29 de mar. de 2012

Encantado


Ainda não acordei, ainda estou lá, tantos anos, nem sei, ou quero saber.
Ainda preciso da ilusão como do ar, e que não se ouse confundir com mentira, o que sinto é mais real do que o que toco.
Não que a vida tenha doído, nem dói. Vamos seguindo...


Mas se pudesse roubaria-te tão logo para mim, só para mim.
Pois a cada dia a certeza cresce. Aumenta. Aquece.
Quado há silêncio, há sua voz como canção.
Quando há fome, há sua boca.
Quando há dor, há sua mão.
Quando não há nada, ainda há você. Todo.


"Este excesso de realidade me confunde." - disse-me Adélia.
A mim também, tanto que corro até onde ele está e sem que saiba deito naqueles braços macios.
Porque sei que acabaria com o real por mim, levaria-nos novamente para nosso "era uma vez..."
Mostram coisas estranhas no noticiário. Pessoas que não sabem voar. Pessoas que não saber amar. Pessoas que sabem matar. Pessoas que sabem fingir.
Comprazem-se com barulhos estranhos, vazios.
As canções por aqui já não são mais orações...
Tantos muros altos, esperanças distantes, cansaços sem significado.
E eu imóvel.
Diante dos muros, dos livros, dos cacos, caos e ruídos.
Estou há milhas de distância de quem sou.


Vamos de volta, Anjo Meu?
Vamos de volta ao que sobrou da nossa antiga ignorância?
Vamos de volta ao não-saber.
Não quero ficar para sempre aqui, não quero essas dores para mim, para nós, para todos.
Vamos correr, correr enquanto temos poder sobre nossas escolhas.
Vamos de volta ao nosso mundo encantado; 
e se ele não existiu, vamos fazê-lo ser.