24 de jun. de 2013

Reflexo


A beleza deixou de fazer falta e se tornou uma amiga
quando descobri que ela está em tudo.
Nos contrários e nos corretos,
Naquelas tardes de domingo de vento frio e rua vazia; 
só passarinhos na árvore.
O medo deixou de ser cruel quando descobri que ele também sente medo,
sente medo que as pessoas o sintam.
A dúvida deixou de ferir quando as certezas foram todas embora,
a dúvida também é serena, 
a dúvida não quer luta.
A saudade provou conter em si o tanto necessário de amor para dar condições à vida.
E num reflexo, 
onde tudo era difuso e incoerente, 
eu enfim sentia algum tipo de paz
e sorria.

22 de jun. de 2013

Todo dia é um adeus


Outra partícula morreu; coisa pouca, nem doeu tanto.
Morreu séria, sem dramas, sem lágrimas. Apenas morreu.
Outro "E se..." que se foi. 
Foi-se ao vento frio do inverno que vem chegando.
São ilusões que já nem germinam mais.

As palavras foram as primeiras a partir.
A mente continuava com seus encontros de tornados e terremotos,
mas a palavras se recusavam.
Recusaram até morrer...

O coração também se foi.
Nenhum aroma o ressuscita.
E quando ouço seu canto é um canto tão distante, tão triste.
O coração não morreu, porque dói.

A claridade cessou.
É dia de lua cheia, lua próxima, mas há tanta nuvem, meu Deus...
Tanta Nuvem.
A claridade cessou; sonhos e pesadelos andam de mãos dadas, como amigos.

Todo dia é um pequeno adeus, uma pequena despedida,
até a despedida final.
Até a coragem ser grande e forte, até as decisões serem sólidas.
Todo dia é uma pequena morte, até a vida começar de verdade.

Eu não direi novamente tudo o que meus olhos já disseram...
Eu não verei novamente tudo o que meus lábios já viram...
Eu não cantarei novamente tudo o que meus ouvidos cantaram...
Eu não beberei novamente dos mesmos aromas...
O adeus de hoje já foi demais.

15 de jun. de 2013

Inverno novamente


A passos tão lentos, quase uma flutuação, cruzo as trilhas deste jardim.
É inverno... novamente e mais uma vez,
é inverno.

Todas as árvores perderam as folhas e seus galhos, finos e frágeis, são chicoteados por ventanias.
A relva, as flores, os arbustos, tudo secou.

É inverno novamente, é minha sanidade que despertou.

Era uma outra vez...


Apenas são memórias, vagas, poeirentas, aqueles dias em que chovia lentamente.
Chovia diferente.
A chuva que caía era como cura. Limpeza.
Ela paralisava o mundo, deixara as dores, os amores, a pessoas, lentas.

Era uma outra vez aquela... em que eu olhava para o céu, crente em milagres.
Agora, embora a mesma chuva lá fora, são tempos secos.
E os milagres, nenhum.

Nenhum herói


Cortei minha sanidade em pequenos pedaços para alimentar minha esperança.
Fiz isso por todos estes anos.
E cá estamos nós: minha sanidade quase finda, e minha esperança grande demais para conseguir mover-se e fazer seu trabalho.
Não me esqueci do amor; esse sentimento tão banalizado, tão cuspido pela boca de todos.
Um sentimento que jamais deveria ter sido nomeado, porque nomes limitam.

Estou lutando contra tudo outra vez.
Estou fardado de flores e espinhos em meu campo de batalha mais uma vez.
E no fundo, o que fui ainda sou.
Quem não quer um herói? Quem não quer asas?

Mas não há magia dentro de mim. Não há nobreza em minha alma.
Eu deveria ter poderes de salvá-lo. 
Deveria mostrar alguma gratidão pela generosidade da vida que até hoje não bateu em minha porta para cobrar meus pecados.

Se chegou a hora do adeus, eu o aceito.
Embora nada em mim eu consiga extinguir ou apagar,
Talvez os dias precisem desse silêncio, dessa dor, dessas memórias.

Mais uma vez aceito minha incapacidade.
Aceito perder outra batalha.
Quero apenas me deitar aqui e continuar a ver as estrelas que um dia paramos para admirar juntos.
Elas continuarão lá para sempre.

Talvez tenha sido pretensão demais querer ser seu salvador,
Eu, que nem a mim mesmo salvo.
Estou lhe perdendo para você,
Assim como me perdi para mim.