8 de ago. de 2014

Vó Sepha, Vô Chico


São semanas em que os adeuses rondam, tão silenciosos e frios.
Tantas despedidas, quase nenhuma chegada.
Dos vagões que passam sobre os trilhos da vida pouca coisa desembarca ultimamente...

É tempo de Mudanças. 
Esperanças infinitas são barradas por finais infelizes.
O mundo jaz em seu seu ódio por si mesmo,
num eterno e incompreensível ciclo escuro de estupidez.

Mas não foi há muito em que amores eram roubados pelas janelas.
Não foi há muito que a própria palavra "amor" era sagrada e imaculada.
Um contrato inquebrável.
Não há muito era possível ter coragem.

Dizem que é o fim dos tempos.
Tão ingênuos... 
Ingênuos por acreditar que, 
por seus olhos não verem apenas o que querem ver,
tudo chegou ao fim.
O Fim é uma benção que ainda não merecemos.
Começar tudo de novo, do primeiro passo, com o histórico reluzente.
A luta persiste, e adianto, será longa.

Também eu sou ingênuo e fraco e tolo, 
por fazer das rosas do jardim um dos meus poucos motivos para sorrir.
O Mundo é maior, e continua, além da minha dor, além da minha ignorância, além da minha mesquinhez, além da minha ganância.
Troque-se "minha" por "nossa".

Os tempos não se findam, apenas se transformam.
Como a rosa que sai da segurança do botão para os perigos dos ventos e das chuvas
(e dos gatos).
Mas se a rosa não saísse, não haveria cor e perfume, 
não haveria sentido para a existência do botão.
A rosa... poesia das mais puras.

Vó Sepha, Vô Chico... os maiores Poetas que já tive a honra de conhecer.
Ao Amor deles devo minha vida; à coragem deles, à loucura deles.
Talvez nunca tenham escrito uma linha sobre o papel,
Mas numa madrugada, por uma janela de madeira velha, 
o jovem Chico levava para qualquer lugar distante a jovem Sepha.
Nunca li poesia mais bonita.

E cresceram e amaram e sofreram e criaram.
Sempre tanto amor e dor,
Como se, ao receber essa moeda da vida, 
fosse obrigatório fazer uso dos dois valores.

Vô Chico se foi, como um passarinho,
aconchegado no ninho que tanto lutou para construir.
Vó Sepha descansa enfim.
Deita nos braços da eternidade e segue seu caminho na jornada comum de todos nós.
A vida não termina...

Os anos vão, a alegria vai, o desespero vai, a tristeza vai, a vida vai, as rosas vão.
Algo precisa ficar. 
Eu queria que fosse o Amor.