3 de abr. de 2018

Tanto


Por alguns instantes peculiares
É quase possível vislumbrar o que a alma guarda,
Guarda fundo, abaixo de camadas densas de realidade.
E é como um pássaro forte, em chamas, o que ali habita,
Repleto de poder e vida,
Cortando um céu azul e brilhante,
Sem medo da queda,
Sem medo da altitude.

Naqueles dias ele chegou próximo de crer na liberdade,
E hoje aquelas memórias me assombram,
Porque não há mais nada por aqui que possa outra vez
Trazer as chaves da cela em que ele adormece,
Cansado da espera,
Cansado das suas asas dobradas,
Que lutam para não perder a força e o calor.

Nada mais é agora o mundo
Do que um misto de medo, saudades e ânsias.
E vencer o passar dos dias é apenas sobreviver.
Ainda assim, é hora de criar pouco a pouco,
Com muito esforço, as próprias chaves para essa prisão.
Tantas coisas prometeram nunca partir
E quando se foram, foram sem remeter até um adeus.

Então constantemente o silêncio fere sem matar,
Um silêncio exótico, mais profundo,
Que mesmo repleto de palavras
É ausente de qualquer comunicação,
Qualquer conexão.
Se fôssemos nós mesmos,
Tenho certeza,
Seríamos tanto!
Tanto...