31 de ago. de 2014

Distância


Peço a Deus coisas que ele pede a mim.
"Troque os muros por pontes, Senhor,
A saudade, por esquecimento."

Peço a Deus, mas não em tom de oração.
É como o "ai!" gritado pela dor.
Dor insana, autoflagelação.

As estradas me doem... 
cada quilômetro, cada prédio, cada árvore.
Mas não são as estradas, são as distâncias.

A distância que a roda da vida percorre,
Amassa, deixa para trás.
E eu choro.

Choro e suplico. Como se o choro curasse e a súplica fosse ouvida.
Nada cura, nada ouve-se.
Tudo houve.

Lembro também de nomes.
De vilas, cidades, megalópoles, flores, anjos e passarinhos.
Tudo isso dentro de mim ocupando tanto espaço.

E eu sobro, eu sou espremido e escorro pelas frestas. Dilacerado. 
Que significa essa dor, meu Deus? (agora é uma oração).
Que sentido tem carregar memórias?

Enfim entendo o porquê de tudo ser esquecido quando mergulhamos na carne:
Não é por conta dos pecados, ou erros, ou angústias pretéritas,
É pelo Belo. Pelo Belo que se perde na poeira dos séculos. Ou dias.

Quanta lonjura percorremos em vida e em morte...
Não ferem as assombrações, os pecados, as trilhas erradas,
Fere a Felicidade; o adeus que, de tempos em tempos, damos a ela.


De "Ex-voto".


30 de ago. de 2014

Criança


De nada serve a escuridão da estrada e a velocidade na estrada,
Nem a lua que sorri simpática como menina feliz.
O mundo ao redor não existe.

Embora eu visse as árvores, os reflexos,
Embora eu ouvisse os barulhos, os cantos dos pássaros noturnos,
Embora eu sentisse o frio, e o calor,  o perfume.

Nada há.
E mesmo tudo que há, soa vão,
sem nexo, não conectável.

Não haverá mais lamentos por memórias,
Não haverá mais lamentos por dias cristalizados no passado.
O lamento é pelo silêncio dos anjos, pelo barulho dos fantasmas.

Mas oh, pequena alma!
Que sabe da dor, do medo, da lágrima ácida?
Criança cega de desespero por seus brinquedos partidos!

Criança tola que tenta colher nuvens e comover heróis.
Enquanto o mundo é isso, nada além disso:
Vazio.


De "Ex-voto".

29 de ago. de 2014

Sala de Milagres


Repouso meus pés cansados neste Solo Santo, Senhor.
Venho depositar mais uma relíquia.
Uma memória das mais profundas, das mais fortes, das que mais queimam.

Dentro do Santuário da minha Alma, há esta Sala de Milagres.
Deixo, delicadamente, mais este ex-voto.
Meu frágil coração de pedras e flores.
Não exatamente uma desobrigação, mas algo que necessita repouso.

Ainda que não exista santidade em mim ou em meus passos,
Ainda que sejamos tortos, cambaleantes,
como mariposas confusas com a luz e temerosas com a escuridão, 
Há o Divino também construído entre minhas sujidades.
Há Comunhão. 

Existe o fim, Senhor?
Tantos dizem que sim. Que o passado são águas que jamais retornam.
Se enganam, eu penso. Até mesmo águas passadas retornam, sob alguma forma.
Mas acredito mesmo que a existência é um livro escrito em tinta eterna.
Se muito, o que consegue-se é virar a página, jamais apagar qualquer coisa. 
A Alma tudo guarda, mesmo o que por tão pouco permanece em seus braços.

22 de ago. de 2014

Última quase ode


Poder ver novamente as estrelas fincadas no firmamento me faz crer:
Esta é a última quase ode ao amor que se foi.
Por ser profundo conhecedor da noite preta,
sei quando se aproxima a alvorada.
Por tanto pranto, por tanta ausência de ar, por tanta dor,
sei quando a cura parte de terras distantes para caminhar em minha direção.

Pudemos compartilhar nossas canções de amor,
ver o céu sem perder o equilíbrio, pois o abraço nos mantinha firmes.
Pudemos acreditar que o mundo é um pouco gentil,
que viver não é apenas sobreviver às horas mortas.
Por um instante, havia eternidade e conforto e possibilidade.
Havia felicidade.

Foi como uma bela canção interrompida,
o fim.
Uma bela canção interrompida naquela melhor parte,
naqueles versos que são os primeiros a gravarmos na memória.

Eu enxergo o acúmulo de dores.
Entendo como a vida é capaz de penetrar suas mãos sujas dentro da nossa alma só para arrancar nossas esperanças.
Eu enxergo, até o invisível.
Eu ouço, até o indizível.

Eu senti seu amor se despedir, lentamente.
Foi se desconstruindo, se fragmentando, se diluindo... 
junto dos dias de angústia,
das semanas secas e cinzas, 
do vazio.

