11 de dez. de 2020

11/12/10 - 11/12/20

 


Na noite de 11/12/2010 eu realizava um desejo muito especial que foi publicar meu primeiro livro de prosa poética. 

Sempre achei petulância dizer que fiz poesia, quando na verdade eu apenas senti a necessidade de colocar em palavras o que não cabia mais só na alma. Mas ao longo desses dez anos e de treze livros eu vi que o que eu fazia era sim também poesia, porque poesia deixou de ser um estilo literário e se tornou uma forma de sentir, se tornou um sentimento, se tornou um estado de espírito. 

Tenho a consciência de que a minha existência está entre as mais ordinárias das existências humanas, mas a palavra, o verso, o Belo, trouxeram muitas vezes a chuva para o agreste da alma, e a fizeram florescer. 

"Dez anos de poesia" encerra de forma singela, humana e feliz esse processo que se iniciou com "Em meu Jardim Secreto..." e o sentimento que persiste de tudo isso é a gratidão.

 

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."


Clarice Lispector


http://clubedeautores.com.br/livro/dez-anos-de-poesia

28 de set. de 2020

LANÇAMENTO - "DEZ ANOS DE POESIA"

 


Eu disse em um post anterior que eu gostaria de publicar "Dez anos de poesia" em um dia especial para mim. Então eu decidi adiantar o lançamento online do livro, porque hoje é um dia especial, sem dúvida. Porque durante semanas difíceis, e especialmente no dia de hoje, eu percebi como tenho pessoais incríveis, inigualáveis, ao meu redor, e como, mais uma vez, o amor delas me salvou. 

A poesia, em seu sentido mais amplo e mais nobre, é isso. Muito mais do que as palavras ou os versos, a poesia é o que há de Belo no sentimento humano. E hoje eu encerro esse dia com o espírito repleto de gratidão por ser digno de receber sentimentos tão nobres.

"Dez anos de poesia" nasceu... está entre nós. Um trabalho simples, amador, mas repleto do que de mais precioso eu consegui enxergar nessa vida.

Que a poesia resista e traga um pouco de luz a tempos tão obscuros e difíceis;

Que o Amor, o Verdadeiro Amor, também resista, e continue a nos salvar.


Para adquirir, acesse: clubedeautores.com.br/livro/dez-anos-de-poesia

24 de set. de 2020

"Dez anos de poesia"

 


Foram 137 horas diante do computador editando, escrevendo, reescrevendo, sentindo, vivendo e relembrando. Foram cerca de 3 meses desde que decidi, em comemoração aos 10 anos do meu primeiro lançamento, elaborar uma coletânea de escritos, depurando tudo o que escrevi até hoje e resultando em "Dez anos de poesia". 
Hoje este trabalho está finalizado.
Eu não sou escritor, eu não sou poeta, e não digo isso por falsa humildade. Sou apenas alguém que sente, que absorve, talvez até demais, muitas coisas. A palavra, ou o que eu tenho a presunção de chamar de poesia, é o meu socorro, a minha salvação para lidar com o mundo que existe dentro e ao redor de mim. 
Talvez seja arrogância minha achar que a alguém possa interessar visões e percepções que podem ser tão íntimas, mas eu acredito que de alguma forma nossos sentimentos estão todos conectados, e a palavra, a prosa, o verso, muitas vezes podem acessar essa conexão e criar algo bonito. 
É esse meu objetivo com "Dez anos de poesia": criar algo bonito. Mesmo que algo muito simples, muito amador. Mas algo bonito. Porque como disse Adélia Prado: "O Belo não é um luxo, é uma necessidade humana".
Eu trabalhei nesse livro com absolutamente o máximo da minha alma, com uma vontade e um amor que talvez eu nunca tenha acessado antes. Enquanto o mundo vive uma pandemia, enquanto o amor chegava e partia, eu mergulhei o mais profundamente possível nas palavras para tentar buscar o que de melhor eu tenha a oferecer.
Nesse processo eu tive o estímulo de pessoas incríveis. Cada vez que sentido de tudo parecia se perder, alguém dizia algo ou emitia algum sinal me motivando a continuar. 
E por ter continuado eu anuncio que em 12 de outubro o livro estará disponível no site do Clube de Autores. Como é um trabalho tão importante para mim, quero que seja lançado em um dia sagrado também.
Desde já deixo meu imenso agradecimento aos meus amigos que puderem adquirir o livro, e aos que não puderem, meu imenso agradecimento também por todo apoio!


