16 de jun. de 2018

15/06


Deixar para trás as ruas daquela cidade foi de uma paz espiritual tão grande... Pois que antes, entre e atrás de tantos muros, luzes e concretos, ainda resistia um pequeno arbusto, um emaranhado de memórias, ilusões e esperanças, mas que por fim, já não existe mais.
Nosso coração habita onde o amor resiste, e depois que você foi embora não havia o que amar naquele lugar.
Tenho evitado falar de você. Não apenas porque tudo foi se desintegrando com o passar dos anos e "você" se tornou apenas uma ideia, uma expressão de algo maior, mas porque "você" implica em uma pessoalidade que não faz sentido mais.
Mas passando por aquelas avenidas frias, por aquele sufoco cinza de um lugar onde a noite já estende seu manto às quatro da tarde, eu tentava olhar em cada um das centenas de rostos, imaginar sua história, seu cansaço, sua dor nas costas, nos pés, nos caminhos que ainda percorreriam, no tempo até enfim poder colocar a chave na porta de casa. Eu me imaginada vivendo aquelas vidas, aquelas histórias que eram tão opostas e tão idênticas à minha. "Você" voltava a ser você.
Eu não precisava mais te desmistificar, tirar seu pedestal, seu trono. Eu fui por tanto tempo seu trono, seu pedestal. Para mim você era tudo, para o mundo, mais um.
Quando eu fui embora Adele cantava para mim. O frio e a garoa embaçavam as janelas e eu sentia finalmente que não deixava nada para trás. A sensação era de voltar para o sol, voltar para mim mesmo, e talvez essa forma de amor tão calma e humilde, sem estardalhaço, seja a forma mais genuína de amor possível.


5 de jun. de 2018

05/06/2018


Quanto de mim havia restado nisso que se move por entre as rotinas dos dias depois de todo esse tempo? Quanto de tudo isso sou eu?
Por quais desses pecados devo pagar e quantos frutos tenho realmente o direito de colher e saborear?
A sensação é de ver o coração pelo lado de fora. Aos redores; escombros, memórias partidas, sentimentos se deteriorando ao relento, tudo coberto por pequenas e frágeis plantas floríferas.
Não sei mais o que no fundo do peito habita, ao menos não o que existe além dos seus alicerces e paredes, que novas ou velhas, cansadas ou não, sempre estarão de alguma forma em pé.
A luz entra por frestas nesse cenário bucólico, quase sempre triste e denso, mas por vezes aconchegante.
Estou cansado. Sentado nas raízes de uma velha e imensa árvore presa em um interminável aspecto outonal. As folhas caem, nascem, e voltam a cair.
De longe, eu sinto, uma força protetora observa tudo com atenção, e ainda que não me tome em seu braços, fecho meus olhos e sinto que posso chorar como o menino de antes, por todas minhas saudades, todas minhas fraquezas e súplicas adormecidas com o passar dos ventos e dos tempos.
Eu me lembro de tudo, de cada detalhe luminoso, de cada dia nublado que não permitia a proximidade do calor do sol. De nós, deles, de cada coisa.
Mas já não existe aquela estranha forma de paixão pela dor que o amor deixou. É esta uma era sem títulos, sem metáforas, sem pedido subliminar de socorro.
Aportamos na realidade há pouco, alguns meses, e hoje o navio que nos trouxe para essas terras partiu veloz pelo oceano de ilusões. Ficamos.
E de tudo, de todos os sonhos, esperanças e crenças, apenas um pedido continuou na bagagem: que nessa nova terra não haja chance do medo fazer tão grande morada.

13 de mai. de 2018

A vida é bela


Por vezes quase esquecemos de como é a sensação do vento acariciando a pele,
Do cheiro das flores quando chega o inverno e o céu é tão azul e tão imenso.
Esquecemos de como a claridade transpassa as folhas e deita suave no chão.

A vida é bela.
Mesmo que de dia em dia, ela nos soque no estômago,
Sugue nosso ar e nossa visão por tempos,
Ela permanece bela.

Uma beleza que independe da felicidade,
Mas da paz.
Que independe da extinta e infantil esperança,
Mas de uma fé ainda sem nome, mais uma espécie de revolta.

As memórias já não podem ser mais absolutamente nada
Além de fantasmas estáticos, imóveis como os móveis,
Parados nos cantos, repletos e inutilidades e poeira.
Apenas notados quando falta a luz e tateamos em direção à saída.

