6 de mar. de 2018

"Vivo" - Do livro "Travessia"


Profundas feridas cobertas por delicados e belos curativos.
Espalhamos flores pelos caminhos onde um dia espalhamos amor.
Não é de todo mal...
Os tempos são outros.
Dores vieram antes das ameaças,
Adeuses se repetiram de novo e de novo,
Até que se entendesse a fragilidade do encontro.
Nasceremos e morreremos falando da esperança?
Essa utopia é às vezes distópica,
Como uma aurora austral pouco vista e jamais atingida.
Vamos considerar que amamos.
Vamos considerar que somos inocentes até certo ponto.
Que tudo isso que parece tão torto e confuso está certo
Como deveria ser
Mesmo de algum jeito difícil de entender.
Pequenos ajustes nessa vida que baila livre e desengonçada,
Rodopiando em meio ao salão;
Embriagada, empurrando as mesas,
Às vezes causando espanto,
Às vezes causando alegria.
Sei que isso é o mais próximo da liberdade,
E é bonito...
E eu sinto tanto,
Mas eu quase me sinto digno,
E é tão bonito...
O que restou foi a verdade,
Dócil ou severa,
Mas a verdade.
É madrugada,
Faz silêncio.
Os anjos repousam e eu não oro para não despertá-los.
Sei que estamos todos tão cansados,
Mas ainda há o jardim divino de flores imperfeitas.
Logo teremos cores e frutos.
Colheita, a inevitável.
Nossa forma primitiva, mas também sublime de Amor, reluz...
Talvez seja verdade,
Talvez sejamos já nosso melhor, neste momento.
Talvez, em algum lugar fundo em nossa alma,
Deus espera paciente que nós nos perdoemos,
Que amemos a nós mesmos,
Finalmente.

#travessia

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