4 de jul. de 2020

Dez anos de poesia





A Poesia é atemporal, mas dez anos se passaram desde o início do meu humilde e amador mergulho por suas águas belas e profundas, e além de um motivo de alegria para mim, foi esse o principal estímulo para este livro.
Para ser exato, são dez anos passados desde o lançamento do meu primeiro livro de prosa poética “Em meu Jardim Secreto...”, mas a poesia sempre me acompanhou e sempre irá acompanhar, porque ela está muito além das palavras, dos versos, das prosas.
A Poesia está onde está o Belo, onde está o Sentimento, onde está a Emoção. Está no transbordar da alma! E nos dez anos subsequentes ao lançamento do primeiro livro, não foi ela a ser meu instrumento para materializar tudo isso, eu é que fui o dela. Um instrumento tão simples, rústico, desafinado, muito ciente das próprias limitações, mas que ela tenta com tanto amor tocar e tirar alguma beleza.

Dez anos de poesia nasce da gratidão pelo relacionamento tão gentil e duradouro que nós temos.
Aqui eu trago uma antologia dos meus escritos prediletos ao longo dessa década. Nesse período escrevi doze livros com poemas e prosas poéticas. Doze livros que são como diários de bordo pelos tantos mares de sentimentos que cruzei. Alguns calmos, azulados, repletos de brilho e vida; e outros densos, ameaçadores, com tempestades no horizonte próximo.
Então, o que considero essencial nos meus trabalhos anteriores está condensado e reeditado aqui, juntamente de escritos inéditos.
A minha pequena ambição com a escrita sempre foi criar algum tipo de conexão com quem lê, apenas isso. Mostrar que os sentimentos que habitam em mim também habitam no outro, mesmo que sejam traduzidos por formas e por palavras diferentes. Mostrar que de algum jeito estamos todos conectados, porque somos todos frutos da mesma essência. E embora não nos comovamos com as mesmas coisas, temos os mesmos sentidos para absorver aquilo que o mundo nos oferece.
Meu convite é que a partir de agora naveguemos juntos por essas águas, então.
Que façamos boa viagem!

20 de jun. de 2020

21/06


O primeiro e o último ❤
.
Foram 12 livros, centenas de páginas, milhares de versos, inúmeros sentimentos. Como uma grande e íntima amiga, a poesia sempre esteve ali. Às vezes em palavras, às vezes em silêncios e contemplações. E não há como saber se  a escrita é um resultado que parte de mim ou se eu sou um resultado da escrita. Nos fundimos; ambos tão amadores, tão imperfeitos, mas de coração sempre quente, mesmo quando sem suas chamas, mesmo quando resumido a pequenas brasas. 
E foi ela, a poesia, a me dar a mão, na chegada e na despedida do amor; foi ela a dar motivos de esboçar algum sorriso quando as luzes todas pareciam ter se apagado. E ela resiste nesses dias confusos e envoltos numa penumbra que nos assusta, como persiste na memória, como um arbusto se entranhando e florescendo pelos vãos de saudade de dias mais leves e ensolarados. 
Eu sei que ela ainda vive porque eu ainda vivo.
Já ninguém nos busca, ninguém nos encontra, mas nós nos bastamos, e seguimos semeando... dias após dia, páginas após página, sonho após sonho.

