21 de jun. de 2015

Sobre a dinastia de sonhos


Quase não me reconheci ao não ter abraçada em mim a mesma velha ausência de todos os dias.
O que ainda resta para dar despedida, dizer adeus?
É hoje o início do inverno, os primeiros dias da promessa que não será cumprida, como nenhuma promessa é.
Essa falsa ideia de continuidade é o que nos destrói aos poucos...
E se eles estiverem certos?
E se tudo não passar de momentos?
E se o sentimento for apenas um grande e oco trapézio que construímos  de ilusão colorida para subirmos e vermos uns metros acima de nós mesmos?
Boas memórias e más memórias guardadas em compartimentos separados...
Meu problema foi não saber em qual caixa guardar certos instantes.

Meu jardim ainda está lá, e eu sei de todas suas flores.
Sei das roseiras que já perderam suas folhas e flores para o outono, e agora dormem esperando a primavera.
Mesmo sem ninguém derramar o olhar sobre todos os pequenos milagres, eles permanecem lá...
Como em mim permanece inviolável uma esperança maior, mais fina e lapidada.
Eu sei que chegará o dia em que não haverá a necessidade de entregá-la a ninguém, mas reconhecer que ela já repousa no único lugar que deve repousar: dentro de mim.
Será um dia de tristeza, paz, alívio.
Ver a realidade sem projeções externas, perspectivas externas, pode ser o fim de uma longa dinastia de sonhos, mas o início da capacidade de enxergar o que de fato existe.