Somos ainda um pouco mais do que essa casca,
E quando tudo faltar, sugaremos das pedras a seiva para manter a vida.
Eu ainda sinto o vento, ainda sinto o cheiro das flores de inverno.
A vida é bela.


28 de abr. de 2018

Slow Motion


Sempre há uma brecha,
Uma porta frágil demais,
Uma arma descarregada,
Um nó na garganta.
Uma brecha por onde eles entram,
Uma porta que eles arrombam,
Uma arma que não defende,
Um grito de socorro que não sai.

E mesmo naquelas noites
Em que dormimos regando os travesseiros
Com novas lágrimas de esperança,
O dia seguinte é o mesmo que o seguinte,
E o seguinte,
E o passado permanece queimando a fogo baixo,
Morno demais, quase esquecível,
Apenas para lembrar de tudo o que não nos tornamos.

Não esqueci que você estava lá,
Segurando forte minha mão
Enquanto pedras e bombas voavam
Naquele mundo acabando em slow motion.
E ainda irei lembrar da cor dos seus cabelos e olhos
E de como sorria, mas no fundo realmente nada está lá...
Eu comecei toda essa ilusão e luta,
Ou elas começaram comigo?

25 de abr. de 2018

Brando pranto


Esse morno rio escorrendo pela face
Silencioso, no escuro,
Só veio depois (e ainda durante) os meses e meses áridos,
Os anos e anos fingindo não entender os fatos.

Meu bem, mentiras bem-intencionadas
Não são menos mentiras, não são mais nobres.
Mas é da nossa natureza humana a insistência,
Uma razoável dose de fé, de ilusão.

E a esperança continua sendo umas das coias mais belas,
Como aquela chuva rápida que nada muda,
Mas tira um sorriso e uma lágrima do sertanejo desiludido
Com a secura da terra, dos dias, de uma vida inteira.

Um dia estaremos todos bem longe daqui,
Usando do espírito mais do que pequenos fragmentos danificados.
Será das dores, pequenas pedras preciosas
Guardadas num relicário de jovens e ancestrais lembranças.

Eu sinto muito, sinto tanto, já o disse.
Mas esse tanto foi e é nada além de, talvez,
Um desequilibrado começo;
Uma saudade do futuro.

Que falta faz,
Que imensa falta faz...
Vir à tona um pouco mais da plenitude
Da própria alma.

14 de abr. de 2018

31



Às vezes a gente se esquece do quanto é belo e humano;
Que por baixo das camadas de medo e pecado,
Vibra e canta, como uma ave do sertão,
Toda a poesia, toda a vida, até o amor.

Ah o Amor...
Não nos cruzamos há tanto tempo,
E talvez nunca tenhamos nos cruzado de fato,
Mas bem no fundo, ele ainda queima.

Tem horas que o pensamento flutua na linha do horizonte
E o coração diz que já está cansado de perder.
Mas que ilusão mais boba achar que se perde algo...
Quando nada lhe pertence, tudo apenas vem e vai.

É assim.
Pelo bem pouco que sei, a vida é assim.
Não é que eu não seja grato,
Acho que ter fé já é o maior ato de gratidão.

Sempre digo que não ligo,
E no fundo aprendi a não ligar mesmo.
Mas tudo quanto é coisa me bota pra pensar,
O passar dos anos não seria diferente.

E já são 31.
Que era a vida aos 21, que será 41?
A vida nunca deixa de ser uma criança nos braços da gente,
Você não acha?

Algumas coisas que não sei, eu suponho.
Suponho que de alguma forma está tudo certo assim,
Mesmo sem acreditar por demais nisso...
Tem isso, o tempo ensina a gente a aceitar.

