29 de mar. de 2012

Encantado


Ainda não acordei, ainda estou lá, tantos anos, nem sei, ou quero saber.
Ainda preciso da ilusão como do ar, e que não se ouse confundir com mentira, o que sinto é mais real do que o que toco.
Não que a vida tenha doído, nem dói. Vamos seguindo...


Mas se pudesse roubaria-te tão logo para mim, só para mim.
Pois a cada dia a certeza cresce. Aumenta. Aquece.
Quado há silêncio, há sua voz como canção.
Quando há fome, há sua boca.
Quando há dor, há sua mão.
Quando não há nada, ainda há você. Todo.


"Este excesso de realidade me confunde." - disse-me Adélia.
A mim também, tanto que corro até onde ele está e sem que saiba deito naqueles braços macios.
Porque sei que acabaria com o real por mim, levaria-nos novamente para nosso "era uma vez..."
Mostram coisas estranhas no noticiário. Pessoas que não sabem voar. Pessoas que não saber amar. Pessoas que sabem matar. Pessoas que sabem fingir.
Comprazem-se com barulhos estranhos, vazios.
As canções por aqui já não são mais orações...
Tantos muros altos, esperanças distantes, cansaços sem significado.
E eu imóvel.
Diante dos muros, dos livros, dos cacos, caos e ruídos.
Estou há milhas de distância de quem sou.


Vamos de volta, Anjo Meu?
Vamos de volta ao que sobrou da nossa antiga ignorância?
Vamos de volta ao não-saber.
Não quero ficar para sempre aqui, não quero essas dores para mim, para nós, para todos.
Vamos correr, correr enquanto temos poder sobre nossas escolhas.
Vamos de volta ao nosso mundo encantado; 
e se ele não existiu, vamos fazê-lo ser.

9 de mar. de 2012

Auto-ausência ou Síndrome de Alice


Acho que nunca tomei um café tão bom; sabe? Nem forte nem fraco, no ponto, bem doce.
Café de mãe é sempre o melhor do mundo.

Sei que pouco interessa a quem quer que seja, mas as ultimas semanas não foram das melhores, nem das piores, foram peculiares.

Boa parte do tempo fiquei melancólico, e em minha mente se refletia aquela cena de “Titanic” onde a personagem “Rose Dewitt Bukater” corre pelo convés do navio sentindo como se estivesse à beira de um precipício, onde não havia ninguém que a puxasse de volta, ninguém que ligasse, ninguém que ao menos a notasse... – mas sem aquele drama todo da cena – era mais como uma cena de filme mudo e lento. Causei confusão por isso, compliquei certas coisas, pensei que se eu tivesse muita, mas muita atenção, aquela que tive 9 meses atrás, eu não pularia pela milésima vez nesse precipício cruel. A verdade é que eu tinha a mesma atenção de sempre. A verdade é que tudo está bem, os gatinhos estão bem e danados que só, a música que toca é boa e o som está puro, o quarto está limpo e todas as pessoas que mais amo estão sob o mesmo teto, quase todas – mas todos estão, finalmente, bem.

Há lua imensa no céu, meu amor não demorará a chegar, “A invenção de Hugo Cabret” - finalmente li algo nesse mês! – é um ótimo livro, e repito, o café está ótimo!
Bem, eu caí no precipício, graças a Deus, pois a dor que senti nos últimos tempos foi pura falta de mim – e o temido precipício era eu mesmo. Como Alice que despenca numa toca de coelho, e encontra um mundo tão seu, tão assustador quanto sedutor.
Ainda não cheguei ao fundo, ainda sinto certa saudade de mim, daquele meu eu tão particular quanto universal. Sinto falta daquelas cores que eu via, daqueles sabores que provava e perfumes que sentia.           
Vou sentindo a queda então, mas agora sem medo, talvez eu esteja lá no fundo, sorrindo e com um abraço à minha espera.