As palavras, sempre no passado, comprovavam minhas previsões doloridas.
As lágrimas que escorreram sem que eu me preocupasse em secá-las
- pois após elas viriam mais outras -
comprovavam a profundidade das raízes do sentimento

Não falam muito sobre o que acontece após os fins,
Após passarem furacões ou a terra ser rasgada por terremotos.
Falamos tanto mais das perdas, das dores, do insubstituível.
Quase não se ouve sobre as romarias,
sobre os fios de esperança que escorrem dos escombros,
dos lampejos de fé que brotam da tragédia.

O adeus existe como uma dor íntima,
mas já parece menos horrível.
Precisa parecer.
Ele finge ser uma pintura triste pregada na parede.

Conviver com a memória do perfeito que se foi
é tão intenso quando conviver com a memória das assombrações
que nunca partem completamente.
Mas em um dia, ou em uma noite, a memória do perfeito traz um sorriso
que se dissipa na brisa.
Traz um afago, e não mais um aperto.
Uma recordação,e não mais uma fonte de tortura.
É a aceitação. Um dia ela tem de vir.



21 de ago. de 2014

Ex-voto


Nem fé o bastante eu tinha pra poder conjurar promessa,
então eu só disse, bem baixinho: 
"Senhor, se meu coração voltar a bater, até sorrio de novo."
Os anos já passados não me permitiriam barganhar com Deus.
Que Ele pode querer de mim, 
que não seja um pouco de felicidade nessa Terra tão confusa?

Que forma eu esculpiria para oferecer aos seus pés?
E que pés, se tudo é Deus?
E o que mais doía?
Que forma teria a saudade?
Que forma teria o amor?
Que forma teria a alma?

Mesmo sem forma, 
é tudo que doía, é tudo que sentia.
Nem parecia haver noite, 
com as mesmas estrelas cravejadas no céu,
com o mesmo perfume de Damas da Noite,
com o mesmo manto de veludo envolvendo os sonhos,
partidos ou inteiros.
Até agosto, esse mês esquisito que só, começou pelo fim,
pelo nosso fim.
Tudo precisava de cura...

Aceita então, meu ex-voto, Senhor:
eu mesmo.
Meu espírito remendado,
sujo, triste,
e limpo e feliz,
descrente, indiferente,
e esperançoso e dedicado.

Me aceita, Senhor,
ainda que ninguém mais.
Pois ninguém mais vê o que realmente há de ser visto;
nem eu, Pai, nem eu me vejo.

Não modelei parte doente enfim curada;
o coração não morreu, só acelerou, só quase parou.
Foi ao céu e voltou.
É forte, saudável. 
Agora não dói, não grita, não lamenta.
Só há o vazio, o velho amigo.
Amigo daqueles que sabe dizer e sabe silenciar.
Sabe os limites.

E todo esse vazio permite a entrada da noite,
da canção, do olhar, do sabor, das flores do ipê.
Voltará a ser de todas as coisas um coração que era de apenas uma.
Voltará a querer todas as coisas um coração que só queria uma.

Já não há pranto, nem palavra.
Há de volta a poesia.
A poesia que ofereço em poema.
O poema... também meu ex-voto.

O Senhor atendeu todos meus rogatórios, Pai.
Fez luz e fez sombra quando precisou fazer.
Há cansaço em trilar tão rudes veredas, 
mas há também gratidão.

Obrigado, Pai.
O maior (ou único) sonho foi realizado.
Perfeito como no pedido.
Só acabou... não choro mais.
Repito,
Obrigado, Pai.

20 de ago. de 2014

Abro alas


Abro alas, deixo a Dor passar.
Ela desfila, soberana, pomposa, uma majestade.
Eu, como se fosse sua fiel súdita,
atiro pétalas de rosas amarelas ao vento que lhe oscila os cabelos;
me curvo solene.
A Dor passa fingindo compaixão, humildade,
Enquanto finjo que acredito em suas qualidades.

Abro alas, deixo a Esperança passar.
Tão bonitinha, a esperança!
Se acha muito útil, a boba.
Cheia de sorrisinhos e acenos.
Não ligo, aceno de volta, sorrio também.
Suas intenções são as melhores...
Se ela vier dizer algo, saio é correndo!

Abro alas, deixo o Sonho passar.
Grande e forte! 
Reflete as luzes solares e lunares.
É corajoso e belo com uma harpia. Feito para os ares acimas dos ares.
Só quando ele atravessa, eu vejo: tudo fantasia.
Quem conduz tamanho espetáculo é um pequeno e delicado menino.
Sinto compaixão. 
Finjo que não vejo sua fragilidade e presto honrarias.
Ele faz seu melhor.

Abro alas, deixo o Medo passar.
Anda espalhafatoso, caminha incertamente, contamina o ar com seu cheiro pútrido.
Suja o sagrado tapete em que pisa com seus restos lamacentos.
Sussurra mentiras e verdades misturadas, confunde tudo!
Observo com cenho fechado, ele não foi convidado.

