23 de abr. de 2013

Despedida



Não há mais nada para ser dito.
O que sei sobre a vida para gastar tantas palavras?
Sempre estive dentro desse quarto escuro,
vendo a existência passar como nuvens lentas pela janela.
Sem perceber, eu fui deixando de te regar até você murchar, poesia minha.
Já não há mais espaço para suas teorias e boas intenções.
Sei que sempre esteve gentil ao meu lado,
Mas estamos enganando um ao outro.
Você de pouco ou nada mais serve,
E eu sou um instrumento vago e fraco demais para continuar tentando te forjar.
Estou cansado, poesia minha.
E não apenas de te buscar por todos os caminhos e lugares.
Estou cansado de muita coisa...
Tanta coisa que nem ouso dizer,
Seria pecado.

Agradeço cordialmente por todas as vezes que me salvou.
Tantas foram as noites e dias em que apenas tive você.

Não chore, não chore assim que me parte o coração,
poesia minha!
Não vê que está chegando o momento de desmoronar meus esconderijos?
A vida, as pessoas, o tempo, nada é dócil como você,
poesia minha.
Tudo é áspero e prático lá fora.


Vê onde estou?
Com os olhos que me deu não fui muito longe...
Sim, vi sim coisas que muitos não viram.
Vi os milagres brotando nas entrelinhas da vida fria.
Mas esses milagres tão sutis não saciam mais minha fome constante.
Já não posso mais continuar sobrevivendo de restos,
poesia minha.
Você precisa entender...
Não há mais onde nós dois possamos chegar.

Não peço que vá embora.
A casa é sua, pode ficar.
Eu é que vou.
Vou porque não estou feliz,
E embora eu não saiba se existe algum tipo real de felicidade lá fora, eu preciso voltar a estar em movimento.
Eu preciso tentar.

Talvez, amada poesia minha,
Talvez se eu encontrar um pouco mais de você nessas minhas andanças,
Talvez se, ao contrário do que acredito, ainda existir o suficiente de você em mim e na vida, eu volte sorrindo.

Por ora é adeus.
Não suporto mais ver você agonizando diante de mim.