18 de out. de 2011

Um pranto de nuvens feridas


Se faz sol lá fora, por que há tanta chuva aqui dentro...
'um pranto de nuvens feridas.'
Assustam-me os relâmpagos, os ventos, tantos trovões.
Quem trouxe a tempestade, ou porque a criei?
É saudade? É tudo apenas saudade?
Se for, tenho medo que essa saudade se torne fome, e essa fome devore minha alegria...

As pessoas caminham abobadas pelas ruas, perdidas em seus destinos fracos.
Fazem sons estranhos, têm olhares dilacerantes.
E eu em silêncio, um silêncio de cansaço; acuado, fugitivo.

Lembro-me do casebre das primaveras... nunca lhe falei sobre ele.
É um casebre com uma única porta, no fim de um corredor pequeno, com um caramanchão natural de primaveras rosas e vermelhas.
É tão simples, tão divino.
Nos imaginei ali, morando naquela casinha humilde, sentados embaixo das flores nas tardes de domingo.
Imaginei você sorrindo e feliz por estar ao meu lado, feliz por ser para você suficiente esse tão pouco que sou. E essa foi a melhor sensação dos meus últimos dias.
Mas meu lado frio foi logo rebatendo: "Que bonita e tão, tão distante quimera..."

Meu coração tem luz simples e faz tanto escuro aqui.
Meu coração tem calor suave e às vezes caminha por um deserto gelado.

Bem queria eu sair em silêncio, em caminhar suave, por essas ruas cobertas pelas folhas do último inverno... ir ao teu encontro, ir ao meu socorro.
Como queria extrair-nos dessa realidade que nos impede o sorriso tantas vezes.
Mas o que posso fazer é apenas o que menos sei: esperar.
Esperar que a semana finde, que você se aproxime, que a chuva passe...

5 de out. de 2011

Proteja-me do amanhecer


Tal qual criatura das trevas acomodei-me na noite; fria, seca, insone.
Noite de estrelas histéricas, de lua que gargalha.
Tal qual criatura do escuro tive medo do amanhecer,
Tive medo do sol sobre minha pele, tive medo do meu olhar ofuscando-se dolorosamente mais uma vez; junto à minha mente, junto à minha alma.
Tive medo de tanta falta.

22 de set. de 2011

Por todo meu eu


Queria muito derrubar você nessa cama agora,
Beijar dos seus pés aos seus cabelos,
Inebriar-me com seu cheiro,
Acariciar sua pele como um jardineiro acaricia a terra.

Queria muito não ser tão limitado
Para poder mostrar a você o tamanho do amor que trago.
Envolver-te nos meus mundos mágicos, antes tão solitários.
Dizer-te que não há qualquer caminho no mundo que não me leve a você.

Preciso dizer quão incrível é rogar em silêncio um abraço quente seu,
E logo em seguida ter seus braços ao redor do meu corpo...
Você sente o que meu espírito diz sem palavras.

Preciso dizer que não há mais nada que eu precise sentir além de você
Dentro, ao redor e por todo meu eu.
Por todo meu eu.

4 de set. de 2011

Dia Santo*




Movimento-me em silêncio lembrando-me de quando Jesus me disse:
“Menino, a cada dia basta o seu mal...”.
Então olho para o céu e agradeço a vinda do arco-íris. Luz e água, reflexos do
paraíso.
E toda cidade parece ter sido abençoada; a mesma pequena cidade de poucas
surpresas e grandes segredos.
Assim, descem as ruas as sorridentes senhoras com seus guarda-chuvas
coloridos e suas roupas com estampas floridas. Para elas o dia é santo em
louvor a uma santa distante, para mim é santo pela chuva que caiu há pouco
e absolveu as almas que tocou. É santo pelo sol que surgiu agora e deixa as
ruas douradas; é santo pela misericórdia divina que mantém as flores desta
minha primavera vivas.
Eu pararia a vida nesta tarde, por causa desta luz, por causa do perfume
que o ar está distribuindo, pela única rosa no jardim em frente. Pararia pelas
senhoras com suas preces; por olhar a porta entreaberta e observar um
mundo tão puro que temo um dia ver deixar de existir, pois tudo isto coloca
em minhas mãos um suave e bem-vindo resquício de fé; fé muito distante da
que aquelas mulheres têm, mas ainda assim, fé.
O céu tão claro parecer querer me provar que o mundo ainda tem uma
chance, uma escolha.
Isso é o mais próximo do Paraíso que eu poderei chegar, isso é mesmo tudo o
que preciso. É tudo o que sou.
Acredito que Deus ensinou Seus filhos a amar; é o que minha esperança
precisa saber para conseguir existir.