Abro alas, deixo a Vergonha passar.
Outra intrometida, penetra.
Em tudo se mete, a maldita!
Nem escondo meu desgosto e desprezo por ela.
Só não a insulto por educação.
Ela passa, lenta e rastejante... sempre foi dramática.

Abro alas, deixo a Saudade passar.
Coisa das mais imprevisíveis, a Saudade;
Ora faz rir, ora faz um pranto dos infernos rolar.
É uma dama de ferro. Dura e meiga.
Ela estende a mão... vou cumprimentá-la,
a Razão me segura.
Pois é, a Razão, quem diria, veio também.

Então chega o ilustre dos ilustres, o mais esperado...
Abro alas, deixo o Amor passar!
Caminha trôpego e em farrapos; ele, o verdadeiro e único nobre.
Parece sempre se cobrir com trapos,
Embora não negue as vezes que se vestiu de perfume e flores.
Vou até ele e ofereço abraço afetuoso, choramos um pouco, só um pouco.
Nada mais precisa ser dito.
Eu vi o imenso castelo que ele e o Sonho construíram com as próprias mãos.
É persistente, o Amor. Obstinado; verdadeiro, mas ingênuo, pobrezinho.
Seu castelo desabou, e ele ainda residia lá dentro, pensando estar em seguro abrigo.
Feriu-se, sofreu, clamou socorro... quem acudiu? Quem compreendeu?
Uma mãe, apenas. Uma outra generosa mãe...
Acolheu-lhe nos braços, disse-lhe palavrinhas de conforto,
até que ele tivesse forças de voltar.

Todos entram.
Recolho o tapete estendido com esmero aos meus sentimentos.
Tapete vermelho escarlate: meu coração.
Todos voltam aos seus lugares aqui dentro.
Eu, Alma, recebo a todos, mais uma vez.
Uns com mais prazer, outros com bem menos...
São todos meus frutos...

19 de ago. de 2014

Cataplasma


Desperta com um murro a ferida que parecia jazer pacífica.
Escorrem líquidos quentes, amargos...
Dos olhos, da ferida.

Rompe-se novamente a represa de palavras.
E digo, e canto, e imploro pelo que já não deveria.
Novamente o silêncio explica: acabou.

Mas a ferida latejando não me deixa esquecer.
Insisto. Mais silêncio...
Persisto. O silêncio grita!

Repouso, enfim. Qualquer sofrer exaure. 
Noite curta, estranha, sem sonhos, sem pesadelos.
Nada. Mais nada.

O escorrer de líquidos cessa. 
Mais um dia limpo do vício da presença.
Mais um dia morto, apesar de vivo.

Morto como são as palavras oferecidas.
O olhar oferecido.
A mão estendida...
Flores, ervas, arrancadas do jardim,
colhidas sem dever.

Começo a partir, quebrar, triturar tudo o que murcha sem vida.
Canção, poema, pedido, sonhos.
Faço um cataplasma e coloco sobre a ferida.
Ela passa a latejar menos, a torturar menos.
Ao menos por mais um dia.

18 de ago. de 2014

Incomparável


Não fui eu que descobri, foi Lygia:
O amor é como uma bolha de sabão.
Coisa bonita e frágil demais para existir por muito tempo.
Flutua no ar como um encanto, e como por encanto se desfaz.
Fica só a memória; ela sim, tantas vezes firme como aço frio;
pesadíssima, tão diferente da bolha de sabão.

Comparações não faltam, na verdade:
Pela manhã pensava que amar é como patinar em um lago congelado.
Enquanto se está patinando, a sensação, creio eu, deve ser de voar;
o mesmo que amar.
Desata-se dessa carne bruta e se é um pouco de anjo prematuramente.
Mas um deslize, um morrinho de gelo, um desiquilíbrio, te leva ao chão.
Porém, não existe chão, há o gelo que se parte e há o mergulho indesejado na escuridão morta e gélida abaixo.

Buscamos comparações para o amor; 
Lygia, eu, todos os poetas e todos os que pensam não o ser,
porque não podemos definir algo que ainda ultrapassa nossos sentidos primitivos.
É como se o amor fosse um descuido de Deus,
Uma benção gigantesca demais para seres tão miseráveis;
Ou tivesse caído nessa Terra por engano, por acaso, e no fundo não nos pertencesse de fato.
Mas sua presença, embora indefinível, é inegável.

Podemos facilmente rotular outros sentimentos.
A paixão, por exemplo, pode ser o desejo fortíssimo agindo através dos corpos.
A amizade, é o querer bem, o estar longe, mas perto. É estar conectado tão firmemente, mas sem correntes.
A saudade é a memória fazendo maldade...
Mas o amor... o que é?