15/06


Todas as ruas se parecem com ruas de dias de domingo, mas sem as crianças correndo nos parques, sem os idosos pelas calçadas com seu aspecto doce e contemplativo, sem os fiéis reunidos em seus louvores e exaltações.
Alguns dizem ser tempos sombrios, enquanto outros dizem que momentos severos assim abrem frestas nos espíritos endurecidos, e que é só assim que a luz entra. Eu não sei quem está com a razão, eu já nem ao menos sei se a razão ainda nos acompanha.
Sei que o mundo não é mais o mesmo. Sei que somos extremamente humanos, com tudo de belo e tudo de miserável que tal fato nos concede.
Sei que nossas vidas não são números.
E a cidade naufragada em silêncio, em distância e em isolamento, me faz sentir saudade do som daqueles velhos versos, como vidros quebrados em uma caixa; versos tolos, ingênuos, em resposta a amores frágeis e sonhos tão delicados.
Então a poesia se achega, repousa no meu colo... Não há muito a ser dito, e eu já não contenho o pranto. Também tenho medo, também tenho frio. Mas o pranto é em oração pela Esperança que ainda não debandou dessas terras, nem desse peito. A Esperança, o pequeno dom que restara no fundo dessa Caixa de Pandora.
Agora que temos os lábios escondidos, aprendemos então a sorrir com os olhos; agora que não podemos contemplar a beleza de novos campos, aprendemos a semear e a esperar...
E eu enfim entendo a cidade como entendo meu coração, essas ruas e caminhos abandonados, por onde já não se deve mais caminhar...
Pequenos e grandes vazios, lá fora, aqui dentro.
O que virá depois se houver depois?
Abrir, talvez, essas comportas.
Dar vazão.
Deixar livre toda essa beleza contida.
Voltar para os Jardins do fundo da alma, cuidar, ressemear.
A claridade cinematográfica da tarde ronda os pensamentos junto de uma brisa de perfume delicado.
Uma canção ajuda a criar lembranças de coisas que nunca aconteceram.
  • É o coração que se recusa a parar de bater...

10/06





Parece cada vez mais distante um mundo de sabores mais intensos e cores mais vibrantes. Quando é que poderemos voltar a sonhar com algo além da sobrevivência? 
Parece ingratidão achar que não basta o céu azul lá acima, com suas nuvens delicadas se movendo na brisa suave; parece egoísmo querer mais que o perfume adocicado e gentil das flores tantas, que silenciosamente aguardam a noite de inverno. 
Hoje o homem me disse: "O mundo precisa de mais pessoas como você." Sem saber que assim como por ele, tão pouco faço pelo mundo. 
E já tantas palavras gastas falando de uma preciosidade escondida por montanhas de constrangimento e vergonha, mas e se ao vencer o medo, chegar ao âmago e nada encontrar? Ou menos que isso, encontrar o que se finge não ser?
É impossível não pensar, logo é impossível não sentir, logo é impossível não sofrer. 
Mas algumas cores resistem luzindo, uma canção fala de velho desejo tão puro, que mesmo sucumbindo como todos os demais, esteve ali enquanto conseguiu se alimentar de migalhas de uma ilusão preciosa. 
O sol já se deita dourando as copas floridas das árvores no pequeno jardim. 
E eu penso que deve haver um espaço neutro entre a tristeza e a felicidade, entre o medo e a paz, entre o amor e a indiferença; uma terra sem rei, sem lei. Onde por alguns instantes se deita e se o observa o rolar das nuvens do céu antes da próxima batalha, da próxima ânsia, da próxima súplica.

