10 de nov. de 2016

À deriva



Náufrago exausto
Agarrado com ódio e paixão
Ao podre pedaço de madeira
Que sustenta à tona
Sua carne ferida.

Vê o sol que nasce e morre
E que volta a nascer e a morrer
Enquanto tudo permanece imensidão e silêncio.
Nenhuma voz. 
Nenhum porto.

Flutuam sobre as ondas
Frágeis miragens.
Restos carcomidos de memórias e esperanças.
Tão próximos,
Tão inalcançáveis. 

Outros tantos condenados também a esse mar,
Já cegos pelo sol e pelo sal.
Iludidos por belos cantos malignos
Que os tragam às profundezas inclementes.
Já não acredita estar melhor que eles...

Segue à deriva,
Ao sabor das águas
Poluídas por sentimentos em decomposição.
E o sol já está a se pôr outra vez,
Aguarda a conhecida escuridão.