18 de out. de 2012

Céu claro, chão escuro




Não somos nós; acredito no que temos.
Não é o céu; vejo nele tanto azul, tanta luz.
Não são as pessoas; as pessoas são sempre as mesmas, idênticas, em todos os cantos.
Não é este lugar; gosto do que vejo ao redor, dos perfumes, das brisas, das flores humildes.

É a situação.
É meu corpo pesado – embora tão leve – que enverga rumo ao solo a minha alma pálida.
São nossas ganâncias.
Essa necessidade absurda de ter, conseguir, chegar; e tão pouco ser.
É estar atado ao chão ainda lembrando-me do sabor dos ares ao flutuar.
São as noites que meu espírito tenta fugir, mas sem saber como, sem saber de quem, sem saber para onde.
É meu medo de fazer as escolhas erradas, de lutar pelas causas vazias.
É meu desespero em perder meu tempo na tentativa de alcançar o inglório papel que todos acreditam ter a obrigação de representar.

É meu cansaço.
Meu cansaço diante das mesmas canções, dos mesmos ruídos, dos mesmos caminhos.
Meu cansaço diante da pobreza das palavras que jamais serão fiéis ao que realmente fervilha aqui dentro.

Ainda me lembro de quando todos meus sonhos eram numa tarde de verão.
Ainda me lembro que enquanto abria os braços – flutuando próximo às nuvens – eu sorria.
Sorria como se estivesse em casa, como se além do vento e do sol nada mais existisse, nada mais fizesse falta.
Mas os anos passaram, verdades tornam-se ilusões e ilusões tornam-se meias-verdades.
Vamos ficando densos, escuros, medrosos e quando percebemos já é tarde demais, perdemos a capacidade de voar.

Mas ainda que eu já não voe mais; hoje houve aquela que me abraçou, sem saber que tudo o que eu precisava era exatamente de um abraço.
Há o bichano gordinho com seus olhos de mel se enroscando em minhas pernas.
Haverá aquele que me desejará uma noite de sonhos bons, e um dia seguinte cheio de luz.
Então, quando eu penso nessas coisas simples, dá uma baita vontade de continuar em frente, mesmo que seja apenas com meus lentos pés cansados.