30 de jul. de 2011

Como quem procura...


Acordei sentindo você sobre a minha pele,
Como se você estivesse despertando junto de mim,
Naquela cama pequena, velha e fria.
E é tão real que ainda restava seu gosto em minha boca, em minhas mãos em meus devaneios.
Em todo meu corpo havia o calor do seu; dos seus braços, do seu peito e pelos,
Aquele calor que me acaricia, e germina, e reaviva.

Eu caminho de pés nus pelo chão empoeirado de madeira,
Vago pelos cômodos vazios como quem procura... quem procura.
A manhã me serve um bom-dia através da luz que projeta em minha janela, 
em minha cortina de plástico vagabundo e tão florido, tão bonito.
E eu me sinto simples.

Já partira a madrugada com sua lua;
sua bela lua branqueada,
que me acompanha em todos adormeceres quiméricos,
e em todos despertares desesperançosos.

Também começo a acreditar na desistência das sombras.
Começo a limpar meus céus cinzas, minhas almas perdidas, meus corações medrosos... 
todos meus eus bandoleiros.
Também começo a sentir desabroches nos meu jardins estáticos.

É inverno, bem o sei; mais do que qualquer um saberia.
É inverno, bem o sinto; já que sou eu as pastagens secas e incendiadas, 
sou eu as folhas amontoadas no asfalto, 
os galhos ressequidos nas copas das árvores.
Mas assim também sou eu, os ipês rosas explodindo em vida,
E os amarelos que zombam das calamidades do mundo com todo seu gozo, alegria e cor.
Sou eu, tudo e qualquer coisa, dentro de mim, e ao redor.

Logo haverá sua mão na minha, e talvez eu tremendo em meu constante medo de não ser bom o bastante para meus milagres tão rogados.
Mas eu estarei aqui, ansioso por ti.
Com certeza matemática, eu estarei aqui, esperando por sua vinda...
E estarei sorrindo.

28 de jul. de 2011

Real foi meu diálogo com a lua...


As portas à minha frente não param de abrir e fechar.
Todas as dóceis senhoras têm perfume de rosas...
Ou é meu coração que se abre e se fecha?
Ou é meu espírito adornado de alecrins?

É manhã macia, pequeno meu.
E eu aqui, tão estático em meus devaneios perigosos,
Acorrentado num tráfego diário que pode ser denominado de qualquer forma, menos real, para mim.
Eu, peça minúscula dessa engrenagem suja, fria, absurda.

Real foi meu diálogo com a lua...
Aquele risco de luz em forma de sorriso.
Eu pedia: ‘Desce Madrinha! Desce, pois a prometi como sublime presente àquele que descobri amar! Nada nesse mundo poderia ser tão belo e digno quanto você é!’
‘Desce... pois preciso tentar retribuí-lo por devolver-me o sangue quente nas veias, a leveza no espírito, a claridade nos olhos.’
Mas a lua, com voz mansa me foi dizendo... ‘menino meu... eu já sou dele, e sua, e de todos os que em mim depositam suas promessas. Permita-me ficar aqui onde alcanço-os todos, onde os abençoo sempre. Minha luz vos pertence, assim como vocês pertencem um ao outro.’

Nesse instante lágrimas frescas me fluíram; lágrimas leves...
Eu entendi que o sentimento não se alimenta unicamente da presença, mas também da sintonia, da afinidade, da saudade... essas coisas que vão além do toque.

Porém, o que me dói, anjo meu, é limitar minha luz.
É estar emaranhado nessa rede estúpida que não me apresenta um propósito,
Que sufoca aquele que eu verdadeiramente sou, e preciso a todo custo lhe oferecer.

Eu sou mais, menino meu.
Mais que o garoto frágil que todos os dias você socorre com tanta doçura.

Um dia, espero que num próximo dia, eu mostrarei meu real tamanho, minha real força.
Pois que em meus sonhos eu sou tão grande de espírito que sou capaz de ver cores e luzes que as almas emanam.
É com esse eu que ainda ei de lhe brindar, espero, em breve.
É com essa intensidade que quero ladrilhar nossas estradas.
É com esse amor que quero nos nutrir, nos guiar.