Meu coração diz: eu ainda amo.
Mas não dizem os sábios que o amor é a sublimidade da alma humana,
dispensando até a presença para que exista e traga a felicidade?
Ou os sábios não são tão sábios assim ou eu amo errado.
Existe "amar errado"?
Dizem os sábios que o amor não traz tristeza.
Nisso acho que estão certos.
É a ausência dele que traz.
E como.

Despedir-se do amor equivale a um acidente automobilístico,
mas sem vítimas fatais.
Sente-se aquele fragmento infinito de tempo antes da colisão,
Cega-se pela luz forte oposta,
Ouve-se o estrondo,
Enfim o mundo parece que chegou ao fim.
Mas existe um depois, existe a dor, as lágrimas, a imobilidade,
o grito mudo por socorro, que parece nunca chegar...


14 de ago. de 2014

Ciclos


Veio ontem a primeira chuva após a longa e triste estiagem;
estiagem que se fazia lá fora, secando as roseiras e matando as flores mais sensíveis.
Veio ontem a primeira chuva após a longa e triste estiagem;
estiagem que se fazia aqui dentro, desde a partida, desde o naufrágio, desde o grande pranto.

Regressaram algumas nuvens, quem diria?
Acariciaram a terra com uma umidade humilde.
As roseiras agradecem.

E aqui dentro, onde tudo existia com dor,
senti algo sorrir.
A esperança não foi, tampouco o sonho;
pedi-lhes uma trégua, um espaço indefinido de distância.
O que sorri não sei, mas sei o porquê:
Sorri por estar limpo, ou quase.
A chuva voltou, levou embora o máximo que pôde da fuligem,
das cinzas, dos destroços de tudo o que sobrou após o coração ter entrado em erupção.

As águas foram carregando... o bom, o ruim.
Deixando aquilo que antes se parecia com belas montanhas escarpadas
como uma planície pacífica onde repousam sementes adormecidas.
A primavera não deve tardar...

Novamente,
Sei que sumirá a claridade,
Sei que sumirão as nuvens
e o pranto contido de dia irromperá por muitas noites ainda.
Não somos tão diferentes,
eu e a Natureza.

Ciclos: vida, morte, ressurreição, florescimento, fruto, apodrecimento. 
Sabemos o que nos poluiu e o que cuidou de nos salvar.
Sabemos da divindade das borboletas e abelhas;
o simples que fornece a vida.
Sabemos da tristeza, mas não do ódio.
Sabemos do fim e do recomeço.

Pois não sou mais apenas um Jardim,
Mas um pedaço vivo de Terra.

12 de ago. de 2014

Estrelas tantas


Sonhei um céu de tantas estrelas.
Estrelas tantas que até se abraçavam,
formando um manto branco-prateado;
diamantes reluzentes.

E havia você.
E por haver você é que havia o céu e a claridade das estrelas.
Sorríamos ao firmamento, lado a lado,
como se a realidade fosse o pesadelo e ali é que estivéssemos acordados.

Aproveito o breve momento de alma leve, de trégua, nesta tarde
e convoco palavras para marcharem com doçura.
Todos estão fartos de dias tão escuros,
de dias tão secos.

Dói tocar o dedo de agora, só pele e osso.
Deixou-me o anel, o compromisso.
Parece nu o dedo, e está.
Parece sentir frio, e sente.

Mas há essa lânguida luz da tarde,
A doce menina que, paciente, ouve meu declamar de mais um poema triste,
Um abraço macio e amigo,
E um misterioso perfume de laranjeiras em flor.

A dor adormece por um instante,
exausta de me sentir.
Falo baixo, sei do seu sono leve.
E por uma noite completa, desde o Fim dos Dias, espero adormecer também.

Gravidade


Que são os estrondos que ameaçam de fora?
Nada.
É aqui dentro que se faz o pandemônio, 
a corda bamba, 
a beira do abismo que não vejo a fundura.

Flutuo,
como o trapezista que salta de uma barra para a outra,
mas a outra barra não chega, não chega,
e também não chega a queda fatal.
Paralisado, impotente.
O chão é a realidade, a outra barra, o sonho.
Um segundo eterno de distância é a separação.

Eu,
Um corpo qualquer orbitando Sol distante,
Um corpo frio.
Se com vida, novamente desconhecida. 

Essa sensação persegue,
há dias - acordado ou entorpecido -
mais que os tigres, mais que os soldados, mais que os fantasmas:
Esse vácuo.

Uma parte do peito tirada, músculos e ossos levados,
Coração à mostra,
Pulsando, pulsando, pulsando...
Sentindo os ventos frios como açoites. 

Sim, é por conta do adeus.
Ou adeuses.
Nada nem ninguém parte sozinho, sem levar muito consigo.
Permaneço medindo os estragos, calculando as faltas, registrando ausências.
Mas não quero o nome dos culpados.
Não por o meu, certamente, estar entre o deles,
Mas por não querer na mente companhia desafetuosa,
além da minha.

