
Esperanças tão envergonhadas,
Acuadas por indiferenças vorazes.

O sal da pele, a claridade do sorriso,
A voz, o calor...
De não tão longe, sonhos acenam
Quase esquecidos do sal dos olhos.

Bravo coração, em riste!
Como uma nova vida, um broto,
Surgindo do fundo da terra escaldada,
No aguardado retorno da primavera.





20 de out. de 2016

Tudo não é o bastante



Logo as luzes partirão,
Mas não virá o silêncio.
Eles continuam lutando,
Eles não cessam.

Sirva a alma em generosos pedaços.
Entregue tudo, outra vez, tudo.
Mas ainda que tudo pareça tanto,
Tudo nunca será o bastante.

A realidade avança com voracidade.
Esses sonhos todos...
Que já pareceram imensos,
Não passam de migalhas em seus dentes sujos.

A esperança nunca partirá.
Velha e cansada, para onde iria?
Mas a quem consola com suas tristes expectativas?
Nunca, nada passará do que é.

11 de out. de 2016

Hoje é dia de Maria


12 de outubro tem o mesmo céu:
Imenso e delicado manto azulado,
Derramando chuva branda.

Ninguém sabe onde se perdeu aquela fé tão bonita,
Em que ponto se tornou maculada a alma que tanto sorria.
Mas a água salgada ainda rega os olhos d'alguma esperança.

Que batalhas ainda aguardam esses desafortunados?
Quão pesada será a espada que terão de levantar?
Quanto do seu sangue manchará a Terra?

Jaz a infância num quase esquecido tempo de luz,
Mas ainda rogamos alento, carinho.
Ah Mãe! Dai-nos um caminho!


10 de out. de 2016

Quem?


Deita um pesado manto de trevas sobre já frágeis esperanças.
Quem ouve nosso grito?
Quem cura nossa dor?
Quem mata nossa fome?

Demônios regojizam-se em suntuosos banquetes;
Nosso futuro servido aos pedaços para saciar víboras.
Quem em nosso socorro?
Quem em nosso nome?

Nos sonhos, o céu ainda é adornado por estrelas,
Por quanto tempo?
O coração ainda bate com a parca fé que resta,
Até quando?

Porcos adestrados sagram ideologias.
Papéis e imagens moldam as mentes vazias.
Bandidos blindados, resguardados.
Quem por nós?


8 de out. de 2016

Essa gente


Tem todo esse mundo aí,
Você sabe,
A gente vai ter que encarar.
Desde a primeira luz
Do primeiro dia
Vamos sendo preparados pra guerra.

Muita guerra, sempre guerra, guerra todo dia.
Mas tem gente que nasce assim, olhando pra outros lados,
Meio desviada, meio errada.
Vendo beleza onde nem tem.
Gente que não quer lutar,
Gente achando que pode sonhar.

Essa gente cava com as mãos nuas corações de pedra.
Perde a hora da largada,
O papel principal.
Atores sem público,
Sem aplauso,
Sem texto.

Gente coadjuvante, quase invisível,
De porta trancada, pensamento sangrando.
Gente que se esforça...
Mas que não dá com isso
Da vida ser um imenso campo de batalha.
Cheio de esperanças exterminadas, de memórias falsas.


Tão jovens



Somos tão jovens
Para pousar o olhar em memórias
Que ainda nem correm o risco
De caírem no esquecimento.

Ainda somos tão jovens
Para abrigar tanto medo e desesperança;
Falam de um mundo tão grande e bonito
Sobre o qual nunca flutuamos.

Quem será o primeiro a assumir que se perdeu?
Quem será o primeiro a assumir as lágrimas,
Silenciosas e quentes no travesseiro toda noite?
Quem será o primeiro a não querer ser um herói?

Ainda somos tão jovens para pensar no tempo;
Para viver tão consequentemente;
Para ter o coração tão endurecido;
Para ter o coração tão ferido.

