29 de mar. de 2016

Outora: medo do escuro


Não farei de santos os tempos em que meu olhar era mais doce. Mas eu lembro que podia voar.
Nos sonhos, o corpo acompanhava a cabeça que já vivia nas nuvens. Mas adiantava voar se não se podia ir para muito longe? Todo abrigo é também uma prisão. A infância era uma bolha mágica, e mesmo aquilo de mais assustador e perigoso não penetrava, a mente era blindada e o coração era inocente como flores. Por quanto tempo escolhi o abrigo seguro e não a liberdade? Hoje não sei se algum dia houve abrigo. Se a prisão era também abrigo. Se só havia prisão...
Mas choro às vezes com o perfume de noites semelhantes àquelas tão distantes. A velha criança quer renascer, brincar, correr, sonhar. Mas não há como, faz escuro lá fora e os sonhos adormecem todos.
Então é isso ser gente grande,

Ter medo do escuro?