31 de mai. de 2020

31/05/2020



Eu queria acreditar que existia algo concreto, sólido e bom por trás de uma fantasia, uma casca, frágil e suja. Eu queria acreditar porque precisa haver algo a mais. Algo que dure, algo que resista.
E que as palavras são pequenas faíscas clareando a escuridão onde esse algo se esconde, como crianças abobadas brincando com a chama de uma vela.
Mas há essa voz doce e sóbria dizendo que talvez seja tarde demais. E ela não é cruel, pois não mente.
Eu continuo insistindo em distinguir alguma coisa com essa parca claridade, mas não faz sentido essa paixão pela ilusão de que existe algo vindo em minha direção. Tudo permanece o mesmo. E o que vejo se movimentar são escombros se diluindo lentamente no tempo. Quando nem eles restarem, eu ainda restarei?
Por enquanto eu posso lembrar de quando a chuva acalmava as batalhas. Lavava o sangue dos campos, dissolvia o medo. Lembro da luz que nascia silenciosa em seguida, e do espírito sonhando livre, acima da carne maculada.
Mas hoje não chove.
Nessas noites tristes e frias as dúvidas voltam... e se aquelas mãos não tivessem me contaminado? E se o amor não tivesse me curado? Contudo, não há mais juventude para a absolvição dos pecados, para a misericórdia. Essa suave angústia é apenas mais um dos dez passos dados para trás após um único passo dado à frente. E estamos cansados.
As chamas se apagam e eu deixo de acompanhar o destino dos escombros. Ninguém nos levará para casa.
É melhor não despir totalmente o que resta da fantasia.

29 de mai. de 2020

30/05/2020



O que há para os poetas dizerem sobre tempos feitos de tempestades?
E se a lição não for aprendida, e se o passado berrar sem misericórdia, e se os pecados não forem absolvidos?
Joelhos assassinos continuam sufocando gargantas pretas,
Os vermes no controle se regozijam em uma orgia maquiavélica,
E ainda que as vozes se levantem, quem as ouve?
Quem as teme?
Se os anjos cantam, cantam de um céu distante demais...

Você ainda se lembra de quando a chuva não era tão fria e o silêncio não causava temor,
Havia uma pequena canção de adeus, pedindo que se arredasse todo mal.
E era belo, pacífico.
Eu tento segurar com força numa essência que talvez não seja mais tão doce e pura, mas que permanece honesta.
Aquele abrigo dos sonhos não será encontrado, ele não existe mais...
É passado seu tempo.
E mesmo que não pareça, talvez resistir seja um bom plano; o único plano.
Ainda que seja um resistir com menos pensar, com menos sentir.

24 de mai. de 2020

25/05/2020


O passar rastejante do tempo foi tirando o direto à dor, ao lamento.
Sem importar quão vivas fossem as memórias ou as saudades, tudo deveria repousar em um leito frio, onde a luz não chega.
O passar do tempo foi tomando o direito ao sentir.
Tantas novas batalhas a se perder no porvir, que mais nenhuma lágrima está disponível à longínqua grande derrota.
E todas essas palavras... batidas, gastas, surradas, cansadas. As palavras foram friamente e maquinalmente extirpadas dos meus dedos, dos meus lábios. Porque a poesia se viu farta de carregar sozinha por anos à fio um espírito alquebrado, um coração que não conhecerá a cura.
A jornada é esta noite fria que desliza sorrateiramente, movendo as peças de lugar, colocando suas vítimas em lugares perigosos, instigando-os a passos desconcertados e imprudentes.
É então que uma claridade débil cintila nos meus olhos, e eles lançam pra dentro da mente uma espécie de oração que confunde imagens e vocábulos, refletidos em si mesmos, ondulando como folhas secas no vento, confundindo futuro, passado e presente, tornando-os uma coisa só, e coisa alguma... uma perda, um vão, um caos calado.
E desperto, mas é dentro do mesmo sonho ruim, e minhas mãos nunca alcançam a luz, nunca alcançam. E a questão não é onde, mas quando estou. E é quando é dito o adeus, é quando a calmaria é farta de uma ironia que sussurra ameaças.
Então eu sei sem que os anjos me digam que meus pecados não são meus erros, meus danos, meus apelos; meu pecado é a covardia. A covardia de esticar os braços infantilmente em direção ao alvorecer que não se fará. Minha covardia de desviar o olhar da imutável engrenagem dos dias que a tudo, a tudo consome.