*'Em meu Jardim Secreto...' pag. 118

30 de ago. de 2011

Apenas seu


Traço essas linhas entre lágrimas.
Aquelas, límpidas, mornas, puras, que sua onipresença faz jorrar.
As lágrimas que você permitiu choverem sobre você.
As lágrimas que germinaram a vida latente em mim.

Preciso que saiba que ao ver os ipês brancos e amarelos, o alvorecer e o anoitecer, os céus de cobalto ameaçando chuva regeneradora, as crianças brincando de bola no asfalto; eu vejo sua face, seu olhar delicado, seu sorriso dócil e humilde. Eu vejo uma outra face de Deus, a mais bela que conheço Dele.
Preciso que saiba também: suave como as brisas das madrugadas, como o azul pálido do céu desse inverno seco, como o caminhar cansado ao entardecer, eu recebi a notícia, provinda talvez dos anjos que guardam meus sonhos mais puros, que meu espírito estava completamente aberto, aberto e pronto para ser vivo contigo, intensa e profundamente. Estava pronto para receber esse milagre, de olhos, braços e alma escancarados, em toda sua plenitude.

Perdoa a necessidade que sinto em fazer-te meu ar, meu pão e minha água.
Perdoa a necessidade tamanha que tenho da sua pele, do seu gosto, do seu sentimento.
É que tudo em mim já não é mais completamente eu, tudo em mim fundiu-se em um ‘nós’, único, exato.
Sua distância é distância de mim mesmo.
Sua felicidade é felicidade para mim mesmo.
Sua paz é a minha paz.

Não sou muito, anjo amado. E repito que o pouco que sou ainda precisa muito ser melhorado.
Mas o que possuo, aquilo que foi cultivado e protegido por anos a fio, é sublime e imenso, verdadeiro e intenso. É, razão dos meus dias, aquilo que qualquer ser mais deseja, mais busca, às vezes mais teme, e com certeza o que mais precisa: é o amor.
E este é seu. Apenas seu.

24 de ago. de 2011

Paradoxo*


O Amor é mesmo um fogo que arde sem se ver; uma sarça ardendo sem se consumir. A voz de mil anjos aos ouvidos, queimando-lhe os tímpanos, transformando cada pensamento enraizado em pluma leve, e cada pluma leve em fortaleza firme. E a pele, a pele macia e suave, exala labaredas.
O Amor é mesmo uma ferida que dói e não se sente; esse peito aberto por onde entram brisas e temporais, esperanças dantescas e medos mesquinhos. Um alívio grande em ser cortado pela saudade desumana. Percorrer em segundos aquele caminho infinito.
O Amor é mesmo um contentamento descontente; um tráfego por paraísos que inibem e assustam de tão belos. Paraísos que metem medo de tão intensos e completos.
O Amor é mesmo dor que desatina sem doer; é receber dentro de um coração pequeno um milagre imenso, ver suas paredes esticando, rasgando, rompendo-se... enquanto dos olhos jorram lágrimas de mais pura felicidade.

O Amor é mesmo um não querer mais que bem querer; essa vontade de correr para bem longe, se for para poder vê-lo se aproximando mais e mais... com o sol dourando-lhe os cabelos, o sorriso reluzindo no rosto.
O Amor é mesmo um caminhar solitário por entre a gente; pois que tudo e qualquer coisa além dele próprio é pouco ou nada. Nenhum olhar, nenhuma voz, nenhum perfume, nenhum caminhar... nada se compara ao seu olhar, à sua voz, ao seu perfume, ao seu caminhar. Tudo além de ti é apenas ausência.
O Amor é mesmo nunca contentar-se de contente; a divina ambição insaciável. É nada, nunca, ser grande o suficiente se posto ao lado da sua presença. É alcançar o limite de uma alegria ilimitada.
O Amor é mesmo cuidar que se ganha em se perder; oferecer tudo o que as mãos e o espírito alcançam. É deixar partir tudo o que se sentiu, ficar vazio, mas ser preenchido pelo universo, ao mesmo tempo.

