Um dia então você saiu a navegar
E jamais retornou
Jamais voltou outra vez
Seu olhar para a costa
E era agosto
E foi então sempre agosto desde então
O mesmo inverno
O mesmo ex-voto sendo esculpido
O órgão nunca curado
O mesmo tempo inverso
Correndo como que para trás
À tua busca
A mesma discreta loucura contida
Revivida hora após hora
Enquanto
O vento salgado do porto corta a pele
Fere os olhos
Racha os lábios finos
E nada no horizonte
Nada
Nunca mais
Apenas a linha de pálido azul
Sem vida
Tão contrária ao seu magnífico azul
Repleto de promessas e utopias
Nunca mais
Ditas ou a mim oferecidas
Mas seu canto
Canto de Ossanha
Entoando peito adentro
Por dias
Meses
Anos
Eternamente
Quando o coração é incapaz de se jogar novamente
E crer novamente
Porque nenhum abismo será profundo o bastante
Será belo o bastante
Já que ainda me lembro
Tão bem e dolorosamente
Do breve mergulho
Na vastidão incomparável da sua alma.
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