9 de jun. de 2011

Sobre a ressurreição


Este que te fala já não é mais aquele.
Aquele que flutuava na brisa neblinada das manhãs,
Aquele que plantava jardins de sentimentos,
Aquele que oferecia a própria alma em troco de um sorriso.
Que pena, não.
Ele desmoronou por completo,
e morreu sufocado em meus aos próprios escombros.

Este que te fala é uma ressurreição dele,
Um recém-nascido prematuro, sujo, friorento,
Que chora e procura por braços que o protejam.
Este que te fala ainda treme, e sente as dores do parto em sua carne frágil.
E olha o mundo ao redor como se nada dali pudesse ser real para ele,
Nasceu no lado errado do universo paralelo...

Nasceu onde os homens gastam décadas e mais décadas para acumular e acumular mais,
Nasceu onde os anjos não cantam, os pássaros não são mágicos, e os olhos não sabem sorrir,
Nasceu onde a chuva não decreta trégua nas batalhas, onde as florestas não são encantadas.
Nasceu onde é tão difícil ter sonhos belos, e esperanças plenas, e amores reais.

Então ele crescerá mais uma vez, com suas estruturas finas, com suas paredes de areias e seus tetos de vidro,
Ele crescerá mais uma vez, tateando no escuro, procurando pedregulhos e fixando-os em si mesmo.
Até que ele cairá aos pedaços novamente, perderá tudo, tudo novamente, e chorará como um filhote desgarrado, esquecido; ele morrerá dentro dele mesmo mais outra vez... e ressuscitará... quem sabe dessa vez definitivo e completo, intenso e forte.
E ressuscitará, como o musgo queimado pela neve renasce pacífico em cada primavera.
E ressuscitará, como o sol, que sobe e desce, calmo e silencioso, todos os dias.
E ressuscitará, pois posso dizer-te com grande certeza:
a missão dele ainda não foi cumprida... ele ainda não amou o suficiente.