5 de dez. de 2014

Em defesa do poeta


Recrimina-se o poeta por seu amor à Rosa.
Amar o Belo é não exige esforço...
Pétalas aveludadas, perfume macio, cores doces.

É fácil amar o botão negro-escarlate,
Que desabrocha na manhã seguinte à tempestade impiedosa,
Repleto de magnânima vida.

Considera-se fútil, vaidoso, mesquinho, o poeta.
Como não idolatrar o que aos olhos é um afago?;
Aquilo que da face casmurra faz jorrar um sorriso brando?

Mas e a terra escura, suja, pedregosa, podre,
Quem ama?
Quem acaricia?

Da dor, que sabe ele?
Perdido em devaneios fabulosos, floreados...
Ao menos sobrevoa a vasta miséria azeda do mundo?

Injustos...

É de osso e espírito, o poeta.
E ao desabrochar da Rosa, precederam as mãos na terra,
Acariciando, moldando; nutrindo com lágima, sangue, sonho.

Deixa o poeta se alegrar com a frágil Flor...
Deixa...
Não é um iludido, e ainda que fosse, não o seria sem bom motivo.

Com dureza, dizem: amais o que é amável, o que é fácil!
Com carinho, digo: amais porque conheceu a profunda escuridão.

Pois a uns é dado o dever de denunciar o horrendo,
A outros, o de exaltar o divino.