11 de ago. de 2014

Opostos


Você ainda não partiu,
está partindo.
O caminho é longo
e você caminha só.

E eu choro todo meu pranto sem som 
por esse mundo belo que não posso dividir.
E eu choro todo meu pranto dolorido
por esse mundo horrível que não posso mudar.

Há espaço em seus olhos para os versos cansados do meu coração?
Ainda se recorda da minha alma que eu nunca disse ser maior do que é?
Por que nada parece certo no lugar que está?
Por que não cai de vez esse véu de mentira e a verdade não se mostra de vez?

Os dias morrem, junto deles morrem as certezas.
Ótimos atores somos nós, representando tão bem não sermos todos loucos.
Seguindo as sinas medíocres, absurdas,
atravessando as horas com medo, desespero, desejo, angústia 
e sorriso nos lábios.

Ainda grito, ainda digo, ainda insisto...
Mas sei que a vida não demora em me calar,
a me pôr no meu lugar, a colocar um espelho diante dos meus olhos.
Desgraçado o homem de sonhos maiores que ele mesmo.

Que ironia é essa de querer pessoas próximas num mundo tão grande?
Os braços não se alcançam, os pensamentos não se conectam.
Sou eu ou tudo está mesmo virado?
Sou eu ou tudo precisa de conserto?

O amor é dado só àqueles que não o querem?
Ou aqueles que não o querem são os que verdadeiramente precisam?
Assim como os que se fingem de tolos são os mais sagazes? 
Por que tudo precisa ser blindado por um enigma ridículo?

Dou voltas completas e retorno ao início.
Sentido a vida deve ter, seria muita canalhice de Deus o contrário.
Mas o que é pior: desconhecer o sentido ou acreditar no sentido errado?
O que é pior: ter fé ou ter dúvida?

Na verdade você se foi, sim.
Já chegou; o caminho não é infinito.
Na verdade a verdade é nua e é crua,
desvendada e óbvia.
Na verdade tudo é certo e perfeito,
e tudo o que foi feito, foi bem feito.

Apenas acho que vou morrer não entendendo nada disso.

O poema ouve


Certo poema diz que a contagem do tempo é feita pelas batidas do coração,
não pelos giros dos ponteiros do relógio.
O poema entende que há meia eternidade falta a luz, falta o ar, falta o combustível.
O poema entende que, mesmo parado, imenso tempo se passou.
Só o poema, em sua silenciosa compreensividade.
Só o poema, generoso...

Quando a luz da tarde começa se deitar, o peito aperta.
Antes, a rotina quase morta em si mesma, cedia à lembrança:
à noite viria aquela voz. 
Única, macia, tão sua, tão minha.
Viria aquela voz e qualquer dor partiria.

No silêncio, o coração bate lento, quase para.
As dores não passam, se acumulam,
como detritos que ajudam a causar as enchentes.
Assim está o peito: alagado nessa água turva de memórias e saudades.

Não podia durar, não iria durar, tudo parecia dizer,
mas a criança boba que pulsava no peito persistia em sua fé infantil.
Eu acreditava poder abraçar o mundo para abraçar você e sua história,
Um pensamento tão coerente quanto à minha crença em magia aos sete anos.

Seguem os dias, alheios à minha devastação.
Que dor é a minha perante às todas tão grandes dores?
Parece imenso egoísmo reclamar do meu derramar de sangue,
quando tantos e tantos já jazem sem mesmo o próprio sangue para derramar.

Então clamo e reclamo e rogo apenas ao poema;
que não responde, não aquece, não envolve, não salva, mas ouve.
Apenas ouve...
Até que eu me canso de dizer e o poema se cansa de ouvir.
Até que finalmente adormecemos, juntos e frios, em nossa solidão.

10 de ago. de 2014

Solidão


Como as pessoas convivem com todas as coisas mais lindas
sem dividir?

Solidão acho que é isso: não dividir.
A gente suporta distância, falta de abraço, de eu te amo, de sexo, de mão dada, aliança, almoço de domingo e sorvete de fim de tarde.
Suporta até enfrentar a vida sem ajuda, sem um: vai lá, você consegue!
E falo dessa vida chata, sem graça; criada  pela burocracia, não por Deus; que nos inferniza os dias.
A gente até se suporta, veja só.

Mas não dividir o Belo, 
aquela música, aquela poesia, aquele filme, aquele pensamento bom, aquela flor, aquele pôr do sol...
Isso não, isso dói por demais.
Por isso quando você foi embora para sempre chorei tanto e tanto:
O Mundo é bonito demais só pra mim!
Eu não posso suportar!

Porque a dor e a feiura a gente já divide automaticamente,
É só ver as notícias da estúpida eternidade das guerras estúpidas,
É só cruzar com Seu Qualquer na rua...
A gente olha o olho murcho das pessoas e sabe: tem coisa errada ali dentro.
Precisa nem dizer, não. É o tal do óbvio.
O desespero é como o ar, tá todo mundo dentro dele.

