30 de jun. de 2014

Obrigado por partir meu coração


Obrigado por partir meu coração.
Obrigado por enterrar meu coração.
Obrigado por ser paciente com meu coração.
Obrigado por enxergar meu coração.

Meu coração é semente,
Antes tão dura e seca sobre areias mortas,
Antes tão dura e seca sob o sol escaldante.
Obrigado por germinar meu coração.

Agora, deste coração partido cresce vida esverdeada de esperança,
Frágil e bela como toda criança.
É semente de flor o que dei às tuas mãos.
Obrigado por fazer do meu coração perfume e cor.  

Meu coração é pequeno,
Ínfimo numa Terra tão grande, num universo cheio de tanto infinito.
Até dói tanta imensidão lá fora...
Obrigado por acolher meu coração.

Obrigado por tirar a distância entre a realidade e o sonho.
Obrigado por ser o guardião nas noites que são escuras demais.
Obrigado por não deixar para sempre meu coração como semente.
Obrigado por trazer a primavera para dentro de mim.

29 de jun. de 2014

O tempo


Os dez minutos anteriores à chegada: eternos.
As doze horas seguintes: um relâmpago.
As horas de insônia: longas e frias como um inverno inteiro.
As horas adormecidos juntos, no calor dos corpos: ligeiras como o sol se pondo.

A fotografia: saudade eternizada.
O instante registrado: veloz, veloz, veloz...
O rápido beijo da borboleta numa flor: fecundada.
A flor fecundada: abrigo da eternidade.

Banhar meu corpo: outra ligeira obrigação.
Banhar seu corpo: ocasião sagrada para acariciar templo divino. 
O abraço de chegada: mais longo que onze anos de escuridão.
O abraço de partida: um infinito falho, que não cumpre sua função.
O beijo: a duração de um desabrochar. 
O olhar: o nascer do sol após a noite tão escura...

Que ninguém se engane:
O que conta a passagem do tempo não são os ponteiros do relógio,
Mas as batidas do coração.

25 de jun. de 2014

Pedras atrás das flores




Escondi todas aquelas pedras atrás das flores.
Pedras tão sujas, tão ásperas, tão frias.
Eternamente duras em sua inumanidade. 

As recolhi, uma a uma, sujando as mãos que anseiam te acarinhar,
Abaixando até elas, me aproximando do que elas são.
Aproximando-me daquela vergonha e feiura.

Eu não via o céu enquanto as recolhia,
Mas sentia o sol arder nas minhas costas magras.
O céu permanece lá... também a esperança.

Escondi minhas pedras atrás das flores sem perfume,
Flores belas, cor de fogo.
Escondi apenas aos olhos, pois na alma elas ainda permanecem...

Elas ainda permanecem...
Pequenos troféus inglórios,
Troféus para as fraquezas, medos, derrotas.

Cada uma delas, um pequeno pecado tão pesado,
Amontoados e, enfim, ignorados.
Elas agora sustentam erguidos os galhos tão floridos da Primavera.

23 de jun. de 2014

Correr


Se eu pudesse aproveitar as ruas vazias,
os corações vazios;
Aproveitar que todos mudaram de dimensão,
aproveitar que os olhos cegos ainda mais cegos estão...
Para correr, correr, correr...
Me aproximar.

Se eu não temesse minha pequenez,
a miudeza em tantos sentidos,
A imensidão das limitações e dos defeitos;
Se eu não temesse o temor...

Eu estenderia à luz do sol poente as imensas asas,
E como nos sonhos fugiria dos fantasmas sem nome;
Iria ao teu encontro, velozmente.
Deitaria você em minhas costas, em penugem macia.

Para que enfim
tudo fique logo para trás, como um dia irá mesmo ficar.
Para que enfim
tudo se consume de fato, como um dia irá mesmo se consumar.
Para que enfim
tudo seja visto do alto e completamente, não mais em fragmentos.

Sem mais silêncio,
Sem mais frio,
Sem mais ausência.
Apenas a ânsia,
Apenas o calor,
Apenas o amor.

20 de jun. de 2014

Solo Sagrado


Deixo aos filósofos a dor da questionável verdade,
Deixo às crianças os mundos mágicos, 
que certamente existem,
E apenas elas são capazes de ver e adentrar.
E não criticarei os autoproclamados "sãos" por não enxergarem algo além.

