16 de dez. de 2017

16/12


Talvez o amor seja simples.
Como o vento levando as flores de dente de leão
E espalhando pelo campo
E gerando novas sementes de dente de leão.

Talvez o amor seja morno, não quente.
Seja conhecer o sonho do outro.
Conhecer o sonho do outro tão bem
Que num certo ponto é meio que o próprio sonho também.

Talvez o amor não se dê para buscar, 
Mas sim o esperar bater na porta mesmo,
E a porta estar destrancada 
Enfim.

Talvez o amor não tenha morrido
Naqueles bons velhos tempos.
Talvez, talvez porque eu não poderia nunca afirmar,
O amor seja realmente eterno.


12 de dez. de 2017

Fênix


Por vezes, dentre tantas dores e descaminhos,
Restava uma nuance de esperança nos trilhos da vida.
Uma miragem bonita no horizonte,
Como aqueles pedaços de arco-íris
Que resistem alguns instantes suspensos no céu
Antes da volta permanente do sol.

Um segundo sem desespero
Nesse mar repleto de náufragos...

Dos mesmos olhos despidos de ilusão
Escorriam lágrimas quase impeceptíveis
Ao pensar numa esperança tão vaga,
Tão etérea e distante...
Mas presente, ali...
Fazendo-se existir.

Uma pequena bela angústia
Brotando dos dedos sujos e cansados de revolver o solo duro da fé.

E todas as partes arrancadas e murchando no solo quente,
Brotarão novamente, florescerão novamente.
Não poderão aprisionar nosso espírito,
Como não se aprisiona as cores de uma delicada flor.
É bem pouco esse contentamento descontente, eu sei,
Mas somos mais fortes e encantadores do que nos vemos.

Estão nos tornando cinzas;
Mas somos fênix...

2 de dez. de 2017

Tempo inverso


Se por uma vez apenas o tempo esquecesse a própria crueldade
E se dobrasse, adormecido e cansado sobre si mesmo,
Talvez não navegássemos mais nesse oceano de sonhos partidos
Onde sempre chove e trovoa,
E aportaríamos naqueles instantes em que mais do que felizes,
Éramos livres.

Todas essas estúpidas imagens e essas estúpidas vitórias
Encobriram de chumbo nosso delicado espírito.
Toda essa ânsia, essa fome, esse desejo...
Nossa angelitude agonizando nas mãos da ambição.
Nossa saudade se alimentando lentamente de cada memória.
Não seremos aqui outra vez apenas um canção...

Tudo não passa de uma convincente ilusão,
Ciscos, irrelevâncias na eternidade.
Mas pagaremos por todos nossos pecados,
Um a um,
Até não haver mais pelo que errar,
Então despertaremos.