2 de dez. de 2017

Tempo inverso


Se por uma vez apenas o tempo esquecesse a própria crueldade
E se dobrasse, adormecido e cansado sobre si mesmo,
Talvez não navegássemos mais nesse oceano de sonhos partidos
Onde sempre chove e trovoa,
E aportaríamos naqueles instantes em que mais do que felizes,
Éramos livres.

Todas essas estúpidas imagens e essas estúpidas vitórias
Encobriram de chumbo nosso delicado espírito.
Toda essa ânsia, essa fome, esse desejo...
Nossa angelitude agonizando nas mãos da ambição.
Nossa saudade se alimentando lentamente de cada memória.
Não seremos aqui outra vez apenas um canção...

Tudo não passa de uma convincente ilusão,
Ciscos, irrelevâncias na eternidade.
Mas pagaremos por todos nossos pecados,
Um a um,
Até não haver mais pelo que errar,
Então despertaremos.