O Amor é mesmo querer estar preso por vontade; em braços, pernas e vontades. Um desejo de escravidão, mas que faz alcançar com as pontas dos dedos as chuvas das montanhas, os oceanos esverdeados, os céus azuis; todas aquelas bonitas faces de Deus.
O Amor é  mesmo servir a quem vence, o vencedor; o prazer em abdicar-se, de reconhecer-se ínfimo diante do milagre, é aceitar-se pequeno fazendo o máximo. É reconhecer-se servo com honra, pois serve-se a quem venceu-lhe as sombras, os medos, as dúvidas.
O Amor é mesmo ter com quem nos mata, lealdade;
pois é simples, morre-se desse Amor, e ainda assim, continua-se a viver dele.


*Construído sobre o soneto de Luíz Vas de Camões.

18 de ago. de 2011

Formosa Rosa do Deserto



Eles acompanham meus traços magros com olhares felinos, como se sentissem fome dos meus sonhos.
Meu coração se acua, se limita, e deixa transparecer alguns espinhos;
ele que prefere bem mais ser apenas florido.
Falta tanto para o fim do inverno, para o fim da semana, para o fim do dia...
Mas eu tento alcançar o que há muito além dessas frias faces feias.

Tento soprar para dentro do peito aqueles momentos em que nos amamos por entre as canções, luares, estrelas...
Aqueles momentos em que nos amamos com nossos corpos, e ainda mais com nossas almas; em silêncios, em gestos, em palavras sussurradas, em sorrisos sinceros.

Sentimos sim falta das chuvas, da terra castanha e molhada, dos nossos espíritos desempoeirados; mas digo-lhe: como lá fora cantam belas as azaleias!

Veja estas flores!

Apenas elas dentre toda criação conservam para sempre alma de criança;
Sempre ressurgem inocentes,
Reluzentes,
Intensas,
Indiferentes às estações que as cercam.
Apenas as flores são completamente puras.
Doam-se por completo, sem exigir nada em troca.

Assim sinto você, 
como aquela Formosa Rosa do Deserto, pela qual me apaixonei à primeira vista.
Isso te lembra algo?
Essa divina flor tem a coragem de desabrochar onde tudo lhe faltaria... até quem a admirasse.
Mas ela aprendeu a guardar dentro de si as poucas lágrimas que Deus derrama no deserto, e vivem desse milagre, e espalham esse milagre.
Assim o fazemos, meu amor. Nos alimentamos da luz que mantemos dentro desse relicário em nosso peito, e ela nos guia, dia e noite, um ao outro.
Juntos podemos florescer essa benção, multiplicá-la pelo mundo, 
com os outros peregrinos de deserto.

O que mais quero que saiba é que não há mais eu e meu amor por você.
Há uma fusão, intitulável e maravilhosa, que me faz enxergar pores-do-sol púrpuras e doze sóis nascendo pela manhã...
Pois meu anjo, você é a prova da existência do paraíso; 
bem aquele que mais desejei: o simples, calmo e belo paraíso.

Você...

Você que disse: “Abra sua porta para mim.”
Antes mesmo de eu terminar minha corriqueira prece implorante por sua presença.
Você que disse: “Abra sua porta para mim.”
Já estava à minha frente, vindo de tão longe, em carne, osso e claridade.
E eu digo a você: Não há porta para abrir.
O solo em que está, é solo de Jardim, e Jardim sou eu.

Você está completamente dentro de mim.

13 de ago. de 2011

Minha divindade



Há aqueles dias em que Deus encontra-se tão bem camuflado
que não o distingo da paisagem amarela desse inverno.
Colho uma flor e não sinto Seu cheiro nela.
Vejo o sol nascendo e não sinto o calor dele vindo misturado à luz.
Encontro uma criança sorrindo e quase não acredito que todos os sorrisos dela são os sorrisos Dele.

