5 de out. de 2016

Culpado pela resignação


Retomo o andar pelas ruas sujas e vazias
Com o vento frio de um inverno que nunca termina
Agredindo meu rosto em silêncio
Enquanto vejo com olhos embaçados
As luzes amarelas dos postes altos
Que não abrigam mais casais de namorados.

Retomo o pranto diante da consciência
Da minha absoluta solidão
E sorrio por ao menos a ausência
Ser plenamente verdadeira.

Ouço aquela cansada canção,
Vinda de uma remota época
Em que eu considerava minha alma mais pura,
Ainda que ela nunca tenha sido,
Ainda que desde cedo
Seus sentidos tenham se aberto ao pecado.

Me despeço da esperança, da luz, com resignação.
Minha voz não atormentará mais nenhum ouvido celestial.
Que os anjos repousem pacíficos,
Ignorantes da minhas inúteis obsessões.