6 de mai. de 2020

06/05/2020




Onde antes ondulava um manso oceano esmeralda de palavras saturadas de amor e vida, jaz um leito seco e salgado. Entre as rachaduras, pequenas relíquias partidas de um passado já remoto tentam causar alguma comoção. Mas tudo é findo.
Sem rancor, saudade ou sonho, as palavras, como as águas, foram sendo drenadas pela realidade; prática, sintética, mecânica. Um interminável sol escaldante de silêncio profundo dissolveu e consumiu o que restara. Mas o que vem agora? Deixo de caminhar por uma trilha de memórias mortas e a luz adiante fere meus olhos... Um imenso vale de fatos, é que me aguarda. Exalam um cheio amargo de lucidez. O primeiro fato diz que o amor não virá, mas esse é um fato já reconhecido. O segundo fato aperta em suas mãos ásperas um resquício de poesia, com tristeza e afeto. Apenas observo e avanço; não sei se resta fé o bastante para que eu possa salvá-la. Um terceiro fato mantém o silêncio. E essa é sua mensagem.
Então a noite desce com delicadeza. As estrelas continuam no céu. O que virá depois do infinito?
E me pergunto se existe algum caminho que faça sentido... O mundo pode acabar amanhã e todo esse oceano de palavras que hoje faz tanta falta, não significará mais nada. Talvez o mundo já tenha acabado... e o significado já não exista, de fato.
Mas eu me levando, tiro o sal das roupas e escolho uma direção. Qualquer direção.
Eu não posso esquecer que passei por aqui. Que senti. Que amei. Que em tempos mais bonitos mais leves, eu mergulhei nas águas que aqui repousavam,  e que para onde quer que tenham ido todas as palavras, também foram as minhas partes perdidas, talvez.
Lentamente caminho para lá.
Lentamente.
Uma lua imensa no céu ilumina meus escombros...
Eu sigo.

25 de mar. de 2020

25/03/2020


A cidade naufragada em silêncio, em tanto silêncio, me faz sentir saudade do som daqueles versos, como vidros quebrados em uma caixa; os versos que um dia eu fiz a um você.
Novos versos são pedidos, não mais de amor ou de saudade, mas de esperança.
A esperança, nossa doce maldição.
Entendo a cidade como entendo meu coração, essas ruas e caminhos abandonados, por onde já não se deve mais caminhar.
O que virá depois se houver depois?
Abrir, talvez, essas comportas. Dar vazão. Deixar livre toda essa beleza contida.
Voltar para os Jardins do fundo da alma, cuidar, ressemear.
A claridade cinematográfica da tarde ronda os pensamentos junto de uma brisa de perfume delicado. Uma canção ajuda a criar lembranças de coisas que nunca aconteceram.
É o coração que se recusa a parar de bater...

23/03/2020


Todas as ruas já pareciam ruas de domingo.
Tantas portas fechadas e tão poucos olhares que se confundiam com a luz difusa e ocre do entardecer.
Distantes, isolados.
Mas mais do que nunca todos se pareciam meus irmãos.
No inusitado silêncio da minha mente e nos olhos que quase não continuam na borda as pequenas lágrimas, eu os envolvia e abraçava.
Apesar do medo, eu sei que a primavera não tarda.
E nessa dolorida pausa vemos os corações se revolvendo, as sementes delicadas, frágeis, caindo nesse solo fertilizado com medo, dúvida, mas também esperança.
A poesia acena, de longe, e eu sorrio. E ela se achega, sinaliza o fim da nossa despedida, da nossa quarentena. Talvez tenhamos muito a contar um ao outro... São tempos de intensas transformações. De vida, de morte. De temor, de êxtase.
Mas apenas sentamos lado a lado, semi abraçados, vendo a tarde adormecer, as ruas ficarem ainda mais desertas, as pequenas luzes do jardim acenderem. Ela repousa no meu colo... não há nada a ser dito, e eu já não contenho o pranto. Também tenho medo, também tenho frio. Mas o pranto é em oração pela esperança que ainda não debandou dessas terras, desse peito.
E já é tarde, estamos seguros. Faz silêncio entre o canto intermitente dos passados e o riso das crianças.
Vai ficar tudo bem.
Boa noite.