7 de out. de 2016

Deserto



Um aroma que lembra santidade, uma canção, uma memória.
Um poema que se repete e se repete; águas que sobem e chovem.
Um minuto de silêncio por nossos sonhos.
Um minuto de silêncio por aquilo que desistimos.
Um minuto de silêncio por aquilo que desistiu de nós

Não está distante aquela estrada
Por onde passei sorrindo e cantando.
Era o fim de um inverno, o início de uma noite.
O que você não enxergou,
O que você pediu para partir, era meu melhor.

Mais um pouco e sentiremos vergonha das nossas luminosidades.
Até onde você iria por um abraço sincero?
Por uma pequena chama no frio de um deserto noturno?
Mas e se o deserto nunca esteve lá fora?
E se o deserto sempre fui eu mesmo?

6 de out. de 2016

Scroll down



Scroll down.
Quais são as últimas?
O país está um caos.
Pobres putas, nunca teriam filhos assim!
São ciclos, carmas, chacras desalinhados, transição planetária.
A dona Joana ainda faz benzimento?
Deus queira que sim!
Descer todo santo empurra.
Já subir? Nenhum cristão à vista!

Scroll down.
Esta foto pode postar! Esta sim!
Pareço mais jovem, mais feliz, mais vivo.
Pensando bem, não posta, não. Nem parece eu!
Vá descendo...
Quanta coisa bonita, né?
Ninguém se importa com sua viagem para Paris, viu?
Fazer inveja é tão retrô...
Alguém avisa?

Sroll down.
Ai, que chic!
Metade do país agora é gringo!
Oh, thank you, Sir!
Yes! Of couse!
This is all yours, you can take it all!
More champagne?
Education, security, health? Hahahahaha
Oh! Don't you worry! This is Brazil.

Scroll down.
Outro match! Agora vai!
Não... não vai.
O feio quer o bonito
Que quer o lindo
Que quer o maravilhoso
Que não quer ninguém: está acima de tudo.
Estava certo aquele que disse isso.
Por onde ele anda?

Scroll down.
Absorva informação, mais, mais...
Como o ar podre da sua grande cidade vil.
Não seja um imbecil, não seja massa de manobra,
Se informe, porra!
Depois engula o que puder de Rivotril
Esqueça que a realidade é uma bêbada de casamento,
Louca e inconveniente, estragando a festa finíssima,
E tente dormir se for capaz. Bons sonhos.

Scroll down.
Setembro amarelo.
Outubro rosa.
Novembro azul.
Vamos amenizar desgraças, vender souvenirs,
Gastar nosso tato teatral fingindo imensa humanidade,
Enquanto olhamos pra baixo na mesa do bar,
Ignorando o mendigo que nem iria de fato se aproximar.
Somos patéticos. Mais uma dose, é sexta, nós merecemos!

Scroll down.
Continue descendo, ainda não é o fim.
Ou já passamos do fim faz tempo?
Isso aqui é o limbo, isso aqui fede!
Mas mantemos a civilização, a fina estipe.
Nada de barracos!
Facadas, só pelas costas, por favor! Bons modos!
É, meu amigo, toda essa ganância e fingimento...
Somos gafanhotos famintos. Atrás de nós, só desolação.

Ao vento


Tanto quanto sinto, resiste. 
Este inverso eternamente apaixonado
Por uma primavera meiga, doce, 
De perfumes brandos e cores tamanhas...
Bem como a alma:
Esperança e desespero em uma dança infinita. 
Sem mais perdedores, sem vencedores, 
Viajores confusos, 
Aves sem ninho, 
Clementes por colo, aconchego, palavra.
Mas apenas vem o vento,
Os salgueiros dançam, 
Os poetas ficam em seus êxtases...
Memórias, sonhos, medos.
Ameaçando um último verso
Que é sempre o penúltimo
Porque a vida não deixa sentimentos intactos
Ela salva e condena
Ama e odeia.
Suga nosso tutano
E nos brinda com o elixir da vida eterna.
O coração ainda bate, 
Sujo, cansado, 
Mas tão belo.

