15 de fev. de 2022

 


Talvez ainda seja cedo para lembrar daquele breve instante em que era possível observar o céu profundamente azul que se abria no olho do furacão...

São imensuráveis as vezes em que o mundo acabou e renasceu em poucas dezenas de meses, e talvez esse nó que não sai da garganta há semanas seja o pranto contido, o pranto pelas horas de desespero e pelas horas de alívio, o pranto pelas vezes em que a fé partiu com a promessa de não mais voltar, mas que junto à luz do sol, bateu na minha porta na manhã seguinte.

Naquele breve instante com tudo girando ao meu redor eu podia ver meu reflexo nos estilhaços que feriam minha pele, e eu tentava dar nomes e culpados a cada parte, a cada ilusão partida, quando na verdade era tudo apenas eu tentando não ser capaz de dar a cura a mim mesmo. 

Mas quando os céus oferecerem outra vez mergulhos em calmaria, eu sonharei novamente com alguma voz, com algum entrelaçar de dedos. Substituirei os velhos poemas tristes por canções dóceis, plantarei novas flores que trarão novas cores ao cansado jardim. 

E, por fim, dos tantos estilhaços que ainda voam desgovernados, perigosos, quem sabe... farei o belo caminho a seguir em direção a dias que não irão mais nos ferir tanto.

14 de fev. de 2022



 É estranho como as imagens do passado foram perdendo suas cores, desbotando. E é estranho como aquele tanto de vida, que talvez nem fosse muito, mas emocionava, agora são apenas essas fotografias congeladas, que nada deveriam significar, mas que em tardes assim, bonitas até, com a luz escorrendo pelas paredes amarelas, ainda podem ferir, como adagas enferrujadas. 

São só tolos fantasmas que rodopiam junto ao vento calmo, eu sei... E de alguma forma absurda que sou incapaz de assimilar, tudo pode estar certo, em seu lugar. 

Daqui de baixo eu não posso ver que talvez os últimos tempos tenham trazido algumas lições que não viriam de outra forma, de uma forma mais gentil, e tudo bem ser difícil enxergar no reflexo difuso algo um pouco maior e um pouco mais belo do que aquilo que se mostra. 

Quem sabe tudo isso seja só a vida acontecendo...

A luz se dissolve agora para lentamente partir... E talvez minha imagem também seja como que um fantasma rodopiando pelos ventos da tarde de alguém. 

Não é só o meu coração a ser de carne,

Não é só o meu coração a sangrar,

Não é só o meu jardim a desabrochar flores que são incapazes de se tornarem  frutos. 

As distâncias todas ainda me assustam, e quase todos os sonhos se perdem nessas lonjuras; em algumas noites ainda é preciso acender as luzes após pesadelos, e orar por proteção,

Mas de não longe minha mãe sorri e para amanhã o dia promete novas flores, ainda que estéreis, no jardim;

Hoje a cabeça encostará nos travesseiros sem grandes culpas,

Então os fantasmas, quase todos, adormecem feito a tarde que se finda.

Bebemos todos de uma doce trégua, e cantemos mais uma vez uma querida canção... 

Este sou eu tentando.