22 de fev. de 2018

Corações selvagens


Adentraram nosso reino sagrado,
Por isso sangramos.
Trouxeram para a catedral dos nossos sonhos
Ladrões e feiticeiros.
Saquearam nossas relíquias e distribuiriam a bárbaros.
Zombaram da mais pura forma de sentimento
Que já pudemos gerar.
Qual a surpresa agora que nossos corações são selvagens?

Mas vocês não derrubarão esses muros outra vez.
Não calarão nosso urro mais uma vez.
Vocês sujam as próprias trevas em que se arrastam,
Vocês já mal conseguem submergir do próprio mar de mentiras.
Não terão ainda nossas lágrimas de saudade e revolta.
Nossa luta não será no campo de falsos heróis.

Podemos ver limpidamente o poente escarlate agora.
Sua lança e seu fel não penetram nossa carne.
Quando o fim chegar não estaremos de joelhos.
Nosso espírito está em chamas!
Nossa carne ainda resiste!

Vocês não notam, mas permanecemos exatamente aqui,
Vencendo,
Sem garras, sem armaduras.
Quando os caminhos se abrirem para nossa vitória
Eles serão trilhados pelo amor.

17 de fev. de 2018

Preciosidades



Um diamante no fundo da terra não tem valor. 

Quem sou eu, mas talvez a preciosidade de qualquer coisa esteja não só em sua raridade, mas nas mãos; nas mãos que colheram, que lapidaram; nas mãos que colheram e semearam.
É sempre tempo de colheita, de semeadura, de dura luta, de saudade, de floração. 
Quando o coração está mais puro, vê-se que tudo emana amor: as pequenas flores brancas da jabuticabeira, pequenos pompons brancos delicados, a semente brava que resistiu ao inverno e no verão cresceu toda sorrindo, a fé que volta depois de dura distância, como o verde volta pro sertão depois de longa estiagem.
Eles se assustam quando dizemos que o amor é eterno. Porque soa como um pedido, como um nunca se vá daqui, mas a eternidade do amor também reside calma e branda no peito, como aquela árvore solitária no campo que flori tão bela sem que ninguém sinta seu aroma.
Ainda estamos aqui, meu caro, minha cara... Ainda caímos nos caminhos do erro e da fraqueza, pecamos contra nós mesmos, desistimos, mas o coração é como uma terra bruta, pedregosa, que um dia não abrigou nada além de restos e escombros, mas hoje, pacientemente, ora ou outra, flori tanto.
Eu já vi isso antes...


16 de fev. de 2018

Era meio dia


Alguém já disse antes que em certos momentos é como se todas as janelas fossem fechadas ao meio dia.
Toda aquela luz que inundava todos os cômodos, todo o coração, de um instante para outro desaparecesse sem prévias ameaças.
Por um longo tempo é difícil ter de volta a recordação de que lá fora o mundo continua a existir, a girar, a brilhar, quando dentro tudo é escuro.
Que culpa tem você, os astros, os anjos, qualquer um, por eu ainda estar aqui, sem quebrar janelas, portas e paredes em busca de paz e claridade?
Eu amava aquele adeus... era tudo o que restara, você entende isso?
Sair da escuridão era aceitar que a vida não era dividida entre bem e mal, entre encontro e despedida, mas que era uma árvore de imensas e inúmeras raízes nutrindo-se de todo tipo de sentimento, ação e relação.
Não parece ser tão difícil prosseguir quando é possível se manter na superfície, quando não há necessidade de mergulhar mais fundo, ou depositar na terra alicerces mais fortes. Em não raros casos a vida pode ser matemática, exata, complexa mas sem mistério. Mas tem essas vezes, essas que precedem as janelas que se fecham ao meio dia... e é como se aquela árvore de raízes incontáveis começasse seu crescimento sem fim do ponto mais verdadeiro da alma. Então ela não cessa de crescer, e a vida continua a seguir, com ou sem a poesia, ela apenas continua a crescer e a florescer, sempre, lentamente, eternamente, nos fazendo a todo instante lembrar da beleza, do amor, do poético, da saudade.
Mesmo quando ainda é meio dia e as janelas continuam fechadas.

