21 de mar. de 2022

 


Manhã de outono

Talvez a primeira ou a segunda,

E apenas um pequeno verso,

Pobre,

Quase bonito,

Com alguma ternura: 

Hoje o tempo não me dói.


E os que aqui me falam dos dias melhores

Ou dos dias piores

Não me convencem. 

Pois basta que o tempo hoje não me doa,

Basta,

Por ora,

O canto adocicado do vento que sopra.

8 de mar. de 2022

 




Os últimos resquícios do gosto do que pareceu ser amor parte dos lábios

Algo do pouco que ainda havia

Se dissolve no cruzar das mesmas quase eternas esquinas 

No silêncio que reina intocável 

Nas ruas de olhares frios 

Mesmo depois de tantas palavras

Tantas

Tantas palavras

Sentenças intermináveis

Páginas em centenas

Promessas eternas

Preces 

Mas apenas despedidas então 

As lembranças dos adeuses

O eu não posso mais 

O quem sabe em outro momento 

E é mais do que solidão isso tudo nessa sala em desordem 

Com sapatos falsificados jogados pelos tapetes velhos

Essas memórias tão fracas que desapareceriam a um toque

É mais do que ausência isso que decora um cenário em decadência 

Do que antes fora um jardim exuberante

Mas que eu conservo as auras como se de algo valesse 

Porque é tudo o que parece restar

E observo esses contornos como se abrigassem algo real

E eu entoo breves canções de tempos menos densos

E apago as luzes 

Outra vez

Apago as luzes.

3 de mar. de 2022

 


Semear palavras pelo sol

Mais uma última vez

Para que o silêncio insalubre 

Não preencha de fantasmas os últimos cômodos 

Onde ainda danço a nossa velha canção 

Que você não sabia ser também sua.


Falar dos sonhos a ouvidos distantes

Mais uma última vez

Porque após a chuva era tão bonito 

A bonança descendo aos campos 

Retraindo minhas pupilas já cansadas 

De tempos de tão pouca beleza.


Caminhar pelos mesmos caminhos idênticos 

Mais uma última vez 

Na tola esperança de algum encanto pelas esquinas esquecidas

Algum olhar mais profundo 

Antes de tudo passar

Antes de tudo se tornar apenas noite e passado.