16 de fev. de 2018

Era meio dia


Alguém já disse antes que em certos momentos é como se todas as janelas fossem fechadas ao meio dia.
Toda aquela luz que inundava todos os cômodos, todo o coração, de um instante para outro desaparecesse sem prévias ameaças.
Por um longo tempo é difícil ter de volta a recordação de que lá fora o mundo continua a existir, a girar, a brilhar, quando dentro tudo é escuro.
Que culpa tem você, os astros, os anjos, qualquer um, por eu ainda estar aqui, sem quebrar janelas, portas e paredes em busca de paz e claridade?
Eu amava aquele adeus... era tudo o que restara, você entende isso?
Sair da escuridão era aceitar que a vida não era dividida entre bem e mal, entre encontro e despedida, mas que era uma árvore de imensas e inúmeras raízes nutrindo-se de todo tipo de sentimento, ação e relação.
Não parece ser tão difícil prosseguir quando é possível se manter na superfície, quando não há necessidade de mergulhar mais fundo, ou depositar na terra alicerces mais fortes. Em não raros casos a vida pode ser matemática, exata, complexa mas sem mistério. Mas tem essas vezes, essas que precedem as janelas que se fecham ao meio dia... e é como se aquela árvore de raízes incontáveis começasse seu crescimento sem fim do ponto mais verdadeiro da alma. Então ela não cessa de crescer, e a vida continua a seguir, com ou sem a poesia, ela apenas continua a crescer e a florescer, sempre, lentamente, eternamente, nos fazendo a todo instante lembrar da beleza, do amor, do poético, da saudade.
Mesmo quando ainda é meio dia e as janelas continuam fechadas.