Mas até que enfim compreendo que fui eu,
em todos aqueles dias insossos,
naqueles instantes frios e secos, que me escondi de Deus.
Fui eu em que tantos momentos submergi na minha autopiedade.
Fui eu quem girei em vórtices de desejos e temores absurdos.
Eu que me esqueci: onde Deus também habita é dentro de mim.
Onde eu mais O sentirei é dentro de mim.

Pois você se aproximou, meu Amor.
Você se aproximou com seus passos silenciosos, com seu sorriso levemente desabrochado,
com esses seus olhos faiscantes,
com alma e corpo perfumados.
(Eu alcanço seus lábios, ansioso e voraz como uma criança que tenta apanhar seu mais valioso brinquedo no alto da prateleira. E você me recebe, me eleva até onde toco com minhas mãozinhas o milagre mais sutil, mais puro, mais inocente que qualquer um poderia conceber.)

Você me relembra, trás à tona, a minha própria divindade.

Você esteve, todo esse tempo, em busca da minha paz, sem saber...
Sem saber que sua existência já regia a minha, mesmo que ambos estivéssemos deslocados, em nossos mundos distantes.

Por tua graça eu encontrei minha absolvição,
minha primeira e mais bela chance,
minha fé,
minha verdadeira vida. 


Anjo que abraça minha alma*




Ao horizonte de nuvens escuras a luz sucumbe.
Crianças desenham sóis, heróis e paraísos nos muros com seus gizes de cera.
A noite chega tão bela, mas tão solitária.
A canção com seus acordes de violinos penetra em meu espírito derramando
perfume sobre minhas feridas mais secretas.
Algo voa em direção ao meu peito; faço uma oração por tudo o que ainda
acredito.
Ouso um passo além...
Tudo vai e volta para mim.
Enfim sinto paz, como se um anjo estivesse abraçando minha alma.
Pequenos sonhos e sutis esperanças por enquanto são suficientes para dar
razão à vida.
Então me perdoo por tudo o que fui e sou.
Agora e depois preciso continuar, ter algo em que depositar minha fé.
Por mais que além deste Jardim tudo pareça frio e cruel, eu sei que o amor
realmente nunca diria adeus.
E nesta noite eu apenas gostaria de ter asas... para voar atrás desse anjo que
abraçou minha alma.


* "Em meu Jardim Secreto..." pag. 106

9 de ago. de 2011

É o meu?



Chovem cinzas suaves do céu de cobalto,
Em algum lugar corações consomem-se em chamas.

É o meu?
É o meu que se desprendeu do peito de vez e alçou voo por essa madrugada que acaricia seus amantes?
É o meu que, envolto em suas labaredas divinas, flutua insano sobre a cidade; sujando suas ruas, quintais e jardins com os medos que vêm sendo incinerados?

Pois deve ser... danado que só,
bem que ele deve ter ido ao encontro de sua razão de pulsar.
Deixo, ligo não. Tem que ir mesmo.
E nem é tão longe, não é mesmo?

30 de jul. de 2011

Como quem procura...


Acordei sentindo você sobre a minha pele,
Como se você estivesse despertando junto de mim,
Naquela cama pequena, velha e fria.
E é tão real que ainda restava seu gosto em minha boca, em minhas mãos em meus devaneios.
Em todo meu corpo havia o calor do seu; dos seus braços, do seu peito e pelos,
Aquele calor que me acaricia, e germina, e reaviva.

Eu caminho de pés nus pelo chão empoeirado de madeira,
Vago pelos cômodos vazios como quem procura... quem procura.
A manhã me serve um bom-dia através da luz que projeta em minha janela, 
em minha cortina de plástico vagabundo e tão florido, tão bonito.
E eu me sinto simples.

Já partira a madrugada com sua lua;
sua bela lua branqueada,
que me acompanha em todos adormeceres quiméricos,
e em todos despertares desesperançosos.

Também começo a acreditar na desistência das sombras.
Começo a limpar meus céus cinzas, minhas almas perdidas, meus corações medrosos... 
todos meus eus bandoleiros.
Também começo a sentir desabroches nos meu jardins estáticos.

