2 de ago. de 2014

Elegia



Deita fria junto aos mortos a minha esperança.
E choro pelos mortos e choro pela esperança
e choro pelo choro, pelo grito, pela ânsia
represados.
Choro pela inutilidade das minhas lágrimas,
das minhas lembranças, das minhas palavras,
das minhas mãos negadas.

Do meu pior fiz meu melhor,
Do meu sangue fiz água fresca,
Da minha escuridão inverti as cores,
fiz luz.

E a quem importa, se não a mim?
Quem tem olhos para meus fracassos e meus troféus?
Para onde vão todas as promessas esquecidas?
Para onde vão todos os sonhos murchos?

Mas recolho dos ventos a que atirei minhas blasfêmias lamentosas.
Poupo da minha ira o frio mais gélido
que se torna o amor ao não mais o ser.
O frio que, eu já devia saber, nunca irá partir.
Poupo também meu peito de sentir minha mão o invadindo
para atirar ao solo úmido meu coração imbecil.

Apenas a esperança peço que parta,
que desapareça,
que morra,
para que,
quem sabe assim,
eu consiga viver em seu lugar.

23/07/2014