28 de out. de 2012

Estarei bem aqui



Não sei se o mundo ainda precisa de poesias de amor.
Não sei se o mundo precisa de alguém que ainda chore para a lua.
Não sei se o mundo ainda precisa de alguém que ainda ande lentamente pelas ruas sentido a noite, os perfumes sutis, os ventos ligeiros.
Na verdade eu nunca soube de muita coisa...

Mas eu sei que mesmo que as estrelas não se mantenham mais no céu, 
Mesmo que o sol não brilhe mais, ou brilhe muito,
Mesmo que as chuvas sejam fortes ou fracas demais,
Mesmo que as noites sejam longas ou curtas demais...

Enquanto você precisar, eu estarei bem aqui.

Enquanto, em algum momento do seu dia, ao se lembrar de nós, você sorrir, eu estarei aqui.
Enquanto você minha presença levar algum calor ao seu peito, eu estarei aqui.
Enquanto seus medos forem, mesmo que parcialmente, embora após um abraço meu, eu estarei aqui.

Você, tão gentil e simples, sempre colocando as palavras nos lugares certos, sempre me tocando nos pontos importantes mesmo que eu não diga quais são eles.
Você que é minha luz mesmo quando nenhuma luz consigo ser.
Você que é minha força mesmo quando nenhum músculo consegue se mover.
Você que é minha paz mesmo quando minha alma grita.
Você que sempre sabe como me salvar de mim...

24 de out. de 2012

Aqui comigo


É quase meia-noite, mas se eu abrisse minha janela sei que veria o sol, pois sua face sorridente está sempre diante dos meus olhos.
E eu preferiria, meu amor, ser para sempre o mais paupérrimo dos artistas de rua pelo resto dos meus dias para estar em seu caminho quando de sua casa sai e lhe entregar flores e poemas açucarados no farol, do que ser o fabuloso filósofo, tão coerente, que passa a vida toda lutando para provar que a vida não faz sentido.

Ela faz, porque você está aqui comigo.
Ela faz, porque posso não ter muitos objetivos, mas tenho muitos sonhos.
E não pense em sonho como algo imenso, pense em sonho como algo leve.

Por exemplo, sonho que amanhã chova um pouco, mas não muito, o suficiente para amaciar a terra e trazer à vida aquelas pequenas sementes que enterrei.
Sonho que as pessoas entendam o que os outros têm condições de ser e oferecer, e que não exijam mais do que  isso.
Sonho que às 23:07 você me ligue, me fale do seu dia, diga que está tudo bem.
Sonho em acariciar o bichano, deixá-lo dormir sobre meus pés por alguns minutos.
Sonho coisas simples, coisas fáceis, pois o amor de todos os sonhos já realizei.
Você está aqui comigo.
Não seria certo querer algo mais.

18 de out. de 2012

Céu claro, chão escuro




Não somos nós; acredito no que temos.
Não é o céu; vejo nele tanto azul, tanta luz.
Não são as pessoas; as pessoas são sempre as mesmas, idênticas, em todos os cantos.
Não é este lugar; gosto do que vejo ao redor, dos perfumes, das brisas, das flores humildes.

É a situação.
É meu corpo pesado – embora tão leve – que enverga rumo ao solo a minha alma pálida.
São nossas ganâncias.
Essa necessidade absurda de ter, conseguir, chegar; e tão pouco ser.
É estar atado ao chão ainda lembrando-me do sabor dos ares ao flutuar.
São as noites que meu espírito tenta fugir, mas sem saber como, sem saber de quem, sem saber para onde.
É meu medo de fazer as escolhas erradas, de lutar pelas causas vazias.
É meu desespero em perder meu tempo na tentativa de alcançar o inglório papel que todos acreditam ter a obrigação de representar.

É meu cansaço.
Meu cansaço diante das mesmas canções, dos mesmos ruídos, dos mesmos caminhos.
Meu cansaço diante da pobreza das palavras que jamais serão fiéis ao que realmente fervilha aqui dentro.

Ainda me lembro de quando todos meus sonhos eram numa tarde de verão.
Ainda me lembro que enquanto abria os braços – flutuando próximo às nuvens – eu sorria.
Sorria como se estivesse em casa, como se além do vento e do sol nada mais existisse, nada mais fizesse falta.
Mas os anos passaram, verdades tornam-se ilusões e ilusões tornam-se meias-verdades.
Vamos ficando densos, escuros, medrosos e quando percebemos já é tarde demais, perdemos a capacidade de voar.

Mas ainda que eu já não voe mais; hoje houve aquela que me abraçou, sem saber que tudo o que eu precisava era exatamente de um abraço.
Há o bichano gordinho com seus olhos de mel se enroscando em minhas pernas.
Haverá aquele que me desejará uma noite de sonhos bons, e um dia seguinte cheio de luz.
Então, quando eu penso nessas coisas simples, dá uma baita vontade de continuar em frente, mesmo que seja apenas com meus lentos pés cansados.


16 de out. de 2012

'Tudo bem'




Eu continuo acreditando que no fundo ainda existo em mim.
Continuo acreditando que as últimas estiagens, passadas ou não, não foram longas o suficiente para minguar meu Jardim.
Mas será?
Será que quando as chuvas voltarem junto ao verão;
Será que quando os pesadelos partirem;
Será que quando os medos forem menores;
O coração será menos frio e denso?

Por quanto tempo conseguirei continuar consertando as coisas que se quebram?
E essas minhas palavras natimortas? Porque insisto em parir esses pedaços de mim?
Se ao menos servissem de adubo para um novo Jardim...

