20 de jun. de 2020

10/06





Parece cada vez mais distante um mundo de sabores mais intensos e cores mais vibrantes. Quando é que poderemos voltar a sonhar com algo além da sobrevivência? 
Parece ingratidão achar que não basta o céu azul lá acima, com suas nuvens delicadas se movendo na brisa suave; parece egoísmo querer mais que o perfume adocicado e gentil das flores tantas, que silenciosamente aguardam a noite de inverno. 
Hoje o homem me disse: "O mundo precisa de mais pessoas como você." Sem saber que assim como por ele, tão pouco faço pelo mundo. 
E já tantas palavras gastas falando de uma preciosidade escondida por montanhas de constrangimento e vergonha, mas e se ao vencer o medo, chegar ao âmago e nada encontrar? Ou menos que isso, encontrar o que se finge não ser?
É impossível não pensar, logo é impossível não sentir, logo é impossível não sofrer. 
Mas algumas cores resistem luzindo, uma canção fala de velho desejo tão puro, que mesmo sucumbindo como todos os demais, esteve ali enquanto conseguiu se alimentar de migalhas de uma ilusão preciosa. 
O sol já se deita dourando as copas floridas das árvores no pequeno jardim. 
E eu penso que deve haver um espaço neutro entre a tristeza e a felicidade, entre o medo e a paz, entre o amor e a indiferença; uma terra sem rei, sem lei. Onde por alguns instantes se deita e se o observa o rolar das nuvens do céu antes da próxima batalha, da próxima ânsia, da próxima súplica.