4 de abr. de 2018

05/04


Para crescer também é preciso aprender a deixar partir; pessoas, ilusões, crenças; às vezes.
Havia sim a sensação de que o coração se tornara um cacto no deserto, daqueles que levam anos para florescer, e quando florescem, não há quem assista sua beleza antes do sol levar embora toda sua graça.
Nada está muito no lugar que parece ser o certo, mas talvez seja esse o certo, por ora.
Algumas dores se tornaram cansaço e algumas formas de amor se tornaram algo que os poetas ainda não criam palavras para nomear.
Esse espetaculoso bailar da fragilidade e da fúria da vida me assusta e fascina.
E talvez soframos dessa forma por coisas mínimas porque no fundo a alma é grande demais e se fere por estar confinada em coisas, sentimentos e espaços tão pequenos.
Crescer dói. Dói muito.
Essa pele que se rompe a cada dia, o olhar que aos poucos se expande e vê um pouco mais adiante. Mas é uma dor que ainda chamaremos de bendita, um dia.
Você riria muito se soubesse o que me levou às lágrimas hoje, e talvez se emocionasse com a forma como ainda resistimos, mesmo andando na linha do limite.
Um dia, eu sei, não daremos mais dez passos para trás e um para frente. Apenas caminharemos, lentamente, calmamente. Juntos.

3 de abr. de 2018

Tanto


Por alguns instantes peculiares
É quase possível vislumbrar o que a alma guarda,
Guarda fundo, abaixo de camadas densas de realidade.
E é como um pássaro forte, em chamas, o que ali habita,
Repleto de poder e vida,
Cortando um céu azul e brilhante,
Sem medo da queda,
Sem medo da altitude.

Naqueles dias ele chegou próximo de crer na liberdade,
E hoje aquelas memórias me assombram,
Porque não há mais nada por aqui que possa outra vez
Trazer as chaves da cela em que ele adormece,
Cansado da espera,
Cansado das suas asas dobradas,
Que lutam para não perder a força e o calor.

Nada mais é agora o mundo
Do que um misto de medo, saudades e ânsias.
E vencer o passar dos dias é apenas sobreviver.
Ainda assim, é hora de criar pouco a pouco,
Com muito esforço, as próprias chaves para essa prisão.
Tantas coisas prometeram nunca partir
E quando se foram, foram sem remeter até um adeus.

Então constantemente o silêncio fere sem matar,
Um silêncio exótico, mais profundo,
Que mesmo repleto de palavras
É ausente de qualquer comunicação,
Qualquer conexão.
Se fôssemos nós mesmos,
Tenho certeza,
Seríamos tanto!
Tanto...




29 de mar. de 2018

Flutua


Enquanto descia aquelas mesmas eternas ruas
Pensava que aqueles nossos pequenos tesouros da alma
Continuam existindo
Preciosos e sagrados
Guardados onde um dia
Talvez próximo
Talvez distante
Serão novamente descobertos
Até lá não há mais palavras
Palavras que resistam para descrever
Outra e mais uma vez a mesma saudade
A mesma dor
O mesmo amor
A nova distância
Fico com o que da poesia flutua
Nesse oceano tempestuoso
Onde nada se vê
E ninguém se aproxima
Até a calmaria
Até o esquecimento.

28 de mar. de 2018

"Travessia"

Para mim o que define o nascimento de um livro é a emoção que primeiramente ele causa em mim mesmo. Quando os poemas que coloco ali me tiram alguma emoção de novo, fazem jorrar alguma lágrima de sentimento, eu sinto que devo tornar aquele trabalho físico. Publicar, chamar a atenção das pessoas, como se dissesse: "Olha isso aqui que eu vi! Olha isso aqui que eu senti! É até bonito."
'Travessia' foi escrito em uma das fases mais duras, mas é leve, tem esperança, diz que vai ficar tudo bem.
É meu 12º livro e o primeiro que dedico a alguém. Dedico a minha irmã Gracietti por ser forte por mim e por me salvar do meu maior medo.
É um livro de vivência, sentimentos intensos, maturidade, gratidão.
Posso dizer que me orgulho muito dele, que me orgulho desse percurso até chegar nesse 12º porque tanta coisa foi vivida e sentida, mas estamos aqui. E eu sei, logo atravessaremos mais essa estrada, e um destino mais leve e bonito nos aguarda.
O livro está disponível em https://goo.gl/9aJBQ7


15 de mar. de 2018

Pequenos sonhos



Algumas coisas partidas dentro de nós não poderão mais ser consertadas...
Mas alguns pequenos e belos milagres que residem no fundo da alma também não poderão nos ser tirados, nunca mais.
Um dia amamos e sofremos as duras penas desse amor,
E suas cicatrizes doem com o virar das estações.
Um dia sonhamos, e esses sonhos estão tão fundidos à nossa alma,
Aos nossos ossos,
Que nada pode tirá-los de lá,
Mesmo a lonjura do tempo, mesmo o passar das distâncias.
Quando toda escuridão for menos densa,
Quando mais de nós conseguirmos acender nossos pequenos espíritos,
A esperança irá voltar,
Como aquelas flores púrpuras voltam em todo agosto.
Todos aqui estão tão tristes e cansados,
Como se vissem um poente que nunca termina,
A previsão de uma noite muito escura que ameaça
E nunca chega.
Mas virá a madrugada cheia de seus pequenos diamantes no céu,
E virá a aurora e nós estaremos de pé,
Com muita ou pouca fé
Que alguém ouve com carinho nossos pequenos sonhos.

