5 de jun. de 2018

05/06/2018


Quanto de mim havia restado nisso que se move por entre as rotinas dos dias depois de todo esse tempo? Quanto de tudo isso sou eu?
Por quais desses pecados devo pagar e quantos frutos tenho realmente o direito de colher e saborear?
A sensação é de ver o coração pelo lado de fora. Aos redores; escombros, memórias partidas, sentimentos se deteriorando ao relento, tudo coberto por pequenas e frágeis plantas floríferas.
Não sei mais o que no fundo do peito habita, ao menos não o que existe além dos seus alicerces e paredes, que novas ou velhas, cansadas ou não, sempre estarão de alguma forma em pé.
A luz entra por frestas nesse cenário bucólico, quase sempre triste e denso, mas por vezes aconchegante.
Estou cansado. Sentado nas raízes de uma velha e imensa árvore presa em um interminável aspecto outonal. As folhas caem, nascem, e voltam a cair.
De longe, eu sinto, uma força protetora observa tudo com atenção, e ainda que não me tome em seu braços, fecho meus olhos e sinto que posso chorar como o menino de antes, por todas minhas saudades, todas minhas fraquezas e súplicas adormecidas com o passar dos ventos e dos tempos.
Eu me lembro de tudo, de cada detalhe luminoso, de cada dia nublado que não permitia a proximidade do calor do sol. De nós, deles, de cada coisa.
Mas já não existe aquela estranha forma de paixão pela dor que o amor deixou. É esta uma era sem títulos, sem metáforas, sem pedido subliminar de socorro.
Aportamos na realidade há pouco, alguns meses, e hoje o navio que nos trouxe para essas terras partiu veloz pelo oceano de ilusões. Ficamos.
E de tudo, de todos os sonhos, esperanças e crenças, apenas um pedido continuou na bagagem: que nessa nova terra não haja chance do medo fazer tão grande morada.