27 de jan. de 2017

Canção d'água



Não há saudade nos cantos do mar.
Os tons suaves não ferem...
Eles embalam gentilmente um coração regresso.

Nada a perder em águas frias e profundas;
Teus olhos.
Os pés afundam na areia morna.

No infinito horizonte azul, a tempestade passada.
Rugidos frágeis, distantes.
De que serve tua compaixão, já não me importa.

Corro livre e só por uma orla iluminada agora,
E de tudo que era tanto, nada resta.
A alma flutua.

A Paz, elegante senhora, sorri.
Como uma mãe, acalenta-me em braços perfumados.
Dos olhos, escorrem alívios.

Enfim, livres;
Eu, nós;
De mim.

19 de jan. de 2017

No âmago do oceano



No âmago do oceano
Cujas águas nunca me queimaram
Tendo os olhos beijados
Por cores macias
Que sorriam e envolviam
No bailar sublime da profundeza
Regado aos fractais luminosos da superfície
Tanta imensidão apenas minha
Sem palavras
Tratados
Promessas
Nada a ser quebrado
Nada a dizer adeus
Nenhum espaço para outras lágrimas
Nenhuma cicatriz
Apenas a alma dissolvida
Em água
Luz
Sal
E o sagrado silêncio
Como de uma catedral submersa
Sacramentando cada partícula
Do infinito instante
Desacorrentado do passado e do futuro
A paz magnânima de nada ser e tudo estar
Do âmago do oceano
Tão morno e belo
Nunca me deixe emergir.


18 de jan. de 2017

Enquanto não amanhece



Tamanha inocência
A saudade daqueles caminhos
Que nunca foram de fato dos meus passos.

Tamanha tolice temer o futuro
Que em tudo será como o passado;
Novos maltrapilhos dias.

Frágeis cintilâncias...
O sonho que é resta
É ter de volta o sonho.

E é tão cedo para manter o olhar
Tão mais ao chão que às estrelas.
Só que chove, chove.

Pesados escombros
Escondem as relíquias da alma.
Apenas vozes fracas vêm do fundo.

Tantas missivas de socorro sem resposta.
Vamos poupar os dedos, as palavras,
Adormecer até o retorno do sol.