6 de mar. de 2018

"Vivo" - Do livro "Travessia"


Profundas feridas cobertas por delicados e belos curativos.
Espalhamos flores pelos caminhos onde um dia espalhamos amor.
Não é de todo mal...
Os tempos são outros.
Dores vieram antes das ameaças,
Adeuses se repetiram de novo e de novo,
Até que se entendesse a fragilidade do encontro.
Nasceremos e morreremos falando da esperança?
Essa utopia é às vezes distópica,
Como uma aurora austral pouco vista e jamais atingida.
Vamos considerar que amamos.
Vamos considerar que somos inocentes até certo ponto.
Que tudo isso que parece tão torto e confuso está certo
Como deveria ser
Mesmo de algum jeito difícil de entender.
Pequenos ajustes nessa vida que baila livre e desengonçada,
Rodopiando em meio ao salão;
Embriagada, empurrando as mesas,
Às vezes causando espanto,
Às vezes causando alegria.
Sei que isso é o mais próximo da liberdade,
E é bonito...
E eu sinto tanto,
Mas eu quase me sinto digno,
E é tão bonito...
O que restou foi a verdade,
Dócil ou severa,
Mas a verdade.
É madrugada,
Faz silêncio.
Os anjos repousam e eu não oro para não despertá-los.
Sei que estamos todos tão cansados,
Mas ainda há o jardim divino de flores imperfeitas.
Logo teremos cores e frutos.
Colheita, a inevitável.
Nossa forma primitiva, mas também sublime de Amor, reluz...
Talvez seja verdade,
Talvez sejamos já nosso melhor, neste momento.
Talvez, em algum lugar fundo em nossa alma,
Deus espera paciente que nós nos perdoemos,
Que amemos a nós mesmos,
Finalmente.

#travessia

clubedeautores.com.br/book/249856--Travessia

22 de fev. de 2018

Corações selvagens


Adentraram nosso reino sagrado,
Por isso sangramos.
Trouxeram para a catedral dos nossos sonhos
Ladrões e feiticeiros.
Saquearam nossas relíquias e distribuiriam a bárbaros.
Zombaram da mais pura forma de sentimento
Que já pudemos gerar.
Qual a surpresa agora que nossos corações são selvagens?

Mas vocês não derrubarão esses muros outra vez.
Não calarão nosso urro mais uma vez.
Vocês sujam as próprias trevas em que se arrastam,
Vocês já mal conseguem submergir do próprio mar de mentiras.
Não terão ainda nossas lágrimas de saudade e revolta.
Nossa luta não será no campo de falsos heróis.

Podemos ver limpidamente o poente escarlate agora.
Sua lança e seu fel não penetram nossa carne.
Quando o fim chegar não estaremos de joelhos.
Nosso espírito está em chamas!
Nossa carne ainda resiste!

Vocês não notam, mas permanecemos exatamente aqui,
Vencendo,
Sem garras, sem armaduras.
Quando os caminhos se abrirem para nossa vitória
Eles serão trilhados pelo amor.

17 de fev. de 2018

Preciosidades



Um diamante no fundo da terra não tem valor. 

