24 de fev. de 2011

Fecundação

Que sentido darei à tinta sobre o papel?
A tinta delineada, tentando salvar meu espírito desse vazio.
Recuso-me a acender as luzes.
Nego até meu medo, o sempre companheiro.

Os sentimentos serão empilhados em pacotes marrons,
Aqueles sentimentos enfim fecundados...
Tentarei me vender aos pedaços.

Dezenas de possíveis portas ao amor,
Mas meu amor, este suculento e doce fruto raro, contorce-se enquanto dúvidas o corroem por dentro como um verme faminto.

O tímido poeta então me fala de seus Navios Fantasmas,
Me fala de suas quimeras escravizadas.
Ele produz alojamentos aos sentimentos que minha alma gera e rejeita.

Digo ao reflexo: e agora, olhos de esperança?
O que fará com todas as sementes colhidas daquele jardim?
Mas não há resposta...
Eu retorno ao silêncio,
às ínfimas gotículas de chuva que vão descendo tão suavemente.

Extremo em mim sempre foi aquele vazio, te digo.
Meu indócil e velho vazio...
Com seus retratos amarelados,
Com seus trajes empoeirados.
Não sei o que farei com o que crescerá nas entranhas de mim.

Meu também tão honesto vazio...
Que agora cederá seu lugar à vida que se anuncia.
Fecunda já está.
Basta crescer um tanto mais.