6 de ago. de 2014

Direito à lágrima


Obrigado, Deus, por meu direito ao pranto.
Suave e doce, como a primeira chuva após a estiagem.
Obrigado, Deus, por meu coração sentir fome do Belo.
É necessário saciar aquilo que me guia.
Obrigado, Deus, pela esperança, tão surrada, não partir:
Eterna cúmplice.

A vida persiste, mesmo após o fim do mundo.
"Se você procurar bem, esses escombros estão cheios de tesouros."
Repouso, como uma pluma onde não venta, em minhas lágrimas.
Tão pacíficas, tão meigas, tão doces, tão abundantes. 
Dói a perda dos que silenciam: entejam na carne ou livres dela.
Só quero um momento para que minha dor doa também.

Que ela lateje, livre como um cavalo selvagem cavalgando numa costa desconhecida.
Que o medo se aproxime, sem alarde, e aperte minhas mãos, com olhar de velho conhecido.
"Estou aqui." Digo, ainda crendo, vejam só, que a vida é além do que se vê e do que fere.
Ainda entristecendo ao ver as flores murchando, os sentimentos sendo fracos.
Caminhando em meio aos destroços deixados pelo último terremoto, observo.

Observo descrente que a vida voltará a luzir e sorrir, 
embora saiba que ela sempre volta,
Ainda que pedaços faltem, ainda que relíquias sejam para sempre perdidas, ela volta.
E minhas ilusões adormecem então, sonhando com os dias em que tinham asas tão grandes, tão fortes. 
Adormeço junto a elas, e tento voar também.