Quem sou eu, mas talvez a preciosidade de qualquer coisa esteja não só em sua raridade, mas nas mãos; nas mãos que colheram, que lapidaram; nas mãos que colheram e semearam.
É sempre tempo de colheita, de semeadura, de dura luta, de saudade, de floração. 
Quando o coração está mais puro, vê-se que tudo emana amor: as pequenas flores brancas da jabuticabeira, pequenos pompons brancos delicados, a semente brava que resistiu ao inverno e no verão cresceu toda sorrindo, a fé que volta depois de dura distância, como o verde volta pro sertão depois de longa estiagem.
Eles se assustam quando dizemos que o amor é eterno. Porque soa como um pedido, como um nunca se vá daqui, mas a eternidade do amor também reside calma e branda no peito, como aquela árvore solitária no campo que flori tão bela sem que ninguém sinta seu aroma.
Ainda estamos aqui, meu caro, minha cara... Ainda caímos nos caminhos do erro e da fraqueza, pecamos contra nós mesmos, desistimos, mas o coração é como uma terra bruta, pedregosa, que um dia não abrigou nada além de restos e escombros, mas hoje, pacientemente, ora ou outra, flori tanto.
Eu já vi isso antes...


16 de fev. de 2018

Era meio dia


Alguém já disse antes que em certos momentos é como se todas as janelas fossem fechadas ao meio dia.
Toda aquela luz que inundava todos os cômodos, todo o coração, de um instante para outro desaparecesse sem prévias ameaças.
Por um longo tempo é difícil ter de volta a recordação de que lá fora o mundo continua a existir, a girar, a brilhar, quando dentro tudo é escuro.
Que culpa tem você, os astros, os anjos, qualquer um, por eu ainda estar aqui, sem quebrar janelas, portas e paredes em busca de paz e claridade?
Eu amava aquele adeus... era tudo o que restara, você entende isso?
Sair da escuridão era aceitar que a vida não era dividida entre bem e mal, entre encontro e despedida, mas que era uma árvore de imensas e inúmeras raízes nutrindo-se de todo tipo de sentimento, ação e relação.
Não parece ser tão difícil prosseguir quando é possível se manter na superfície, quando não há necessidade de mergulhar mais fundo, ou depositar na terra alicerces mais fortes. Em não raros casos a vida pode ser matemática, exata, complexa mas sem mistério. Mas tem essas vezes, essas que precedem as janelas que se fecham ao meio dia... e é como se aquela árvore de raízes incontáveis começasse seu crescimento sem fim do ponto mais verdadeiro da alma. Então ela não cessa de crescer, e a vida continua a seguir, com ou sem a poesia, ela apenas continua a crescer e a florescer, sempre, lentamente, eternamente, nos fazendo a todo instante lembrar da beleza, do amor, do poético, da saudade.
Mesmo quando ainda é meio dia e as janelas continuam fechadas.

14 de fev. de 2018

Falo às palavras


Talvez eu amasse o eu em você, talvez eu amasse em você tudo o que em você havia de mim em uma versão aperfeiçoada, praticamente perfeita.
A versão finalizada de uma obra que é lapidada tão lentamente.
Isso explica uma saudade que vinha do âmago para fora.
Seria mais fácil acreditar que tudo é apenas uma grande mentira. Acreditar na imaturidade do meu espírito que tão facilmente se deslumbrou com cores e luzes. Mas não havia caminho fácil e eu sabia que eu não era do tipo que conseguia negar a verdade.
Sei que novos ventos irão soprar nas velhas e rotas velas que ainda se mantêm hasteadas.
A vida segue, mesmo quando parece não haver mais haver tranquilidade no mar por onde se navegar.
Eu amo. Agora um amor só meu. Que me faz olhar uma flor e chorar sorrindo. "Agora você está entendendo o que é ser homem" diria um sábio amigo.
Nossas fragilidades são tão belas...
Bem lá no fundo, ainda restava fagulhas daquele velho amor pela dor, por ser ela tudo o que restou de tempos mais singelos e belos.
O mundo era grande, as distâncias eram imensas, mas tínhamos ao nosso favor nossa inocência recém reclama.
Então veio a luz, e antes de nos cegar parcialmente revelou tudo o que existia além daqueles mundos encantados; não fora, mas dentro da gente. Ainda que amássemos, tínhamos pecados, fraquezas tantas, orgulhos a se ferir, pequenos e grandes medos. Era de se esperar que ruíssemos. E ruímos.
Falo às palavras apenas, ninguém mais ouve a minha voz.
O mundo que abriga minhas fantasias é escuro e silencioso como essa madrugada, e dorme.
Que bom assim.

