14 de fev. de 2022



 É estranho como as imagens do passado foram perdendo suas cores, desbotando. E é estranho como aquele tanto de vida, que talvez nem fosse muito, mas emocionava, agora são apenas essas fotografias congeladas, que nada deveriam significar, mas que em tardes assim, bonitas até, com a luz escorrendo pelas paredes amarelas, ainda podem ferir, como adagas enferrujadas. 

São só tolos fantasmas que rodopiam junto ao vento calmo, eu sei... E de alguma forma absurda que sou incapaz de assimilar, tudo pode estar certo, em seu lugar. 

Daqui de baixo eu não posso ver que talvez os últimos tempos tenham trazido algumas lições que não viriam de outra forma, de uma forma mais gentil, e tudo bem ser difícil enxergar no reflexo difuso algo um pouco maior e um pouco mais belo do que aquilo que se mostra. 

Quem sabe tudo isso seja só a vida acontecendo...

A luz se dissolve agora para lentamente partir... E talvez minha imagem também seja como que um fantasma rodopiando pelos ventos da tarde de alguém. 

Não é só o meu coração a ser de carne,

Não é só o meu coração a sangrar,

Não é só o meu jardim a desabrochar flores que são incapazes de se tornarem  frutos. 

As distâncias todas ainda me assustam, e quase todos os sonhos se perdem nessas lonjuras; em algumas noites ainda é preciso acender as luzes após pesadelos, e orar por proteção,

Mas de não longe minha mãe sorri e para amanhã o dia promete novas flores, ainda que estéreis, no jardim;

Hoje a cabeça encostará nos travesseiros sem grandes culpas,

Então os fantasmas, quase todos, adormecem feito a tarde que se finda.

Bebemos todos de uma doce trégua, e cantemos mais uma vez uma querida canção... 

Este sou eu tentando.