Todo mundo tem mágoa, tristeza, saudade, arrependimento, culpa.
Novidade nenhuma.
Quase todo mundo é feio se olhar bem de perto,
E não é feio de carne, não; porque carne é tudo carne, 
como água é tudo água,
e como a água, a carne passa;
Quase todo mundo é feio por não dividir o Belo.

Hoje, quase matei a moça do coração.
A gente no carro, ela concentrada, eu avoado,
Daí grito: OLHA QUE LINDO O ARBUSTO!
Era um arbusto cheio de flor amarela que nasceu bem no meio de um portão, na calçada.
A gente quase morre por causa do arbusto,
e rimos depois.
Eu não poderia carregar a beleza daquele arbusto só pra mim,
precisava que ela carregasse também.
Assim, era como se o arbusto fosse mais um elo entre nossa amizade;
todo elo é bem-vindo.

Por isso chorei tanto quando a esperança partiu.
Porque a esperança é coisa das mais bonitas,
e eu não queria perder ou dar, queria dividir.
Ficar com toda ela também não podia, não.
Coisa grande demais.
Então fiquei foi sem nada, mesmo.

Amanhã, se eu encontrar outro arbusto com flor amarela vou ter que ficar em silêncio,
Ninguém se importa muito com arbustos de flor amarela.
E vai doer uma dor só minha e talvez eu chore de novo,
Seguindo a vida que me foi dada pela burocracia.

Posso dizer que meu maior medo era ser um dos Feios,
Hoje já não é um medo, é um certeza. 
Minha feiura assusta.

9 de ago. de 2014

Eu sabia que o Sol não nasceria


Não sei se por um sentido além dos cinco,
ou por ver de longe o óbvio,
- quando os motores de um avião explodem no ar, 
você pode ter certeza de que ele vai cair -
eu sabia da Grande Dor.

E talvez seja simples o porquê de não antevermos o futuro com frequência:
É impossível consertar qualquer coisa antes que ela se quebre.
Mesmo assim eu soube, graças ao óbvio ou à premonição,
que em um dia, não muito distante, o Sol não nasceria mais.

E eu pensava:
"O Sol não nascerá mais! O Sol não nascerá mais!"
E me achava muito esperto por saber o futuro, 
quando na verdade, 
só estava sendo um tolo, como normalmente.

Teria eu forças para pegar o Sol nos braços e pôr no céu?
Seria o bastante dizer ao Sol: 
"Veja, todas minhas flores precisam de você! Vão morrer, pobrezinhas! 
E eu posso te levar alguma alegria, tornar os dias mais vivos?
Ou mostrar ao Sol todas as belas manhãs em que nascemos juntos,
e sorrimos e cantamos e amamos e fomos infinitamente felizes?
Não, para todas as perguntas.

Eu sabia que o Sol não nasceria e só fiz foi adiantar a escuridão iminente.
Não serviu de muito tentar me habituar aos seres da escuridão 
e reconhecer os caminhos que seguiria sem sua luz.
Só adiantou foi o sofrer... este chegou bem cedo.

Já uma semana em penumbra...
Período de luto imposto, obrigatório.
Volta e meia pisca um vaga-lume e eu espanto logo:
a esperança não é mais bem-vinda.

Uma semana de trevas,
e veio, enfim, a última sentença do Sol; 
breve, dizia:
"Já não sou luz, mas apenas dor. Me conceda a paz."
Tentei argumentar: 
"Sejamos sombras juntos então!"
E o Sol se calou para sempre...

Acatou meu pedido.
Mas ser sombra não é o mesmo que ser luz.
E eu vi que não pensava bem quando fiz o pedido.
Já não vejo o Sol e o Sol já não me vê...
Parece mesmo que o inverno vai durar para sempre.






8 de ago. de 2014

Vó Sepha, Vô Chico


São semanas em que os adeuses rondam, tão silenciosos e frios.
Tantas despedidas, quase nenhuma chegada.
Dos vagões que passam sobre os trilhos da vida pouca coisa desembarca ultimamente...

É tempo de Mudanças. 
Esperanças infinitas são barradas por finais infelizes.
O mundo jaz em seu seu ódio por si mesmo,
num eterno e incompreensível ciclo escuro de estupidez.

Mas não foi há muito em que amores eram roubados pelas janelas.
Não foi há muito que a própria palavra "amor" era sagrada e imaculada.
Um contrato inquebrável.
Não há muito era possível ter coragem.

Dizem que é o fim dos tempos.
Tão ingênuos... 
Ingênuos por acreditar que, 
por seus olhos não verem apenas o que querem ver,
tudo chegou ao fim.
O Fim é uma benção que ainda não merecemos.
Começar tudo de novo, do primeiro passo, com o histórico reluzente.
A luta persiste, e adianto, será longa.

