31 de ago. de 2014

Distância


Peço a Deus coisas que ele pede a mim.
"Troque os muros por pontes, Senhor,
A saudade, por esquecimento."

Peço a Deus, mas não em tom de oração.
É como o "ai!" gritado pela dor.
Dor insana, autoflagelação.

As estradas me doem... 
cada quilômetro, cada prédio, cada árvore.
Mas não são as estradas, são as distâncias.

A distância que a roda da vida percorre,
Amassa, deixa para trás.
E eu choro.

Choro e suplico. Como se o choro curasse e a súplica fosse ouvida.
Nada cura, nada ouve-se.
Tudo houve.

Lembro também de nomes.
De vilas, cidades, megalópoles, flores, anjos e passarinhos.
Tudo isso dentro de mim ocupando tanto espaço.

E eu sobro, eu sou espremido e escorro pelas frestas. Dilacerado. 
Que significa essa dor, meu Deus? (agora é uma oração).
Que sentido tem carregar memórias?

Enfim entendo o porquê de tudo ser esquecido quando mergulhamos na carne:
Não é por conta dos pecados, ou erros, ou angústias pretéritas,
É pelo Belo. Pelo Belo que se perde na poeira dos séculos. Ou dias.

Quanta lonjura percorremos em vida e em morte...
Não ferem as assombrações, os pecados, as trilhas erradas,
Fere a Felicidade; o adeus que, de tempos em tempos, damos a ela.


De "Ex-voto".