5 de out. de 2016

Culpado pela resignação


Retomo o andar pelas ruas sujas e vazias
Com o vento frio de um inverno que nunca termina
Agredindo meu rosto em silêncio
Enquanto vejo com olhos embaçados
As luzes amarelas dos postes altos
Que não abrigam mais casais de namorados.

Retomo o pranto diante da consciência
Da minha absoluta solidão
E sorrio por ao menos a ausência
Ser plenamente verdadeira.

Ouço aquela cansada canção,
Vinda de uma remota época
Em que eu considerava minha alma mais pura,
Ainda que ela nunca tenha sido,
Ainda que desde cedo
Seus sentidos tenham se aberto ao pecado.

Me despeço da esperança, da luz, com resignação.
Minha voz não atormentará mais nenhum ouvido celestial.
Que os anjos repousem pacíficos,
Ignorantes da minhas inúteis obsessões.

4 de out. de 2016

Siga


O que dizem os fantasmas
Em resposta às tuas amáveis palavras
Adornadas de um delicado desespero
E de uma farta quantidade de nostalgia?

Nada, não é óbvio?
Depois de arremessar com força tua esperança
Rumo à profundidade indizível da noite
Ainda espera algum sinal, algum lume?

Como é feio este teu esforço em sentir dor.
Como são feias estas tuas rotas roupas de luto
Por sentimentos há tanto sepultados.
Nada do que foi será outra vez, jamais.

Poe em riste este peito,
E como todos os demais imbecis, siga.
Siga a encenação sem murmúrios.
Em nada além da tua memória o sonho e a glória.


3 de out. de 2016

Página em branco


Versos e tantos versos.
Vazão incontrolável de sentimentos,
Súplicas, louvores, memórias.
Quem ouve a voz ecoando pelas fendas do tempo?

Segue o contador de histórias.
Caminha pela terra pálida;
Quem tecerá o destino?
Quais dores, quais amores?

A poesia acena de longe,
Meiga e encantadora,
Frágil como a luz rubra do poente.
Eu sorrio de volta.

Ninguém mais se aproxima,
Mas as canções ainda encantam.
A magia de todas as coisas permanece,
Mas todas as coisas se foram.

25 de set. de 2016

Lapso


Outro fraco lampejo de esperança
A repousar no encantador relicário em ruínas
Que já foi um coração de força invejável.

Vê?
Ainda insistimos,
Como se não soubéssemos da verdade.

Ávidos ao degustar a oportunidade,
Famintos por sabores que não existem mais.
Que nunca existiram.

De tanto, de tão bela e profunda ironia,
Guardo um reles instante,
Minutos velozes.

Um lapso de dormência da realidade,
Em que fechei os olhos, tive o peito envolvido de calor,
Antes do despertar frio. Mais uma vez.

19 de set. de 2016

A poesia é eterna


Nunca fui ou tive a pretensão de ser escritor. E ainda que desejasse muito, certamente me faltaria o dom para tanto. O que sei é sentir. Disso nasceram lampejos poéticos, sendo generoso comigo mesmo; e quanto mais senti, mais necessidade de expressão eu tive. Por quê? Eu nunca soube. 
Sempre fui consciente de que o que eu dissesse não alteraria a realidade das coisas, e talvez não fosse mesmo esta a intenção. Talvez tudo tenha sido uma forma de protesto. Uma forma de provar meu contentamento e descontentamento, ainda que a ninguém isso fosse relevante. Uma forma de descrever o sabor da vida e suas nuances.
Qual a importância que isso teria para o mundo? Nenhuma, provavelmente.
Ainda assim insisti, palavra após palavra, verso após verso, documentando os raros momentos intensos de uma vida ordinária.
Com isso, cheguei ao meu décimo livro de poemas: “Penumbra”. De certa forma, o capítulo final de um processo iniciado em 2010 com “Em meu Jardim Secreto...”. Uma longa viagem através de sensações, observações e sentimentos.
A lição que este processo deixa é: não existe vida sem poesia.
Conheci o amor e seu desespero, o encanto e a desilusão, a esperança e a incredulidade; mas quando eu olhava os galhos do salgueiro dançando na brisa, todas as vozes silenciavam, e o Belo de todas as coisas voltava ao meu coração, como uma chama que nunca se extingue...
Tudo pode ser fugaz e inconstante, menos a poesia.
A poesia é eterna.