Confesso que não sei se posso e quero ser o que precisamos que eu seja.
Se não tivéssemos que provar nada a ninguém o mundo seria muito mais verdadeiro...
Se não tivéssemos que impressionar ninguém o mundo seria muito mais belo...

Já me acostumei com as janelas fechadas,
Com o gosto amargo nos lábios finos,
Com o cabelo desarrumado.
Já me acostumei em dizer ‘tudo bem’ quando você não vem.

‘tudo bem’
Está sempre tudo bem, mesmo quando não.
Pois no começo podemos ser frágeis, dóceis, indefesos;
Mas não para sempre.
Em algum momento é preciso crescer.
Em alguma linha a poesia tem de terminar.
Em algum instante as feridas têm de cicatrizar, estejam elas ainda latejando ou não.
Em algum ponto, por mais bonita que um dia tenha sido, a magia deve partir e ser substituída pelo prático, pelo razoável, pelo real.
Como se tudo isso fizesse da vida, da carne, do caminho, algo menos penoso.

Mas eu espero que um dia, um dia não muito, ou muito, distante,
Eu ainda esteja aqui.
Mesmo que soterrado por toneladas de bobagens que deixei se alojassem em minha alma.
Que eu ainda me encontre e que eu ainda possua luz, que seja leve e principalmente:que eu ainda seja eu.




11 de out. de 2012

Lapidável


Não importa o que aconteça,
ainda há o vento soprando lá fora.
Ainda há alguma coisa com sentido,
ainda há um lar, não tão longe daqui.

Em meu silêncio sou tão eu,
em meu silêncio voo tão alto.
Além dos números, dígitos e concretos.
Voo com brisas, com perfumes, com flores.

Cada golpe torna-me menor,
cada gesto de desprezo.
Cada palavra não pronunciada,
cada decepção.

Cada afago também torna-me menor,
cada esperança que reacende misteriosamente.
Cada gesto gentil e despretensioso,
cada sorriso sincero.

Pois não passo de pedra bruta,
desconhecedora do próprio âmago.
Cada corte, cada pancada, extrai - me uma lasca desnecessária.
Vou sendo lapidado.

Que assim seja, que assim continue.
Que prossigam belezas e tristezas,
Que prossiga o amor e a dor.
Um dia tudo isso me fará reluzir.

8 de out. de 2012

O caminho não é longo por acaso


Eu olho o vidro embaçado e tento encontrar alguma beleza nesse reflexo tão frágil.

Talvez eu não devesse ter sido sempre tão gentil.
Tenho sido amargo.
Talvez eu não devesse ter acreditado que vagalumes iluminam a noite.
Tenho sido escuro.
Talvez eu apenas continue o mesmo.
Tenho sido tão pouco eu.

Me perdoe por não saber onde tenho te machucado.
Eu deveria saber de tudo.
Eu deveria ser tudo.
Ou ao menos ser um pouco mais...
Eu deveria entender que nem sempre deseja estar aqui... 
eu também não desejo sempre estar aqui.

Não, não são os ruídos da noite que me causam pesadelos.
São os meus ruídos, são os meus passos que um dia foram tão errados.
Eu entendo que não entenda, talvez eu também não entederia.
Eu nem sempre me perdoo.
Nem sempre meus heróis me socorrem.
Nem sempre a voz dos meus anjos me consolam.

Faz tanto tempo, lembra? 
Faz tanto tempo que não passamos lentamente pela estrada de eucaliptos.
Lá no fundo o perfume é tão bom.

Porque agora você corre tanto, meu amor?
Nunca chegaremos a lugar nenhum...
Nunca perderemos tempo...
Nunca chegaremos cedo ou tarde...
Não existe tempo ou espaço.

Esqueça das mentiras que seus olhos contam.
Ignore a realidade.
Já disse o poeta: essa realidade é mais vulgar das mentiras.
Não, o mundo não é redondo, nem gira.
Porque queremos tanto saber e ter o que não precisamos?

Eu não posso, me desculpe. 
Eu apenas não posso andar sem olhar para todos os lados.
Eu apenas não posso me preocupar apenas com o que tem no fim dessa estrada.
O caminho não é longo por acaso, 
As flores não estão ali por acaso, 
os sorrisos e os perfumes também não.
Eu preciso sentir tudo isso.
Eu preciso olhar com carinho para os iludidos, mas não preciso ser um.

Mas continuaremos em silêncio;
Como se nada doesse em mim ou em você,
Pois é tudo intocável e perfeito demais para conter algum erro.
Continuares em silêncio, até que as próximas lágrimas nos despertem.

5 de out. de 2012

Danço com minha noite


Os acordes entram; adagas afiadas.
Uma dor deslumbrante.
Não chorarei, não é tão grave, não dói tanto...
É apenas o coração endurecendo.
Apenas uma ligação não atendida.

A noite ameaça, seduz, sorri, perfuma.
A noite de uma primavera meretriz.
Você sorrindo, olhando para tão longe de mim.

Eu tão errado, eu tão errado.
Visto minhas melhores roupas, mas você não virá.

Mas a noite veio e ela dança comigo.
Enlaça suas pernas em mim, gira, olha em meus olhos.
Já não resisto, cantamos então a mesma canção.
Ando pelas ruas repletas de gentes vazias.
Ando pelos caminhos tão secos.
Mas a chuva foi há pouco, tão pouco...

Eu não te disse que quando acordo com medo é tua voz que busco.
Antes de minhas orações. Antes dos meus anjos.
É você que busto.
Eu não te disse que minha dores não são mais palavras,
São pedras que se acumulam, formando barragem
Para os meus sentimentos mais belos.