6 de ago. de 2014

Os dias após o fim dos dias


Que toda morte seja calma, como o balançar dos barcos ao flutuar em mares pacíficos.
Que toda lágrima, tanta e inevitável, escorra lentamente como uma carícia.
Apenas morremos mais uma vez, de uma outra forma;
E continuamos vivos, de alguma forma.

Já murchou a roseirinha que o gato, sem motivo, odiou e desplantou do solo.
São tempos de adeuses...
Mas os dias que seguem o fim parecem os mesmos.
Como sempre, tudo o que vemos como errado, está mais do que certo.

Após o pior adeus, olhei então Deus no fundo dos olhos e disse:
"Faça alguma coisa! Por Seu amor, faça alguma coisa!"
E Deus sorria... não da minha dor, mas da minha ira.
Eu sei, eu sei: não é aos meus pés que o universo se deita.

A amiga me leva para ver flores. Muitas, multicoloridas.
Orquídeas, explodindo tamanha vida.
E eu quase choro de novo...
Tanta espera, tanta luta, por uma flor tão rápida e frágil.

Aproveito e prometo: tal e qual Nosso Senhor, ressuscito ao terceiro dia.
O mundo chora, as esperanças murcham, os gatos destroem as roseiras,
apesar dos espinhos que deveriam protegê-las...
E eu aqui: quantos anos mais sepultado por meus fracassos?

Reabro as veias secas, tão preenchidas de pranto e clamor e frio,
e grito: "Vida, desculpa, volta pra cá!"
E ela volta, contente por ser novamente bem-vinda.
E nós não traçamos planos, apenas ouvimos uma música juntos.

Solenemente agradeço a presença dos anjos que acudiram meus clamores,
Mas peço que fiquem acordados. Não dou pouco trabalho.
E após as maiores alegrias e as piores dores,
tento pensar apenas no doce e suave sonho...

Uma senhora, repleta da beleza dos Humildes de Coração,
Com sua vassourinha varrendo a varanda de uma casa simples e aconchegante.
Eu observava as laranjeiras do quintal com grande admiração, e ela disse:
"Neste ano tivemos muitas abelhas e borboletas. 
As flores já se foram, mas os frutos logo vêm."