14 de fev. de 2018

Falo às palavras


Talvez eu amasse o eu em você, talvez eu amasse em você tudo o que em você havia de mim em uma versão aperfeiçoada, praticamente perfeita.
A versão finalizada de uma obra que é lapidada tão lentamente.
Isso explica uma saudade que vinha do âmago para fora.
Seria mais fácil acreditar que tudo é apenas uma grande mentira. Acreditar na imaturidade do meu espírito que tão facilmente se deslumbrou com cores e luzes. Mas não havia caminho fácil e eu sabia que eu não era do tipo que conseguia negar a verdade.
Sei que novos ventos irão soprar nas velhas e rotas velas que ainda se mantêm hasteadas.
A vida segue, mesmo quando parece não haver mais haver tranquilidade no mar por onde se navegar.
Eu amo. Agora um amor só meu. Que me faz olhar uma flor e chorar sorrindo. "Agora você está entendendo o que é ser homem" diria um sábio amigo.
Nossas fragilidades são tão belas...
Bem lá no fundo, ainda restava fagulhas daquele velho amor pela dor, por ser ela tudo o que restou de tempos mais singelos e belos.
O mundo era grande, as distâncias eram imensas, mas tínhamos ao nosso favor nossa inocência recém reclama.
Então veio a luz, e antes de nos cegar parcialmente revelou tudo o que existia além daqueles mundos encantados; não fora, mas dentro da gente. Ainda que amássemos, tínhamos pecados, fraquezas tantas, orgulhos a se ferir, pequenos e grandes medos. Era de se esperar que ruíssemos. E ruímos.
Falo às palavras apenas, ninguém mais ouve a minha voz.
O mundo que abriga minhas fantasias é escuro e silencioso como essa madrugada, e dorme.
Que bom assim.

15/02


Talvez tudo se trate de inspirar pessoas. Comovê-las. Então isso gera uma força misteriosa que vai se alastrando e muda o mundo ou muda ao menos pequenos mundos particulares.
Quão honestos conseguimos ser conosco? Com os outros é mais fácil porque honestidade com terceiros vem com o brinde de "olha como sou leal e maduro". Mas ser honesto consigo é quase sempre uma constatação de pequenos fracassos. Por exemplo, não passei no vestibular (edit. eu passei), escrevi doze livros que juntos não venderam 350 cópias, já passei dos trinta e não faço ideia do que é pra fazer com a maior parte da vida, tenho vergonha de marcar uma consulta. A gente vai vivendo, sobrevivendo, desviando das catástrofes e às vezes esperando um milagre, um boom que mude o rumo da história, as com 99% de chance tudo vai continuar exatamente igual ao que sempre foi.
E tem as pessoas; tão parecidas as pessoas; quase cópias. Mais um motivo para dizerem que somos todos filhos do mesmo Pai.
E tem a saudade. Ainda saudade.
Deus me livre dessa vida besta, viu.
E esperança a gente tem porque é preciso, é de bom tom. A gente vai confiando, mas esperando o pior. Andando devagar pra não cair em alguma vala.
Que porre.
A vida segue, as árvores crescem e estamos cansados pra cacete de morrer por migalhas todos os dias e nos acharmos demônios pelos menores deslizes.
Mas está tudo bem, precisa estar. Mesmo não estando porra nenhuma.

13 de fev. de 2018

Ciclos

Uma constatação simples é essa dificuldade em encerrar ciclos. Remover velhas plantas para não sufocar as novas, desistir de um possível relacionamento que claramente é um placebo para a solidão, entender o que é o fim, entender o fim mais definitivo que se possa haver; quando aquilo que foi um amor agora caminha por uma bela cidade a centenas de milhares de quilômetros; a insistência em versos que a poucos causam alguma emoção. 

Ciclos...

Dizíamos sempre sobre pessoas com asas e pessoas com raízes no mundo, mas havia as quimeras, criaturas híbridas, meio pássaro, meio árvore, numa luta constante com a própria natureza. 
Pra esses, os inícios e términos doem um pouco mais. São um pouco mais intensos. Nunca se está perfeitamente confortável, nunca se está exatamente onde se deveria estar. 
Tento pensar que há alguma beleza nisso. Como naqueles olhos azuis e castanhos no mesmo rosto. 
A gente se acostuma com adeuses e encontros... 
Quando as raízes começam a mergulhar no solo, é hora de outro adeus, outra batida em outra hospedaria.  
Não é fácil e seria tão bom se alguém entendesse...  

Então, adeus novamente. Que a luz se faça diante dos seus passos.
E olá, prazer, desculpe essa timidez e não repare minha desordem... Fui pego por uma tempestade de surpresa no caminho até aqui.
Vamos começar?


Adquira "Travessia" em: https://www.clubedeautores.com.br/book/249856--Travessia#.WoMbRVSnEdU

12 de fev. de 2018

Lançamento de "Travessia"


"Travessia" é minha 12ª aventura com a palavra poética.

Já são centenas de páginas preenchidas com todo tipo de sentimento... desde o mais singelo e puro amor, até o silêncio mais frio trazido pela ausência da esperança.

Como disse Simone de Beauvoir: "O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida." Mas além disso, não apenas o sabor da uma vida, mas de toda e qualquer vida que se desnudara diante de mim.

Traduzir "Travessia" em poucas palavras é uma ambição tola. O livro apenas nasceu, sem pretensões, sem obrigações. Nasceu como um simples caminhar por uma ponte que leva de um lado para outro, mas cujas paisagens opostas não se diferem tanto assim. "Travessia" é esse caminhar pelos dias da vida, alguns mais ensolarados, outros mais nebulosos; é o caminhar às vezes exausto, às vezes preenchido por uma beleza e uma energia divinas; sempre, por fim, com a esperança de dar aos olhos o presente de a imagem mais profunda e poética que repousa em todas as coisas, como uma pedra rara e inestimável, esperando sua lapidação no âmago morno da terra até que mãos hábeis possam extrair dela toda beleza..

