13 de ago. de 2011

Minha divindade



Há aqueles dias em que Deus encontra-se tão bem camuflado
que não o distingo da paisagem amarela desse inverno.
Colho uma flor e não sinto Seu cheiro nela.
Vejo o sol nascendo e não sinto o calor dele vindo misturado à luz.
Encontro uma criança sorrindo e quase não acredito que todos os sorrisos dela são os sorrisos Dele.

Mas até que enfim compreendo que fui eu,
em todos aqueles dias insossos,
naqueles instantes frios e secos, que me escondi de Deus.
Fui eu em que tantos momentos submergi na minha autopiedade.
Fui eu quem girei em vórtices de desejos e temores absurdos.
Eu que me esqueci: onde Deus também habita é dentro de mim.
Onde eu mais O sentirei é dentro de mim.

Pois você se aproximou, meu Amor.
Você se aproximou com seus passos silenciosos, com seu sorriso levemente desabrochado,
com esses seus olhos faiscantes,
com alma e corpo perfumados.
(Eu alcanço seus lábios, ansioso e voraz como uma criança que tenta apanhar seu mais valioso brinquedo no alto da prateleira. E você me recebe, me eleva até onde toco com minhas mãozinhas o milagre mais sutil, mais puro, mais inocente que qualquer um poderia conceber.)

Você me relembra, trás à tona, a minha própria divindade.

Você esteve, todo esse tempo, em busca da minha paz, sem saber...
Sem saber que sua existência já regia a minha, mesmo que ambos estivéssemos deslocados, em nossos mundos distantes.

Por tua graça eu encontrei minha absolvição,
minha primeira e mais bela chance,
minha fé,
minha verdadeira vida.