É inverno, bem o sei; mais do que qualquer um saberia.
É inverno, bem o sinto; já que sou eu as pastagens secas e incendiadas, 
sou eu as folhas amontoadas no asfalto, 
os galhos ressequidos nas copas das árvores.
Mas assim também sou eu, os ipês rosas explodindo em vida,
E os amarelos que zombam das calamidades do mundo com todo seu gozo, alegria e cor.
Sou eu, tudo e qualquer coisa, dentro de mim, e ao redor.

Logo haverá sua mão na minha, e talvez eu tremendo em meu constante medo de não ser bom o bastante para meus milagres tão rogados.
Mas eu estarei aqui, ansioso por ti.
Com certeza matemática, eu estarei aqui, esperando por sua vinda...
E estarei sorrindo.

28 de jul. de 2011

Real foi meu diálogo com a lua...


As portas à minha frente não param de abrir e fechar.
Todas as dóceis senhoras têm perfume de rosas...
Ou é meu coração que se abre e se fecha?
Ou é meu espírito adornado de alecrins?

É manhã macia, pequeno meu.
E eu aqui, tão estático em meus devaneios perigosos,
Acorrentado num tráfego diário que pode ser denominado de qualquer forma, menos real, para mim.
Eu, peça minúscula dessa engrenagem suja, fria, absurda.

Real foi meu diálogo com a lua...
Aquele risco de luz em forma de sorriso.
Eu pedia: ‘Desce Madrinha! Desce, pois a prometi como sublime presente àquele que descobri amar! Nada nesse mundo poderia ser tão belo e digno quanto você é!’
‘Desce... pois preciso tentar retribuí-lo por devolver-me o sangue quente nas veias, a leveza no espírito, a claridade nos olhos.’
Mas a lua, com voz mansa me foi dizendo... ‘menino meu... eu já sou dele, e sua, e de todos os que em mim depositam suas promessas. Permita-me ficar aqui onde alcanço-os todos, onde os abençoo sempre. Minha luz vos pertence, assim como vocês pertencem um ao outro.’

Nesse instante lágrimas frescas me fluíram; lágrimas leves...
Eu entendi que o sentimento não se alimenta unicamente da presença, mas também da sintonia, da afinidade, da saudade... essas coisas que vão além do toque.

Porém, o que me dói, anjo meu, é limitar minha luz.
É estar emaranhado nessa rede estúpida que não me apresenta um propósito,
Que sufoca aquele que eu verdadeiramente sou, e preciso a todo custo lhe oferecer.

Eu sou mais, menino meu.
Mais que o garoto frágil que todos os dias você socorre com tanta doçura.

Um dia, espero que num próximo dia, eu mostrarei meu real tamanho, minha real força.
Pois que em meus sonhos eu sou tão grande de espírito que sou capaz de ver cores e luzes que as almas emanam.
É com esse eu que ainda ei de lhe brindar, espero, em breve.
É com essa intensidade que quero ladrilhar nossas estradas.
É com esse amor que quero nos nutrir, nos guiar.

13 de jul. de 2011

Preciso-te

Eu vou mergulhando na sua distância.
No que fica de nós quando você se despede de mim naquele portão velho...

Minha pele já não tem o meu cheiro, mas o seu.
Meu coração já não quer mais buscar, mas te seguir.
Minhas mãos tem ânsias absurdas de tocar todas as ruas, todas as árvores, todos os muros,
toda a cidade, para saciar a vontade de tocar sua face.

E esses dias vão se arrastando... rindo dos meus desejos, da minha necessidade de ti.
E essas noites são curtas... deixando-me tão pouco em teus braços macios e quentes, enquanto neles, sonho.

Eu vou reinventando os instantes. Tentando suprir a ausência com luares, nasceres do sol, desabrochamento de flores, borboletas gigantes azuis, perfume de jasmins. 
Mas tudo, que antes era tanto, agora é tão pouco...
De ti é emanada uma luz fabulosa, magnânima, que me subtrai de mim mesmo, deixando-me nu, em minha essência mais pura. E qualquer coisa, quando comparada a isso, parece efêmera... sutil demais.

