9 de ago. de 2014

Eu sabia que o Sol não nasceria


Não sei se por um sentido além dos cinco,
ou por ver de longe o óbvio,
- quando os motores de um avião explodem no ar, 
você pode ter certeza de que ele vai cair -
eu sabia da Grande Dor.

E talvez seja simples o porquê de não antevermos o futuro com frequência:
É impossível consertar qualquer coisa antes que ela se quebre.
Mesmo assim eu soube, graças ao óbvio ou à premonição,
que em um dia, não muito distante, o Sol não nasceria mais.

E eu pensava:
"O Sol não nascerá mais! O Sol não nascerá mais!"
E me achava muito esperto por saber o futuro, 
quando na verdade, 
só estava sendo um tolo, como normalmente.

Teria eu forças para pegar o Sol nos braços e pôr no céu?
Seria o bastante dizer ao Sol: 
"Veja, todas minhas flores precisam de você! Vão morrer, pobrezinhas! 
E eu posso te levar alguma alegria, tornar os dias mais vivos?
Ou mostrar ao Sol todas as belas manhãs em que nascemos juntos,
e sorrimos e cantamos e amamos e fomos infinitamente felizes?
Não, para todas as perguntas.

Eu sabia que o Sol não nasceria e só fiz foi adiantar a escuridão iminente.
Não serviu de muito tentar me habituar aos seres da escuridão 
e reconhecer os caminhos que seguiria sem sua luz.
Só adiantou foi o sofrer... este chegou bem cedo.

Já uma semana em penumbra...
Período de luto imposto, obrigatório.
Volta e meia pisca um vaga-lume e eu espanto logo:
a esperança não é mais bem-vinda.

Uma semana de trevas,
e veio, enfim, a última sentença do Sol; 
breve, dizia:
"Já não sou luz, mas apenas dor. Me conceda a paz."
Tentei argumentar: 
"Sejamos sombras juntos então!"
E o Sol se calou para sempre...

Acatou meu pedido.
Mas ser sombra não é o mesmo que ser luz.
E eu vi que não pensava bem quando fiz o pedido.
Já não vejo o Sol e o Sol já não me vê...
Parece mesmo que o inverno vai durar para sempre.