28 de abr. de 2018

Slow Motion


Sempre há uma brecha,
Uma porta frágil demais,
Uma arma descarregada,
Um nó na garganta.
Uma brecha por onde eles entram,
Uma porta que eles arrombam,
Uma arma que não defende,
Um grito de socorro que não sai.

E mesmo naquelas noites
Em que dormimos regando os travesseiros
Com novas lágrimas de esperança,
O dia seguinte é o mesmo que o seguinte,
E o seguinte,
E o passado permanece queimando a fogo baixo,
Morno demais, quase esquecível,
Apenas para lembrar de tudo o que não nos tornamos.

Não esqueci que você estava lá,
Segurando forte minha mão
Enquanto pedras e bombas voavam
Naquele mundo acabando em slow motion.
E ainda irei lembrar da cor dos seus cabelos e olhos
E de como sorria, mas no fundo realmente nada está lá...
Eu comecei toda essa ilusão e luta,
Ou elas começaram comigo?

25 de abr. de 2018

Brando pranto


Esse morno rio escorrendo pela face
Silencioso, no escuro,
Só veio depois (e ainda durante) os meses e meses áridos,
Os anos e anos fingindo não entender os fatos.

Meu bem, mentiras bem-intencionadas
Não são menos mentiras, não são mais nobres.
Mas é da nossa natureza humana a insistência,
Uma razoável dose de fé, de ilusão.

E a esperança continua sendo umas das coias mais belas,
Como aquela chuva rápida que nada muda,
Mas tira um sorriso e uma lágrima do sertanejo desiludido
Com a secura da terra, dos dias, de uma vida inteira.

Um dia estaremos todos bem longe daqui,
Usando do espírito mais do que pequenos fragmentos danificados.
Será das dores, pequenas pedras preciosas
Guardadas num relicário de jovens e ancestrais lembranças.

Eu sinto muito, sinto tanto, já o disse.
Mas esse tanto foi e é nada além de, talvez,
Um desequilibrado começo;
Uma saudade do futuro.

Que falta faz,
Que imensa falta faz...
Vir à tona um pouco mais da plenitude
Da própria alma.

14 de abr. de 2018

31



Às vezes a gente se esquece do quanto é belo e humano;
Que por baixo das camadas de medo e pecado,
Vibra e canta, como uma ave do sertão,
Toda a poesia, toda a vida, até o amor.

Ah o Amor...
Não nos cruzamos há tanto tempo,
E talvez nunca tenhamos nos cruzado de fato,
Mas bem no fundo, ele ainda queima.

Tem horas que o pensamento flutua na linha do horizonte
E o coração diz que já está cansado de perder.
Mas que ilusão mais boba achar que se perde algo...
Quando nada lhe pertence, tudo apenas vem e vai.

É assim.
Pelo bem pouco que sei, a vida é assim.
Não é que eu não seja grato,
Acho que ter fé já é o maior ato de gratidão.

Sempre digo que não ligo,
E no fundo aprendi a não ligar mesmo.
Mas tudo quanto é coisa me bota pra pensar,
O passar dos anos não seria diferente.

E já são 31.
Que era a vida aos 21, que será 41?
A vida nunca deixa de ser uma criança nos braços da gente,
Você não acha?

Algumas coisas que não sei, eu suponho.
Suponho que de alguma forma está tudo certo assim,
Mesmo sem acreditar por demais nisso...
Tem isso, o tempo ensina a gente a aceitar.

4 de abr. de 2018

05/04


Para crescer também é preciso aprender a deixar partir; pessoas, ilusões, crenças; às vezes.
Havia sim a sensação de que o coração se tornara um cacto no deserto, daqueles que levam anos para florescer, e quando florescem, não há quem assista sua beleza antes do sol levar embora toda sua graça.
Nada está muito no lugar que parece ser o certo, mas talvez seja esse o certo, por ora.
Algumas dores se tornaram cansaço e algumas formas de amor se tornaram algo que os poetas ainda não criam palavras para nomear.
Esse espetaculoso bailar da fragilidade e da fúria da vida me assusta e fascina.
E talvez soframos dessa forma por coisas mínimas porque no fundo a alma é grande demais e se fere por estar confinada em coisas, sentimentos e espaços tão pequenos.
Crescer dói. Dói muito.
Essa pele que se rompe a cada dia, o olhar que aos poucos se expande e vê um pouco mais adiante. Mas é uma dor que ainda chamaremos de bendita, um dia.
Você riria muito se soubesse o que me levou às lágrimas hoje, e talvez se emocionasse com a forma como ainda resistimos, mesmo andando na linha do limite.
Um dia, eu sei, não daremos mais dez passos para trás e um para frente. Apenas caminharemos, lentamente, calmamente. Juntos.

3 de abr. de 2018

Tanto


Por alguns instantes peculiares
É quase possível vislumbrar o que a alma guarda,
Guarda fundo, abaixo de camadas densas de realidade.
E é como um pássaro forte, em chamas, o que ali habita,
Repleto de poder e vida,
Cortando um céu azul e brilhante,
Sem medo da queda,
Sem medo da altitude.

Naqueles dias ele chegou próximo de crer na liberdade,
E hoje aquelas memórias me assombram,
Porque não há mais nada por aqui que possa outra vez
Trazer as chaves da cela em que ele adormece,
Cansado da espera,
Cansado das suas asas dobradas,
Que lutam para não perder a força e o calor.

Nada mais é agora o mundo
Do que um misto de medo, saudades e ânsias.
E vencer o passar dos dias é apenas sobreviver.
Ainda assim, é hora de criar pouco a pouco,
Com muito esforço, as próprias chaves para essa prisão.
Tantas coisas prometeram nunca partir
E quando se foram, foram sem remeter até um adeus.

Então constantemente o silêncio fere sem matar,
Um silêncio exótico, mais profundo,
Que mesmo repleto de palavras
É ausente de qualquer comunicação,
Qualquer conexão.
Se fôssemos nós mesmos,
Tenho certeza,
Seríamos tanto!
Tanto...