A mim, permito o amor,
Mesmo tão consciente da minha indignidade perante ele.
Certa vez um Homem disse que aquele que muito ama
tem seus muitos pecados perdoados...

Então acalento em mim amor imenso,
Capaz de envolver e abraçar meus tantos erros;
Como a terra que, carinhosa, aninha a semente falha e faz dela bela flor.
Trago em em mim imenso amor porque por anjo ele me foi dado.

Caminhei onde nossos pés deixaram suas marcas leves,
Naquela doce tarde azulada, de sol tímido, de beleza recatada.
Pus-me em silêncio a agradecer, a sofrer de doce saudade,
a admirar o ipê rosado no horizonte não tão distante.

Deixo a nós o amor,
Um traço feliz num mundo de tantas cicatrizes profundas, amargas.
Deixo a nós aquela fé infantil e pura,
Porque em todos os caminhos que passamos
persiste o perfume dos nossos sonhos.



19 de jun. de 2014

Placebo


Todas aquelas canções sobre saudade...
Remédios tão doces para uma dor tão amarga.
Placebos, na verdade...
O que cura a alma é apenas a carícia da outra alma.

Nas tempestades agarro-me ao mastro roto do navio da minha fé.
Lambo o sal do mar que pousa em meus lábios,
Os músculos enrijecem-se, preparam-se, temem...
O coração esfria.

A tempestade passa.
A calmaria deita sobre oceano, 
Como uma feiticeira silenciosa,
Mas eu ouço sua respiração, eu prevejo seus planos.

Está em meus olhos esse oceano,
Esse mar, esse rio, esse riacho.
Não há espaço na Terra para mais lamentos, mais cansaços,
Então, nunca mais direi outra vez que minhas lágrimas são de tristeza.

Todo dia é o último dia em que uso palavras,
Todo dia eu morro, todo dia eu venho à luz.
Todo dia o silêncio de Deus me fala mais sobre ele.
Todo dia adormeço em seus braços macios,
distante quinhentos quilômetros deles.

17 de jun. de 2014

In color


Ainda existem flores quando você não está.
Ainda existe o jardim com suas humildes belezas.
Mas não há cor para os meus olhos...
Cada pétala desbota-se com sua ausência,
E os suaves perfumes são levados pelos ventos da saudade.

E quando preparo-me para abrir o peito ao meio,
Sonhos e lembranças seguram minhas mãos,
Com delicadeza.
O Sonho, uma criatura linda e otimista, 
projeta aos meus olhos a imagem de um próximo abraço, um próximo beijo.
A Lembrança, refinada dama, entrega-me um álbum de fotografias;
Imagens apenas nossas,
Partículas luminosas de passado.

Então se aproxima humilde e delicada menina,
Menina ora feliz, ora tristonha:
É a Poesia.
Entrelaça seus dedinhos meigos aos meus, tão rudes e maculados,
Convidando-me para brincar no jardim.
É insano, eu digo, faz escuro e não há cor ou perfume aqui...
E ela, com a inocência e o carinho de toda criança, me diz:
"Mas há dentro de ti!"

16 de jun. de 2014

Eu que não sei quase nada de amar



Eu que não sei quase nada de amar, amo.

Uns dizem que o amor morreu, lá atrás, junto das rosas e das cartas
E de um tempo em que existiam mais eternidades.
Outros, que o amor é o ouro dos tolos,
Um último refúgio, abrigo, esperança, em meio ao caos estúpido e sem sentido aparente da vida.
A frágil dama disse que o amor é um jogo de azar, que se joga acreditando nunca perder.
A bela deusa disse que o amor é como a chuva, que cai lavando a tristeza, levando embora a dor.
Para o menino, tão pequenino, o amor são asas fortes, que quebram as correntes de vento e o elevam acima do que há acima das nuvens.
Para o pecador, o amor é a remissão dos pecados, 
A segunda chance divina, 
A prova de que Deus tem bons ouvidos.

E para mim, que não sei quase nada de amar, mas tanto amo,
O amor é uma tarde de outono, quase inverno...
Os ipês que margeavam o velho e humilde córrego faziam chover suas flores rosadas, lentamente;
O sol flutuava no céu como uma memória feliz;
E você estava ali, ao meu lado - com seus olhos que, de tão perfeitos, causam inveja até ao azul do firmamento -
Oferecendo docilidades, pequenas promessas, um toque de leve na pele para não incomodar os mais ignorantes.
O amor, todo ele, toda a imensidão dele, é estar sentado ao seu lado;
Olhando para a mesma direção, para os mesmos sonhos.
Com uma corda de felicidade amarrada de um lado do coração, 
e uma corda de tristeza amarrada ao outro lado, 
cada uma puxando para o seu lado.