Também eu sou ingênuo e fraco e tolo, 
por fazer das rosas do jardim um dos meus poucos motivos para sorrir.
O Mundo é maior, e continua, além da minha dor, além da minha ignorância, além da minha mesquinhez, além da minha ganância.
Troque-se "minha" por "nossa".

Os tempos não se findam, apenas se transformam.
Como a rosa que sai da segurança do botão para os perigos dos ventos e das chuvas
(e dos gatos).
Mas se a rosa não saísse, não haveria cor e perfume, 
não haveria sentido para a existência do botão.
A rosa... poesia das mais puras.

Vó Sepha, Vô Chico... os maiores Poetas que já tive a honra de conhecer.
Ao Amor deles devo minha vida; à coragem deles, à loucura deles.
Talvez nunca tenham escrito uma linha sobre o papel,
Mas numa madrugada, por uma janela de madeira velha, 
o jovem Chico levava para qualquer lugar distante a jovem Sepha.
Nunca li poesia mais bonita.

E cresceram e amaram e sofreram e criaram.
Sempre tanto amor e dor,
Como se, ao receber essa moeda da vida, 
fosse obrigatório fazer uso dos dois valores.

Vô Chico se foi, como um passarinho,
aconchegado no ninho que tanto lutou para construir.
Vó Sepha descansa enfim.
Deita nos braços da eternidade e segue seu caminho na jornada comum de todos nós.
A vida não termina...

Os anos vão, a alegria vai, o desespero vai, a tristeza vai, a vida vai, as rosas vão.
Algo precisa ficar. 
Eu queria que fosse o Amor.






7 de ago. de 2014

Folhas secas


Os dias escorrem por conta-gotas.
Caem lentamente como os grãos de areia de uma ampulheta.
Os semanas levam o verde das folhas, 
mas trazem novos brotos, novas flores.
Os meses levam os dias felizes, também os tristes, 
mas deixam as lembranças.

Cada recordação feliz, adormecida no passado tão presente,
é um pequeno porto, uma relíquia, um refúgio ao coração.
Cada recordação triste, gravada na alma como uma cicatriz muito profunda,
é um pequeno troféu enferrujado conquistado pelas batalhas enfrentadas.

As memórias se esparramam pelo chão e dançam no vento como folhas secas...
Folhas que cumpriram sua sina. Uma hora caem, decompõem-se... 
E assim como a natureza inicia e encerra seus ciclos para que a vida se renove,
Também nós iniciamos e encerramos os nossos para que a esperança não esmoreça por completo.

Que fique uma semente, bem protegida nos confins da alma, e que um dia germine; quando todo verde, principalmente o daqueles olhos, houver partido por completo.

Apenas o Amor permanece inabalado, 
indiferente ao tempo e ao espaço.

6 de ago. de 2014

Direito à lágrima


Obrigado, Deus, por meu direito ao pranto.
Suave e doce, como a primeira chuva após a estiagem.
Obrigado, Deus, por meu coração sentir fome do Belo.
É necessário saciar aquilo que me guia.
Obrigado, Deus, pela esperança, tão surrada, não partir:
Eterna cúmplice.

A vida persiste, mesmo após o fim do mundo.
"Se você procurar bem, esses escombros estão cheios de tesouros."
Repouso, como uma pluma onde não venta, em minhas lágrimas.
Tão pacíficas, tão meigas, tão doces, tão abundantes. 
Dói a perda dos que silenciam: entejam na carne ou livres dela.
Só quero um momento para que minha dor doa também.

Que ela lateje, livre como um cavalo selvagem cavalgando numa costa desconhecida.
Que o medo se aproxime, sem alarde, e aperte minhas mãos, com olhar de velho conhecido.
"Estou aqui." Digo, ainda crendo, vejam só, que a vida é além do que se vê e do que fere.
Ainda entristecendo ao ver as flores murchando, os sentimentos sendo fracos.
Caminhando em meio aos destroços deixados pelo último terremoto, observo.

Observo descrente que a vida voltará a luzir e sorrir, 
embora saiba que ela sempre volta,
Ainda que pedaços faltem, ainda que relíquias sejam para sempre perdidas, ela volta.
E minhas ilusões adormecem então, sonhando com os dias em que tinham asas tão grandes, tão fortes. 
Adormeço junto a elas, e tento voar também.

Os dias após o fim dos dias


Que toda morte seja calma, como o balançar dos barcos ao flutuar em mares pacíficos.
Que toda lágrima, tanta e inevitável, escorra lentamente como uma carícia.
Apenas morremos mais uma vez, de uma outra forma;
E continuamos vivos, de alguma forma.

Já murchou a roseirinha que o gato, sem motivo, odiou e desplantou do solo.
São tempos de adeuses...
Mas os dias que seguem o fim parecem os mesmos.
Como sempre, tudo o que vemos como errado, está mais do que certo.