13 de jul. de 2011

Preciso-te

Eu vou mergulhando na sua distância.
No que fica de nós quando você se despede de mim naquele portão velho...

Minha pele já não tem o meu cheiro, mas o seu.
Meu coração já não quer mais buscar, mas te seguir.
Minhas mãos tem ânsias absurdas de tocar todas as ruas, todas as árvores, todos os muros,
toda a cidade, para saciar a vontade de tocar sua face.

E esses dias vão se arrastando... rindo dos meus desejos, da minha necessidade de ti.
E essas noites são curtas... deixando-me tão pouco em teus braços macios e quentes, enquanto neles, sonho.

Eu vou reinventando os instantes. Tentando suprir a ausência com luares, nasceres do sol, desabrochamento de flores, borboletas gigantes azuis, perfume de jasmins. 
Mas tudo, que antes era tanto, agora é tão pouco...
De ti é emanada uma luz fabulosa, magnânima, que me subtrai de mim mesmo, deixando-me nu, em minha essência mais pura. E qualquer coisa, quando comparada a isso, parece efêmera... sutil demais.

Eu vou resgatando seus sorrisos nas nossas canções, vou resgatando suas expressões nas crianças que brincam distraídas. Vou extraindo fragmentos da sua voz nos ruídos que os anjos emitem de suas asas imensas.
Mas que dias longos, meu amor...
Que dias amarelados e longos.
Que manhãs frias, tardes secas, noites escuras.

Contigo tudo é tão primaveril. 
Os Silfos modelam nuvens douradas e púrpuras para nós. 
Os ipês derramam flores mil pelos gramados...
Há tanta paz, há tanto aconchego.
Distantes, o silêncio me consome, a ausência do seu toque me põe em chamas.

Preciso-te tanto aqui, a cada dia percebo que mais.
Preciso-te tanto em mim, sobre minha pele, sob minha alma,
tornando-me pacífico, humano,
vivo.

5 de jul. de 2011

Dos milagres


Havia um milagre nessa tarde.
Quem o viu?
Diga-me por favor!
Quem entre todos poupou um segundo de vida a favor dele?
Havia um milagre no fim dessa tarde...

Era o sol, se pondo em forma de uma fogueira ancestral, tingindo de ouro as neblinas remanescentes da manha fria. Manhã fria que gotejou perfumes, bênçãos em forma de florinhas.
Fez-se o céu um manto de fogo suave; 
vermelhas, laranjadas, púrpuras... dançavam as nuvens por entre os prédios, árvores secas e catedrais.
E parecia ser apenas eu ali, perdido com passos lentos e desconexos, ouvindo canções tristes e olhando para o céu pintado, milímetro a milímetro, por Deus.
Todos estavam tão ocupados para a vida... estavam presos em suas empresas, presos em seus lares, presos em seus desejos imensos, consumindo felicidades sintéticas, enlatadas, sem tempo para a beleza real que gritava alucinadamente bem acima de suas cabeças.

Eu só queria ficar ali, perdido naquela claridade macia e infinita, 
acreditando que tudo de mais importante já estava diante de minhas mãos.
Eu não queria mais sair em batalhas, eu queria adormecer naquele instante, e estender... estender o momento até o sempre.
Eu quis mergulhar naquela luz, e rir junto dos serafins que fabricam as nuvens fofas.
Depois, fazer-me gota reluzente e me fixar no manto negro como pequena estrela calada.

Pena tão logo as claridades terem cessado... 
a noite chegara tão escura e silenciosa.
O céu, antes bordado em ouro, rende-se a um escuro abissal.
E faz frio; e você, distante.
Pena eu não ser detentor de poderes grandes, capazes de perpetuar algumas intensidades.
Pena haverem finais felizes, pois são finais.

Porém, quem sabe amanhã haja outro sol!
Ainda maior, ainda mais belo, ainda mais sorridente!
Quem sabe amanhã, estejamos separados por apenas mais um dia...
E não por todos os fantasmas que alimentei em minha alma.
Quem sabe amanhã eu acorde com tua face diante do meu olhar outra vez,
e isso seja capaz de me ressuscitar para um novo dia, uma nova vida, uma nova estrada.