15/02


Talvez tudo se trate de inspirar pessoas. Comovê-las. Então isso gera uma força misteriosa que vai se alastrando e muda o mundo ou muda ao menos pequenos mundos particulares.
Quão honestos conseguimos ser conosco? Com os outros é mais fácil porque honestidade com terceiros vem com o brinde de "olha como sou leal e maduro". Mas ser honesto consigo é quase sempre uma constatação de pequenos fracassos. Por exemplo, não passei no vestibular (edit. eu passei), escrevi doze livros que juntos não venderam 350 cópias, já passei dos trinta e não faço ideia do que é pra fazer com a maior parte da vida, tenho vergonha de marcar uma consulta. A gente vai vivendo, sobrevivendo, desviando das catástrofes e às vezes esperando um milagre, um boom que mude o rumo da história, as com 99% de chance tudo vai continuar exatamente igual ao que sempre foi.
E tem as pessoas; tão parecidas as pessoas; quase cópias. Mais um motivo para dizerem que somos todos filhos do mesmo Pai.
E tem a saudade. Ainda saudade.
Deus me livre dessa vida besta, viu.
E esperança a gente tem porque é preciso, é de bom tom. A gente vai confiando, mas esperando o pior. Andando devagar pra não cair em alguma vala.
Que porre.
A vida segue, as árvores crescem e estamos cansados pra cacete de morrer por migalhas todos os dias e nos acharmos demônios pelos menores deslizes.
Mas está tudo bem, precisa estar. Mesmo não estando porra nenhuma.

13 de fev. de 2018

Ciclos

Uma constatação simples é essa dificuldade em encerrar ciclos. Remover velhas plantas para não sufocar as novas, desistir de um possível relacionamento que claramente é um placebo para a solidão, entender o que é o fim, entender o fim mais definitivo que se possa haver; quando aquilo que foi um amor agora caminha por uma bela cidade a centenas de milhares de quilômetros; a insistência em versos que a poucos causam alguma emoção. 

Ciclos...

Dizíamos sempre sobre pessoas com asas e pessoas com raízes no mundo, mas havia as quimeras, criaturas híbridas, meio pássaro, meio árvore, numa luta constante com a própria natureza. 
Pra esses, os inícios e términos doem um pouco mais. São um pouco mais intensos. Nunca se está perfeitamente confortável, nunca se está exatamente onde se deveria estar. 
Tento pensar que há alguma beleza nisso. Como naqueles olhos azuis e castanhos no mesmo rosto. 
A gente se acostuma com adeuses e encontros... 
Quando as raízes começam a mergulhar no solo, é hora de outro adeus, outra batida em outra hospedaria.  
Não é fácil e seria tão bom se alguém entendesse...  

Então, adeus novamente. Que a luz se faça diante dos seus passos.
E olá, prazer, desculpe essa timidez e não repare minha desordem... Fui pego por uma tempestade de surpresa no caminho até aqui.
Vamos começar?


Adquira "Travessia" em: https://www.clubedeautores.com.br/book/249856--Travessia#.WoMbRVSnEdU

12 de fev. de 2018

Lançamento de "Travessia"


"Travessia" é minha 12ª aventura com a palavra poética.

Já são centenas de páginas preenchidas com todo tipo de sentimento... desde o mais singelo e puro amor, até o silêncio mais frio trazido pela ausência da esperança.

Como disse Simone de Beauvoir: "O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida." Mas além disso, não apenas o sabor da uma vida, mas de toda e qualquer vida que se desnudara diante de mim.

Traduzir "Travessia" em poucas palavras é uma ambição tola. O livro apenas nasceu, sem pretensões, sem obrigações. Nasceu como um simples caminhar por uma ponte que leva de um lado para outro, mas cujas paisagens opostas não se diferem tanto assim. "Travessia" é esse caminhar pelos dias da vida, alguns mais ensolarados, outros mais nebulosos; é o caminhar às vezes exausto, às vezes preenchido por uma beleza e uma energia divinas; sempre, por fim, com a esperança de dar aos olhos o presente de a imagem mais profunda e poética que repousa em todas as coisas, como uma pedra rara e inestimável, esperando sua lapidação no âmago morno da terra até que mãos hábeis possam extrair dela toda beleza..

"Travessia" é esse convite a seguir atento aos sinais, onde em tudo reside o Sagrado.