Eu vou resgatando seus sorrisos nas nossas canções, vou resgatando suas expressões nas crianças que brincam distraídas. Vou extraindo fragmentos da sua voz nos ruídos que os anjos emitem de suas asas imensas.
Mas que dias longos, meu amor...
Que dias amarelados e longos.
Que manhãs frias, tardes secas, noites escuras.

Contigo tudo é tão primaveril. 
Os Silfos modelam nuvens douradas e púrpuras para nós. 
Os ipês derramam flores mil pelos gramados...
Há tanta paz, há tanto aconchego.
Distantes, o silêncio me consome, a ausência do seu toque me põe em chamas.

Preciso-te tanto aqui, a cada dia percebo que mais.
Preciso-te tanto em mim, sobre minha pele, sob minha alma,
tornando-me pacífico, humano,
vivo.

5 de jul. de 2011

Dos milagres


Havia um milagre nessa tarde.
Quem o viu?
Diga-me por favor!
Quem entre todos poupou um segundo de vida a favor dele?
Havia um milagre no fim dessa tarde...

Era o sol, se pondo em forma de uma fogueira ancestral, tingindo de ouro as neblinas remanescentes da manha fria. Manhã fria que gotejou perfumes, bênçãos em forma de florinhas.
Fez-se o céu um manto de fogo suave; 
vermelhas, laranjadas, púrpuras... dançavam as nuvens por entre os prédios, árvores secas e catedrais.
E parecia ser apenas eu ali, perdido com passos lentos e desconexos, ouvindo canções tristes e olhando para o céu pintado, milímetro a milímetro, por Deus.
Todos estavam tão ocupados para a vida... estavam presos em suas empresas, presos em seus lares, presos em seus desejos imensos, consumindo felicidades sintéticas, enlatadas, sem tempo para a beleza real que gritava alucinadamente bem acima de suas cabeças.

Eu só queria ficar ali, perdido naquela claridade macia e infinita, 
acreditando que tudo de mais importante já estava diante de minhas mãos.
Eu não queria mais sair em batalhas, eu queria adormecer naquele instante, e estender... estender o momento até o sempre.
Eu quis mergulhar naquela luz, e rir junto dos serafins que fabricam as nuvens fofas.
Depois, fazer-me gota reluzente e me fixar no manto negro como pequena estrela calada.

Pena tão logo as claridades terem cessado... 
a noite chegara tão escura e silenciosa.
O céu, antes bordado em ouro, rende-se a um escuro abissal.
E faz frio; e você, distante.
Pena eu não ser detentor de poderes grandes, capazes de perpetuar algumas intensidades.
Pena haverem finais felizes, pois são finais.

Porém, quem sabe amanhã haja outro sol!
Ainda maior, ainda mais belo, ainda mais sorridente!
Quem sabe amanhã, estejamos separados por apenas mais um dia...
E não por todos os fantasmas que alimentei em minha alma.
Quem sabe amanhã eu acorde com tua face diante do meu olhar outra vez,
e isso seja capaz de me ressuscitar para um novo dia, uma nova vida, uma nova estrada.

17 de jun. de 2011

Florinhas roxas (a voz)


Tenho medo que veja o medo em meus olhos, medo de não conseguir mais reviver aquela chama que se congelou.
Por que tudo se perdeu?
Por que cortaram a bela árvore de florinhas roxas?
Por que a levaram de mim?

Eu gostava tanto delas aqui, minha antiga fé, minha antiga simplicidade.
Gostava tanto daquele tempo antigo em que meu olhar era sereno,
tal qual meu coração, tal qual meu espírito eram.

Por que me foram dadas asas tão imensas junto de raízes tão profundas?

Por que é sempre essa batalha infernal aqui dentro, como se cada parte minha tivesse sido gerada por um útero de dúvida?

Eu tenho medo, tenho medo porque até ontem havia esta bela árvore de florinhas roxas, sombreando a rua triste dos finados,
e ela soava ser imaculável, uma extensão divina, eterna... Mas hoje já não há mais nada, nada além do seu tronco decepado rente ao solo, e o som da serra ainda ecoando pelos becos dali.
As folhas murchas pelo asfalto, as flores esmagadas pelos pés dos transeuntes na calçada.