O amor é ter o coração ao meio, e continuar em vida.
É descobrir, maravilhado, que o sagrado reside em todas as coisas.
Que tudo, cada átomo, está impregnado de uma força Superior.

O amor é olhar sem desespero para a distância,
Pois só ele torna o mundo um grão de areia,
E aqueles que o sentem, maiores que os oceanos.

Para mim, mesmo não sabendo quase nada de amar,
O Amor é o que mantém acesa e aquecida a alma,
O que mantém, verdadeiramente, a vida viva.

8 de jun. de 2014

'Has to be'


Em um universo cheio de tantos infinitos deve haver algo além das minhas dúvidas mesquinhas.
Precisa haver.
Ainda que a fé seja frágil e delicada, 
sensível como a flor que se atira em minhas mãos,
presenteando-me com suave perfume;
Ainda que ela parta e retorne, queime e congele, constantemente,
eu sei que ela existe.
Precisa existir.

Já não olho para os outros olhos com o mesmo medo de outrora.
Todos remamos juntos, agora estou certo, para a mesma direção;
Somos pequenas crianças petulantes que pensam carregar algumas certezas.

Os anos deslizaram, as dores envelheceram e fertilizaram a terra do Jardim.
Apenas o coração, que tudo vê e tudo sente, permanece o mesmo menino,
Porém é mais calmo.

Um sopro e o mundo desaba, uma palavra e ele se reedifica. 

Em um oceano de tantos sentimentos:
leves,
pesados, 
simples, 
complexos, 
rasos, 
profundos;
Algum é eterno,
e dá sentido a tudo que é inexplicável.

Precisa ser.

5 de jun. de 2014

Velhos Paraísos



O vento leve e morno do outono 
é como um abraço macio e demorado
que eleva meus pés do chão estéril 
e deita-me nas relvas frescas dos meus velhos paraísos.

Um dia bastou esse vento e o sol
pra que a felicidade desabrochasse como as flores rosadas do canavial.
Bastou o silêncio e o bailar das árvores
para que eu brincasse na areia branca com meus poderes mágicos.

Lentamente dissipam-se,
como o frio da manhã,
os lamentos e expectativas.
Assim, o sono é calmo, o corpo repousa
como que em um barco, embalado por ondas preguiçosas.

Velejamos juntos...
Torpor e sobriedade, sonho e realidade,
Para todo lugar e lugar algum.

Continuo acreditando que as nuvens são castelos de algodão,
Não por desconhecer a verdade, mas por opção.
Continuo acreditando que ainda tenho o poder de cruzar o céu,
nas tardes e nas madrugadas,
Sobrevoando bosques e cidades com asas feitas de ilusão.
Continuo, ainda que, na verdade, eu não exista.

2 de jun. de 2014

Insisto



Aninho-me em palavras mortas de início de inverno.
São elas tão frias quanto o vento das madrugadas negras, 
mas ao menos permanecem.
Tortas, falhas, fracas; permanecem.
Por que insisto?
Por que continuo como se não fosse um dia pagar por minhas blasfêmias?
Por minhas crenças? Por minhas dúvidas?

Mas ainda assim insisto,
Porque há na passagem das horas, dos caminhos, das dores e das alegrias,
Uma busca infinda pelos mínimos instantes mágicos.
(Há esta sede e esta fome, nunca menores, sempre maiores a cada dia.)
Tento me obrigar a acreditar que ainda é vida o que vivo quando não está,
Quando não há teu perfume e maciez, quando não há tua voz e teu sabor.

Contento-me com a abóboda de cores quentes que me envolve no fim da tarde;
Contento-me com as flores que nascem belas e perfumadas em um dia, e se despedaçam no outro;
Contento-me com as sutis gentilezas, com as pequenas palavras amigas, com o olhar meigo e inocente do bichano dormindo sobre meu peito.
Alimento minha ânsia pelo Amor e pela Beleza com esses pequenos milagres.

Até que venha novamente,
Até que tome minha alma nos braços e ela tenha, enfim, verdadeiro repouso.
Até que a satisfaça da tua abundante claridade,
E eu não mais a obrigue a se manter de migalhas.