"Travessia" é esse convite a seguir atento aos sinais, onde em tudo reside o Sagrado.


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11 de fev. de 2018

Aventuras internas

Nunca fui arrogante diante da minha aventura com a prosa e poema, nem teria condições de sê-lo. Sempre fui consciente das minhas limitações assim como sempre fui consciente do meu amor pela palavra, pelo sentimento esculpido em versos e textos. Antes de qualquer herói, antes de qualquer filosofia, a poesia foi minha companheira, minha guardiã, meu lar. Isso desde os 11 anos. Em 2018 finalizo meu 12º trabalho com a escrita e isso é valioso para mim porque impregno minha própria alma em cada letra que é impressa no papel e que, com sorte, algum olhar percorrerá, como uma mão macia percorre um corpo desnudo. Se a poesia me levou até onde eu queria ou necessitava, nunca saberei, porque nunca houve qualquer ambição além de, de alguma forma, alcançar alguma outra alma. Talvez em alguns momentos isso tenha sido possível. Certamente é um grande desejo que esses trabalhos atinjam mais pessoas, não pela questão financeira que é plenamente irrisória, mas pela pura necessidade de criar conexão com outros corações. Não me equivoco em dizer que esses 12 livros são a condensação do que acredito ser o Amor. Então este relato é um apelo, sim, a quem puder divulgar ou até adquirir algum desses trabalhos. Isso me dá força a continuar acreditando que o mundo também é um lugar belo, onde podem coexistir sentimentos que se nutrem e se compartilham através do verso. Cada um que estiver disposto a cooperar nesse valioso processo de gerir um mundo mais belo e menos árido, tem a minha imensa gratidão.


Vendas > https://goo.gl/TzLzCC


10 de fev. de 2018

Tantos adeuses



Te amar carregava a dor de te perder todos os dias.
Você sempre tão belo e reluzente,
Como letreiros da Broadway
Anunciando o próximo grande espetáculo.

Eu continuava meu vagar pelas ruas estreitas
De uma vida estreita,
Mas você já podia flutuar pelas avenidas largas e iluminadas
De um novo belo mundo.

Foram incontáveis adeuses... Meu Deus, tantos adeuses.
A vida já ruiu e se refez tanto,
E de novo: “Adeus, te amo.”

Eu amaldiçoo a felicidade
De ver aquele olhar azul a primeira vez.
O azul profundo onde mergulhei sem pensar
Que nunca mais submergiria novamente.

9 de fev. de 2018

Travessia



Já não se podia saber quanto da antiga alma havia sobrado.
Alguns momentos de coragem e outros de estupidez
Ainda conseguiam fazer o coração bater um pouco mais
Fora do ritmo da canção,
Algumas paisagens ainda pareciam novas,
Mesmo tantos anos depois.

Havíamos desistido da santidade há muito,
Mas restavam alguns princípios para tirar a adrenalina dos dias
E preencher com um tipo de velhas e raçosas culpas católicas,
Como aquelas que sentíamos ao mentir aos padres
Quando éramos pequenos e ainda temíamos o inferno.

Não perdemos toda nossa fé, disso eu sei.
Em alguns momentos espremidos entre medo e maturidade,
Ousamos errar para seguir na luta pelo que nutrirá o coração:
O amor nunca deixará de ser a busca primordial.

Os dias são bem outros; os demônios estão chamando,
Mas nós dançamos por um instante sob a luz da lua
Como se fôssemos jovens e seguros de novo e para sempre.

Todos os versos repousarão na terra como sementes estéreis,
Mas semeamos, mas esperamos.

Pois somos crianças covardes, mas ainda assim, Deuses.


Logo, "Travessia"

3 de fev. de 2018

Sentia-se


Voltara a conseguir ver relâmpagos mornos de um poente escarlate.
Havia sim (como haveria de não haver?) no mesmo céu densas nuvens,
Negrumes frios, rondando silenciosos mas ameaçadores;
Mas por um instante era finda a queda livre,
Era findo o efeito anestésico que entorpecia a alma:
Sentia-se.
"Não pense agora. Sinta.
Use o pensar depois, para rememorar o sentir."

Não deixa de ser um lapidar cada vez mais dolorido
Essa busca pelo poético nos escombros expelidos
Pelo que a realidade devora;
As mãos doem, o peito se contrai, o medo traz temores,
Mas louca e santa a esperança baila despreocupada,
Indiferente aos tantos finais de mundo.
Bailo eu junto dela por alguns instantes
e o sol já deitou com doçura nos lençóis do horizonte...
Eu ainda volto, sim. Logo eu volto, sim.