Tenho medo de ser esse lenhador de mim mesmo, tenho medo de podar-me, aniquilar-me em pleno auge primaveril (pois já cometi esses pecados em outras primaveras.)
Eu temo privar-te dos meus perfumes, das minhas cores, dos meus milagres.
Eu temo privar-me dessa chance, dessa vida.

Ah por favor, venha e cala-me.
É tudo que te peço, cala-me.
Porque a única coisa que me fere é som da minha voz em minha mente.
Não há fantasmas no passado, nem perigos no futuro, há apenas a voz.
Que não silencia um instante, que não muda de tom, que não se altera.
Há apenas a voz, arrastando-me para todos os lados imagináveis, re-partindo-me, fragmentando-me, fazendo-me menor do que realmente sou...

Venha, e preencha os espaços por onde ela ecoa, e trinca minhas estruturas.
Venha, porque cada vez corro para mais longe, e para lugar algum.

11 de jun. de 2011

Curado



Eu, que há pouco era tão carente de vida, embrulhado numa treva macia,
Numa madrugada longa de 12 horas, encoberto por um sono molhado de suores;
Sinto-me curado, sadio, nesse instante.
Passo minhas mãos pálidas pelo vidro da janela, o vidro é tão frio, e através dele começa o sol a dar luz ao dia,
É manhã de sábado, e eu estou vivo, vivo para sempre, para a eternidade,
Porque sou capaz de sentir.
Porque sou capaz de jorrar lágrimas por sentir.
Porque ainda há o que me emocione, mesmo que seja um olhar, tão belo e distante de mim, mesmo que seja esse vidro, tão sujo e tão frio.

De repente não me sinto mais atrasado,
Perdido num caminho por onde ninguém mais consegue passar.
De repente não me sinto mais sozinho,
Mergulhado num oceano sujo, onde tudo o que me cerca é apenas eu mesmo.
De repente entendo que meus passos são peculiares, e não completamente errados.
Foi isso; estou seguindo meu caminho, na minha velocidade, na minha forma de amar.
É isso; voei, voei, voei sem ter onde pousar,
pois não há onde pousar,
Minha casa é o céu.

9 de jun. de 2011

Sobre a ressurreição


Este que te fala já não é mais aquele.
Aquele que flutuava na brisa neblinada das manhãs,
Aquele que plantava jardins de sentimentos,
Aquele que oferecia a própria alma em troco de um sorriso.
Que pena, não.
Ele desmoronou por completo,
e morreu sufocado em meus aos próprios escombros.

Este que te fala é uma ressurreição dele,
Um recém-nascido prematuro, sujo, friorento,
Que chora e procura por braços que o protejam.
Este que te fala ainda treme, e sente as dores do parto em sua carne frágil.
E olha o mundo ao redor como se nada dali pudesse ser real para ele,
Nasceu no lado errado do universo paralelo...

Nasceu onde os homens gastam décadas e mais décadas para acumular e acumular mais,
Nasceu onde os anjos não cantam, os pássaros não são mágicos, e os olhos não sabem sorrir,
Nasceu onde a chuva não decreta trégua nas batalhas, onde as florestas não são encantadas.
Nasceu onde é tão difícil ter sonhos belos, e esperanças plenas, e amores reais.

Então ele crescerá mais uma vez, com suas estruturas finas, com suas paredes de areias e seus tetos de vidro,
Ele crescerá mais uma vez, tateando no escuro, procurando pedregulhos e fixando-os em si mesmo.
Até que ele cairá aos pedaços novamente, perderá tudo, tudo novamente, e chorará como um filhote desgarrado, esquecido; ele morrerá dentro dele mesmo mais outra vez... e ressuscitará... quem sabe dessa vez definitivo e completo, intenso e forte.
E ressuscitará, como o musgo queimado pela neve renasce pacífico em cada primavera.
E ressuscitará, como o sol, que sobe e desce, calmo e silencioso, todos os dias.
E ressuscitará, pois posso dizer-te com grande certeza:
a missão dele ainda não foi cumprida... ele ainda não amou o suficiente.

