3 de ago. de 2014

Pedras e rosas


Tantas canções, tantos poemas, tantas flores, tanto barulho e não há nada.
Não sorria enquanto colhia as pedras que colocaria aos pés das roseiras, 
cujo perfume você não sentirá,
cuja cor não será por mais ninguém vista,
cujo desabrochar apenas aos meus olhos murchos se revelarão.

De que serve agora meu Jardim? 
Ou minha certeza?
Ou minha fé?
Ou eu?

Sempre soube que as tempestades não viriam sem aviso.
Com uma mão de Deus no ombro, e a outra apontando o horizonte negro,
eu as prevejo.
Sempre foi assim.
E eu me encolhi, como um feto, como um botão não desperto e só fiz chorar.

Calei minhas certezas que nem a mim já serviam...
Um adeus é como uma maldição que quase nada no mundo pode quebrar,
Uma maldição criada pelo próprio amor,
Uma maldição que só o que a conjurou pode desfazer.

Recolhi pedras e plantei roseiras, como disse a Mestra.
E agora entendo que plantar roseiras e depositar as pedras
coloridas aos seus pés, é na verdade criar um túmulo aos sentimentos 
que não mais existirão.

Recolher pedras e plantar roseiras é um ato de sepultar sentimentos que partiram, ou que não partiram, mas não podem mais viver.
Plantei uma roseira negra para o Sonho,
Plantei uma roseira rosa o Amor,
Rodeei de pedras para que não sejam danificadas pelos ventos ou chuvas.

Todos os dias, enquanto esses dias forem sendo desperdiçados 
com essa realidade imbecil que idolatram, irei até o jardim-que-ninguém-vê para sentir o perfume do Amor e do Sonho.
Feito a criança que eu era, que subia nas árvores para tentar pegar nuvens.

Falta a terceira roseira, a roseira ainda sem cor, 
ainda não acolhida pelo jardim.
Falta a sepultura da Saudade, porque ainda ontem o Amor esteve aqui e o coração, sempre lento demais, ainda não se deu conta que ele se foi.

Amanhã eu planto.