27 de abr. de 2023

 




Feito dito na canção

Você era como um amanhecer

Uma tão aguardada alvorada 

Eu era como uma chuva da madrugada 

Um desaguar manso e contínuo

 

Naquele momento

Eu contemplava a vida

Você a vivia

E as proximidades tornaram-se menores que as distâncias 

Quando já não se pôde perceber

Que a chuva que sempre caía,

Junto à luz inebriante do sol,

Fariam florescer na terra devastada do peito 

Um jardim de milagres 


São estranhos todos esses tempos 

Em que jogamos fora o que há de sagrado 

Diante de encontrar-se nele alguma imperfeição

O esculpir, o curar, o salvar, o cuidar

Parecem custar tão mais 

Que simplesmente

Virar a página 


E serão estes os últimos versos antes do silêncio 

Não que se calará o coração 

Mas cessarão as palavras

Para que não se macule a dor 

Para que não se faça dela algo menos bonito 

Para que não se reprise ininterruptamente

O mesmo dolorido adeus.