2 de jun. de 2014

Insisto



Aninho-me em palavras mortas de início de inverno.
São elas tão frias quanto o vento das madrugadas negras, 
mas ao menos permanecem.
Tortas, falhas, fracas; permanecem.
Por que insisto?
Por que continuo como se não fosse um dia pagar por minhas blasfêmias?
Por minhas crenças? Por minhas dúvidas?

Mas ainda assim insisto,
Porque há na passagem das horas, dos caminhos, das dores e das alegrias,
Uma busca infinda pelos mínimos instantes mágicos.
(Há esta sede e esta fome, nunca menores, sempre maiores a cada dia.)
Tento me obrigar a acreditar que ainda é vida o que vivo quando não está,
Quando não há teu perfume e maciez, quando não há tua voz e teu sabor.

Contento-me com a abóboda de cores quentes que me envolve no fim da tarde;
Contento-me com as flores que nascem belas e perfumadas em um dia, e se despedaçam no outro;
Contento-me com as sutis gentilezas, com as pequenas palavras amigas, com o olhar meigo e inocente do bichano dormindo sobre meu peito.
Alimento minha ânsia pelo Amor e pela Beleza com esses pequenos milagres.

Até que venha novamente,
Até que tome minha alma nos braços e ela tenha, enfim, verdadeiro repouso.
Até que a satisfaça da tua abundante claridade,
E eu não mais a obrigue a se manter de migalhas.