28 de mai. de 2011

As duas coisas ou O despertar



Talvez pareça muito o que quero,
Mas meu muito, comparado a outros muitos, nem é tanto assim...
São apenas duas coisas:

Coisa 1: Parar de temer a mim.
Os outros medos que continuem, tudo bem... Mas eu, eu represento grande perigo a mim mesmo. Como uma bomba-relógio cujo contador de tempo está quebrado. Pode explodir em três minutos, ou nunca explodir, ou explodir em um ano. E continua essa guerra de qual dos meus eus pode mais. Eu gostaria bastante de fazer as pazes comigo, porque existe tanta coisa boa que pode nascer desse acordo... uma vida de verdade, por exemplo.

Coisa 2: Nem seria necessário dizer o nome dela, mas sim, é claro que é o Amor. A mesma coisa que sua tataravó mais queria e a mesma coisa que seu tataraneto mais irá desejar. Sim, o Amor. Sempre o Amor.
Porque eu já cultivei muitas flores e chorei na presença de Deus e ajudei velhinhos atravessarem a rua e já disse ‘vai ficar tudo bem’ e fiz tudo ficar bem e já tentei vencer e já perdi e já venci e já escrevi milhares de versos e já percorri sozinho centenas de alamedas desertas e já fotografei dezenas de pores-do-sol, mas nada disso se perpetua dentro de mim, tudo isso desaparece, se torna pó na brisa, porque ele, o Amor, me falta; sim aquela manifestação mais frágil e infantil dele, (um bombom, um bom-dia, flores, sorrisos, etc...) aquele pequeno calor íntimo ao se lembrar de um abraço, um beijo no canto dos lábios; as borboletas no estômago, o sono confortável à noite, os sonhos na madrugada, ainda me faltam.
É como se nada no mundo fosse belo o bastante se ele não existe. E como posso estar tão certo disso? É que numa breve certa vez cheguei quase a pensar que ele era real pra mim, e nesse dia eu vi tanta luz, tanta claridade que foi como se minha alma estivesse em chamas dentro de mim. Foi como correr num campo de girassóis onde todas as flores eram na verdade pequenos sóis. Mas então houve o despertar, e eu estava só, comigo mesmo me olhando com aquele sorriso diabólico e sedutor: “Venha e curta a noite escura...” eu me digo. E eu me obrigo a ser pequeno, envergonhado, outra vez. Eu me obrigo a calar as vozes que vêm do peito (a fé, a esperança, o sonho) outra vez.
Então já sinto que é tão tarde e começa a esfriar tanto e venta muito e estou exausto, quero apenas pegar minhas coisas, levantar do chão da porta do paraíso e voltar pra casa, onde tudo é composto pela mesma natureza medíocre que a minha... onde eu posso me camuflar, não ser notado por nada, e principalmente, nem por mim mesmo.

25 de mai. de 2011

Questão de espaço



E o que mais fere é essa sede,
Essa secura que se alastra pelas minhas entranhas.
Também fere sonhar contigo caminhando em minha direção,
Caminhando, sempre caminhando sem nunca chegar.

Mas já não é bem a falta de um você, mas a falta de um eu.
O que me falta é minha alma, a qual corre tanto de mim,
a qual quase nunca alcanço.
E quando/se alcanço vejo que ela não cabe dentro de mim, de imensa.
E ainda preenchi-me de tanta ilusão, de tantas noites estreladas,
de tantas juras falsas, de tantos invernos secos...
Preenchi-me tanto que já não me caibo mais em mim.

O que preciso de ti são suas mãos e olhar.
Suas mãos para ajudar no esvaziamento, seu olhar para reaver a fé nos milagres.

Oferece-me então, por favor, um bocado da sua força que vejo ser tão grande; apenas um bocadinho.
Venha, às vezes, em silêncio e vá tirando os entulhos de mim;
não precisa ter pressa.
Jogue meus restos, excessos, pelos jardins...
E antes de partir, olha-me.
Só olha-me, como fazes agora que nem ao menos sei teu nome.
Continua olhando-me como se tivesse fome do que há em mim,
do que sou.
Então vá.

Então volte.
Porque um dia ei de caber em mim, e eu terei tanto, tanto a lhe retribuir.
Então volte.
Porque serei cura, serei intenso e vívido.
Então volte.
Porque não encontrarás por aí outro eu mais belo e mais forte que o meu.
Então volte.
Porque serei refúgio firme e sagrado,
e serei seu.