VENDA > https://www.clubedeautores.com.br/book/249856--Travessia#.WoFJXFSnEdU

11 de fev. de 2018

Aventuras internas

Nunca fui arrogante diante da minha aventura com a prosa e poema, nem teria condições de sê-lo. Sempre fui consciente das minhas limitações assim como sempre fui consciente do meu amor pela palavra, pelo sentimento esculpido em versos e textos. Antes de qualquer herói, antes de qualquer filosofia, a poesia foi minha companheira, minha guardiã, meu lar. Isso desde os 11 anos. Em 2018 finalizo meu 12º trabalho com a escrita e isso é valioso para mim porque impregno minha própria alma em cada letra que é impressa no papel e que, com sorte, algum olhar percorrerá, como uma mão macia percorre um corpo desnudo. Se a poesia me levou até onde eu queria ou necessitava, nunca saberei, porque nunca houve qualquer ambição além de, de alguma forma, alcançar alguma outra alma. Talvez em alguns momentos isso tenha sido possível. Certamente é um grande desejo que esses trabalhos atinjam mais pessoas, não pela questão financeira que é plenamente irrisória, mas pela pura necessidade de criar conexão com outros corações. Não me equivoco em dizer que esses 12 livros são a condensação do que acredito ser o Amor. Então este relato é um apelo, sim, a quem puder divulgar ou até adquirir algum desses trabalhos. Isso me dá força a continuar acreditando que o mundo também é um lugar belo, onde podem coexistir sentimentos que se nutrem e se compartilham através do verso. Cada um que estiver disposto a cooperar nesse valioso processo de gerir um mundo mais belo e menos árido, tem a minha imensa gratidão.


Vendas > https://goo.gl/TzLzCC


10 de fev. de 2018

Tantos adeuses



Te amar carregava a dor de te perder todos os dias.
Você sempre tão belo e reluzente,
Como letreiros da Broadway
Anunciando o próximo grande espetáculo.

Eu continuava meu vagar pelas ruas estreitas
De uma vida estreita,
Mas você já podia flutuar pelas avenidas largas e iluminadas
De um novo belo mundo.

Foram incontáveis adeuses... Meu Deus, tantos adeuses.
A vida já ruiu e se refez tanto,
E de novo: “Adeus, te amo.”

Eu amaldiçoo a felicidade
De ver aquele olhar azul a primeira vez.
O azul profundo onde mergulhei sem pensar
Que nunca mais submergiria novamente.

9 de fev. de 2018

Travessia



Já não se podia saber quanto da antiga alma havia sobrado.
Alguns momentos de coragem e outros de estupidez
Ainda conseguiam fazer o coração bater um pouco mais
Fora do ritmo da canção,
Algumas paisagens ainda pareciam novas,
Mesmo tantos anos depois.

Havíamos desistido da santidade há muito,
Mas restavam alguns princípios para tirar a adrenalina dos dias
E preencher com um tipo de velhas e raçosas culpas católicas,
Como aquelas que sentíamos ao mentir aos padres
Quando éramos pequenos e ainda temíamos o inferno.

Não perdemos toda nossa fé, disso eu sei.
Em alguns momentos espremidos entre medo e maturidade,
Ousamos errar para seguir na luta pelo que nutrirá o coração:
O amor nunca deixará de ser a busca primordial.

Os dias são bem outros; os demônios estão chamando,
Mas nós dançamos por um instante sob a luz da lua
Como se fôssemos jovens e seguros de novo e para sempre.

Todos os versos repousarão na terra como sementes estéreis,
Mas semeamos, mas esperamos.

Pois somos crianças covardes, mas ainda assim, Deuses.


Logo, "Travessia"

3 de fev. de 2018

Sentia-se


Voltara a conseguir ver relâmpagos mornos de um poente escarlate.
Havia sim (como haveria de não haver?) no mesmo céu densas nuvens,
Negrumes frios, rondando silenciosos mas ameaçadores;
Mas por um instante era finda a queda livre,
Era findo o efeito anestésico que entorpecia a alma:
Sentia-se.
"Não pense agora. Sinta.
Use o pensar depois, para rememorar o sentir."

Não deixa de ser um lapidar cada vez mais dolorido
Essa busca pelo poético nos escombros expelidos
Pelo que a realidade devora;
As mãos doem, o peito se contrai, o medo traz temores,
Mas louca e santa a esperança baila despreocupada,
Indiferente aos tantos finais de mundo.
Bailo eu junto dela por alguns instantes
e o sol já deitou com doçura nos lençóis do horizonte...
Eu ainda volto, sim. Logo eu volto, sim.