20 de jun. de 2020

21/06


O primeiro e o último ❤
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Foram 12 livros, centenas de páginas, milhares de versos, inúmeros sentimentos. Como uma grande e íntima amiga, a poesia sempre esteve ali. Às vezes em palavras, às vezes em silêncios e contemplações. E não há como saber se  a escrita é um resultado que parte de mim ou se eu sou um resultado da escrita. Nos fundimos; ambos tão amadores, tão imperfeitos, mas de coração sempre quente, mesmo quando sem suas chamas, mesmo quando resumido a pequenas brasas. 
E foi ela, a poesia, a me dar a mão, na chegada e na despedida do amor; foi ela a dar motivos de esboçar algum sorriso quando as luzes todas pareciam ter se apagado. E ela resiste nesses dias confusos e envoltos numa penumbra que nos assusta, como persiste na memória, como um arbusto se entranhando e florescendo pelos vãos de saudade de dias mais leves e ensolarados. 
Eu sei que ela ainda vive porque eu ainda vivo.
Já ninguém nos busca, ninguém nos encontra, mas nós nos bastamos, e seguimos semeando... dias após dia, páginas após página, sonho após sonho.

15/06


Todas as ruas se parecem com ruas de dias de domingo, mas sem as crianças correndo nos parques, sem os idosos pelas calçadas com seu aspecto doce e contemplativo, sem os fiéis reunidos em seus louvores e exaltações.
Alguns dizem ser tempos sombrios, enquanto outros dizem que momentos severos assim abrem frestas nos espíritos endurecidos, e que é só assim que a luz entra. Eu não sei quem está com a razão, eu já nem ao menos sei se a razão ainda nos acompanha.
Sei que o mundo não é mais o mesmo. Sei que somos extremamente humanos, com tudo de belo e tudo de miserável que tal fato nos concede.
Sei que nossas vidas não são números.
E a cidade naufragada em silêncio, em distância e em isolamento, me faz sentir saudade do som daqueles velhos versos, como vidros quebrados em uma caixa; versos tolos, ingênuos, em resposta a amores frágeis e sonhos tão delicados.
Então a poesia se achega, repousa no meu colo... Não há muito a ser dito, e eu já não contenho o pranto. Também tenho medo, também tenho frio. Mas o pranto é em oração pela Esperança que ainda não debandou dessas terras, nem desse peito. A Esperança, o pequeno dom que restara no fundo dessa Caixa de Pandora.
Agora que temos os lábios escondidos, aprendemos então a sorrir com os olhos; agora que não podemos contemplar a beleza de novos campos, aprendemos a semear e a esperar...
E eu enfim entendo a cidade como entendo meu coração, essas ruas e caminhos abandonados, por onde já não se deve mais caminhar...
Pequenos e grandes vazios, lá fora, aqui dentro.
O que virá depois se houver depois?
Abrir, talvez, essas comportas.
Dar vazão.
Deixar livre toda essa beleza contida.
Voltar para os Jardins do fundo da alma, cuidar, ressemear.
A claridade cinematográfica da tarde ronda os pensamentos junto de uma brisa de perfume delicado.
Uma canção ajuda a criar lembranças de coisas que nunca aconteceram.
  • É o coração que se recusa a parar de bater...

10/06





Parece cada vez mais distante um mundo de sabores mais intensos e cores mais vibrantes. Quando é que poderemos voltar a sonhar com algo além da sobrevivência? 
Parece ingratidão achar que não basta o céu azul lá acima, com suas nuvens delicadas se movendo na brisa suave; parece egoísmo querer mais que o perfume adocicado e gentil das flores tantas, que silenciosamente aguardam a noite de inverno. 
Hoje o homem me disse: "O mundo precisa de mais pessoas como você." Sem saber que assim como por ele, tão pouco faço pelo mundo. 
E já tantas palavras gastas falando de uma preciosidade escondida por montanhas de constrangimento e vergonha, mas e se ao vencer o medo, chegar ao âmago e nada encontrar? Ou menos que isso, encontrar o que se finge não ser?
É impossível não pensar, logo é impossível não sentir, logo é impossível não sofrer. 
Mas algumas cores resistem luzindo, uma canção fala de velho desejo tão puro, que mesmo sucumbindo como todos os demais, esteve ali enquanto conseguiu se alimentar de migalhas de uma ilusão preciosa. 
O sol já se deita dourando as copas floridas das árvores no pequeno jardim. 
E eu penso que deve haver um espaço neutro entre a tristeza e a felicidade, entre o medo e a paz, entre o amor e a indiferença; uma terra sem rei, sem lei. Onde por alguns instantes se deita e se o observa o rolar das nuvens do céu antes da próxima batalha, da próxima ânsia, da próxima súplica.