https://www.clubedeautores.com.br/books/search?utf8=✓&where=books&what=Marcos+Serafim&sort&topic_id

29 de ago. de 2016

LANÇAMENTO: Penumbra



"Penumbra" é o livro onde mais consegui libertar meu coração. 
Sem claridades que cegam, sem escuridões que tudo escondem.
É um sutil ponto de equilíbrio e sobriedade, onde cada sentimento, mesmo e principalmente os mais simples, são tratados com importância e delicadeza.
Estando distante do amor e do ódio, o que se encontrou foi a convergência de uma infinidade de outras sensações que até então eram reprimidas por essas duas forças. Chamaria de paz, por falta de melhor designação, mas não uma paz resignada, que tudo sofre e aceita, mas a paz de enfim enxergar nitidamente.
Em uma visão simbólica e otimista, a alma é criada na escuridão e caminha em direção à luz; o que estas páginas retratam é a fase atravessada entre estes dois pontos.

Disponível em: https://www.clubedeautores.com.br/book/216686--Penumbra





“Penumbra: fotografia” nasceu do processo de criação do meu décimo livro de poemas “Penumbra”. 
A música, o teatro, o cinema, a imagem; toda e qualquer manifestação artística, sempre me atingiu intensamente e serviu de inspiração, não só para minha escrita, mas para minha vida.
Longe de querer soar pretensioso, mas parafraseando Simone de Beauvoir, sempre senti a necessidade de transmitir o sabor da minha vida. Talvez não diretamente e principalmente aos outros, mas a mim mesmo. Um desejo forte de tornar “palpáveis” as sensações e sentimentos que absorvo.
Fiz meu melhor para expressar isso em meus trabalhos. 
“Penumbra” tem uma força especial sobre mim porque, ainda que a essência seja a mesma, talvez eu nunca tenha conseguido ser tão livre e entregue em algo que fiz antes.
Por esta razão o livro de poemas tem também sua versão fotográfica. Imagens que para mim ajudam a retratar as sensações que tive no decorrer do processo de criação. 
Não sou profissional da área fotográfica e não teria a arrogância de me apresentar como um fotógrafo, mas acredito que em tudo pode haver poesia, seja no corriqueiro dia a dia, seja através da criação das mãos e espírito de um artista. E de poesia continuo insistindo em falar, de alguma forma.
O que apresento aqui é a poesia que minhas palavras não puderam alcançar, mas meus olhos, sim. 

Disponível em: https://www.clubedeautores.com.br/book/216692--Penumbra#.V8TvsFQrIdU



20 de ago. de 2016

SP


Foi há dois anos, mas também foi ontem.
O sentimento crepita como uma fogueira eterna, inexaurível.
Luzes, automóveis, chuvas, penumbra. Eu, ali.
Ali onde um dia eu tinha a vida por entre os dedos,
E eu sabia para onde guiá-la;
Ali onde eu tinha você por entre os braços.
E sabia onde pousar o espírito,
Quisera, para sempre.

Naquela maldita cidade sagrada,
Abarrotada de tristezas imensuráveis e alegrias indescritíveis,
Eu era só mais outro apátrida perdido por ruas infinitas,
Por memórias que nunca se extinguem por completo.
A qualquer alguém confiei o segredo:
“Aqui jaz meu maior e único amor.”
E continuei com passos firmes, sem saber para onde ia.
Nenhum consolo seria válido.