Após o pior adeus, olhei então Deus no fundo dos olhos e disse:
"Faça alguma coisa! Por Seu amor, faça alguma coisa!"
E Deus sorria... não da minha dor, mas da minha ira.
Eu sei, eu sei: não é aos meus pés que o universo se deita.

A amiga me leva para ver flores. Muitas, multicoloridas.
Orquídeas, explodindo tamanha vida.
E eu quase choro de novo...
Tanta espera, tanta luta, por uma flor tão rápida e frágil.

Aproveito e prometo: tal e qual Nosso Senhor, ressuscito ao terceiro dia.
O mundo chora, as esperanças murcham, os gatos destroem as roseiras,
apesar dos espinhos que deveriam protegê-las...
E eu aqui: quantos anos mais sepultado por meus fracassos?

Reabro as veias secas, tão preenchidas de pranto e clamor e frio,
e grito: "Vida, desculpa, volta pra cá!"
E ela volta, contente por ser novamente bem-vinda.
E nós não traçamos planos, apenas ouvimos uma música juntos.

Solenemente agradeço a presença dos anjos que acudiram meus clamores,
Mas peço que fiquem acordados. Não dou pouco trabalho.
E após as maiores alegrias e as piores dores,
tento pensar apenas no doce e suave sonho...

Uma senhora, repleta da beleza dos Humildes de Coração,
Com sua vassourinha varrendo a varanda de uma casa simples e aconchegante.
Eu observava as laranjeiras do quintal com grande admiração, e ela disse:
"Neste ano tivemos muitas abelhas e borboletas. 
As flores já se foram, mas os frutos logo vêm."


5 de ago. de 2014

O sentir




Onde fica o misterioso país das memórias,
em que tudo é revestido por uma falsa película de eternidade?

Eternidade... esses ventos de agosto, que quase me derrubam -
não por serem fortes - mas por serem doces e meigos demais,
e o galho florido do ipê, agora negro e ressequido - antes amarelo de flor -
me pareciam eternos...

Parece tão fácil estender a vida como um mapa e apagar as linhas que não se poderá mais seguir,
talvez seja,
ou talvez as linhas fiquem para sempre ali, como uma cicatriz, uma ode ao fracasso.

Adormecem as lembranças nessa terra, como as rochas?
Mortas e imóveis elas servem de abrigo a qualquer coisa?
Ou apenas o tempo, mestre de todas as coisas, tem poder de trazer qualquer mudança?
Eu apenas observo quando ele vem, 
trazendo novas filhas, levando para o desconhecido as antigas.

Tudo é assustadoramente aceitável aqui, no mundo dos Absurdos.
Ainda ontem o amor era muito, era completo, era profundo, era forte,
e hoje é adeus. 
Assim: adeus. 
Aqui, no mundo dos Absurdos nada fica firme por longo tempo.

Se não bastasse, recebo a visita indesejada da Realidade.
Velha ranzinza e amarga.
Orgulhosa, despeja fatos no meu peito como se eu não soubesse que ela mesma é a maior das ilusões.

"Não sinta!" 
Diz ela, sentada próxima demais ao ponto de eu sentir a frieza da sua pele.
"Cale, não sinta!" 
Repete ela....
Mas eu continuo tentando alimentar a alma, já raquítica de esperança, com algumas lembranças que começam a fugir do meu toque.
"Quero seu bem, cale, não sinta!" 
Ela insiste; estúpida, vazia, grosseira.
Respondo enfim: Eu sinto, não há escolha: eu sou o próprio sentir. 

Universos abertos


Que parte não esteve à mostra?
Qual estrela foi oculta aos teus olhos?
Minhas galáxias e buracos negros todos ao teu dispor,
Como se me fosse íntimo desde o nascer,
Um eu diverso, vivendo uma vida alheia.

Sem chaves, sem portas.
Os contratos foram assinados com o primeiro olhar:
“Confio e amo, para sempre.”
Minha ingenuidade é quase bela...
Já não é mais que óbvio que a eternidade para uns é diferente da de outros?

Ainda assim te levei ao universo,
Falei quase todas as noites das estrelas,
Das que subiam e das que caíam,
Das que brilhavam tanto daqui do fim do mundo.
Sem portões, sem muros; apenas pontes, muitas pontes.

Então disse adeus, com hora para chegar e hora para partir.
Tudo tão coerente e preciso.
Lógico e recheado de dor.
E eu, feito criança tola que não aprende ao primeiro tapa,
Dançava valsas com a esperança até sua chegada.
Até que, enfim, todas as canções findaram, e eu enxerguei a mim,
Dançando só, sem a esperança, sem mais nada, e ouvi as batidas da vergonha na porta.
Mas ainda não abri, cansado demais para fazer sala para essa velha conhecida impertinente.