Ainda que uma suja nuvem marrom paire sobre a cidade,
Não terei o triste destino de viver de memórias.
Como um cão faminto,
Vagando por ruas sujas e úmidas,
Se alimentando de restos já apodrecidos.
Ainda que céu permaneça por trás tão azul
E eu ouça o canto feliz de pássaros livres,
Eu não sorrirei para a esperança.
Não aceitarei seus braços estendidos,
Se são como luzes artificiais, frias.
Quero me juntar aos desgraçados, aos pequenos,
E entre lágrimas e suor gritar,
Gritar até que as palavras tenham a força dos martelos e das foices,
Para salvar, para consolar.
Eu quero de volta a vida que nos tiram aos poucos.
Suas faces decrépitas, inumanas,
Assombram nossos sonhos mais que os demônios da infância.
Temos medo e exaustão.
Mas quem nos vê ainda de pé, nos admiraria.
Ninguém imagina a força de quem já não tem o que perder.
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