Ao partir, deixei duas lágrimas.
Uma amarga e fria, porque todas as luzes partiram
E eu estava me comprazendo na escuridão.
Outra leve e doce, porque eu vislumbro uma centelha pequena,
Raquítica, dentro do um coração que bate aos solavancos.
Um dia toda aquela selva de concreto e vidro poderia ser um lar,
Meu lar. Nosso lar.
Mas hoje é um cemitério imenso de frágeis memórias
De onde eu tento partir de tudo que partiu de mim.

16 de ago. de 2016

"Havoc"



Sempre que eu pouso os olhos cerrados
Numa paz quase invejável;
Sempre que eu digo que estou forte o bastante
Para simplesmente não ter mais fé;

Você é o fantasma no quarto.
Você me arrasta para as memórias
Feitas de açúcar que construímos.
Mas agora está sempre chovendo...

Eu estou todo encharcado de coisas mortas e brilhantes.
Em algum lugar, de alguma forma você está vivo,
Mas também está morto;
Essa maldita ironia dos eternos finais.

Nesta noite, eu amo de novo.
Sou humano de novo e tenho saudade mais uma vez.
Mas junto do sol amanhã, com as ruas secas,
Nascerá a realidade, você será novamente apenas uma mentira.

‪#‎penumbra‬

13 de ago. de 2016

PENUMBRA


"Penumbra" é o livro onde mais consegui libertar meu coração. 
Sem claridades que cegam, sem escuridões que tudo escondem.
É um sutil ponto de equilíbrio e sobriedade, onde cada sentimento, mesmo e principalmente os mais simples, são tratados com importância e delicadeza. 
Estando distante do amor e do ódio, o que se encontrou foi a convergência de uma infinidade de outras sensações que até então eram reprimidas por essas duas forças. Chamaria de paz, por falta de melhor designação, mas não uma paz resignada, que tudo sofre e aceita, mas a paz de enfim enxergar nitidamente.
Em uma visão simbólica e otimista, a alma é criada na escuridão e caminha em direção à luz; o que estas páginas retratam é a fase atravessada entre estes dois pontos.

Em breve.

12 de ago. de 2016

Golpe


Ainda que uma suja nuvem marrom paire sobre a cidade,
Não terei o triste destino de viver de memórias.
Como um cão faminto,
Vagando por ruas sujas e úmidas,
Se alimentando de restos já apodrecidos.

Ainda que céu permaneça por trás tão azul
E eu ouça o canto feliz de pássaros livres,
Eu não sorrirei para a esperança.
Não aceitarei seus braços estendidos, 
Se são como luzes artificiais, frias.

Quero me juntar aos desgraçados, aos pequenos,
E entre lágrimas e suor gritar,
Gritar até que as palavras tenham a força dos martelos e das foices,
Para salvar, para consolar.
Eu quero de volta a vida que nos tiram aos poucos.

Suas faces decrépitas, inumanas, 
Assombram nossos sonhos mais que os demônios da infância.
Temos medo e exaustão.
Mas quem nos vê ainda de pé, nos admiraria.
Ninguém imagina a força de quem já não tem o que perder.

11 de ago. de 2016

O tempo passa lento


Que tenho a dizer que não saiba, que não sinta?
Se te serve, o céu é azul hoje, como foi ontem.
O clima é ameno e a luz de agosto torna bonita a cidade.
As crianças correm acreditando na liberdade, como deve ser.
As árvores parecem dormir embaladas pela brisa.
Não muito longe, os ratos tomam o poder,
Enquanto os desesperados tomam as ruas.
São tempos sombrios, mas de esperança,
O que me parece estranho.
Os poetas marcam o tempo com as batidas do coração,
E o tempo passa bem lento...
Talvez a poesia seja também isso:
A repetição do banal até se tornar sagrado.
Todos parecem cansados,
E todos estão.
Mas seguem lutando, 
Mesmo com passados e futuros tão densos no caminho.
Às vezes me parece que nem tudo é uma mentira
E eu sorrio tentando fazer uma oração sem palavras.
Ora sim, ora não, sinto fé...
Hoje ela tem cheiro de jasmins.