18 de ago. de 2011

Formosa Rosa do Deserto



Eles acompanham meus traços magros com olhares felinos, como se sentissem fome dos meus sonhos.
Meu coração se acua, se limita, e deixa transparecer alguns espinhos;
ele que prefere bem mais ser apenas florido.
Falta tanto para o fim do inverno, para o fim da semana, para o fim do dia...
Mas eu tento alcançar o que há muito além dessas frias faces feias.

Tento soprar para dentro do peito aqueles momentos em que nos amamos por entre as canções, luares, estrelas...
Aqueles momentos em que nos amamos com nossos corpos, e ainda mais com nossas almas; em silêncios, em gestos, em palavras sussurradas, em sorrisos sinceros.

Sentimos sim falta das chuvas, da terra castanha e molhada, dos nossos espíritos desempoeirados; mas digo-lhe: como lá fora cantam belas as azaleias!

Veja estas flores!

Apenas elas dentre toda criação conservam para sempre alma de criança;
Sempre ressurgem inocentes,
Reluzentes,
Intensas,
Indiferentes às estações que as cercam.
Apenas as flores são completamente puras.
Doam-se por completo, sem exigir nada em troca.

Assim sinto você, 
como aquela Formosa Rosa do Deserto, pela qual me apaixonei à primeira vista.
Isso te lembra algo?
Essa divina flor tem a coragem de desabrochar onde tudo lhe faltaria... até quem a admirasse.
Mas ela aprendeu a guardar dentro de si as poucas lágrimas que Deus derrama no deserto, e vivem desse milagre, e espalham esse milagre.
Assim o fazemos, meu amor. Nos alimentamos da luz que mantemos dentro desse relicário em nosso peito, e ela nos guia, dia e noite, um ao outro.
Juntos podemos florescer essa benção, multiplicá-la pelo mundo, 
com os outros peregrinos de deserto.

O que mais quero que saiba é que não há mais eu e meu amor por você.
Há uma fusão, intitulável e maravilhosa, que me faz enxergar pores-do-sol púrpuras e doze sóis nascendo pela manhã...
Pois meu anjo, você é a prova da existência do paraíso; 
bem aquele que mais desejei: o simples, calmo e belo paraíso.

Você...

Você que disse: “Abra sua porta para mim.”
Antes mesmo de eu terminar minha corriqueira prece implorante por sua presença.
Você que disse: “Abra sua porta para mim.”
Já estava à minha frente, vindo de tão longe, em carne, osso e claridade.
E eu digo a você: Não há porta para abrir.
O solo em que está, é solo de Jardim, e Jardim sou eu.

Você está completamente dentro de mim.