15 de jun. de 2015

Lá vai a vida


Tem vez que penso que a vida é uma coisa tão torta, sem jeito, mal-terminada, que nem vale a pena o tanto que a gente sofre por ela.
Ela dói. Dói pela menina violentada. Apenas um número somado à estatística.
Uma dor funda, fria, afiada, que nunca sairá dali de dentro dela, e nunca ninguém verá por completo.
Dói pelo menino agredido, pela sua existência assaltada tão cedo, de forma cruel, fanática, apenas por ele gostar de menino também.
Dói porque a gente não vê a dor do outro, e por não ver, finge que ela não existe, e por fingir, acaba acreditando que o outro não sofre.
Dói porque no fundo ninguém consegue ver a nossa dor também. Ela é só nossa.
Mas tem vez que a chuva cai no cinza frio da tarde, e o cheiro do chão se molhando tira um sorriso. Ele vai penetrando pelas narinas, pela pele, saindo pelas mãos.... E eu agradeço, como se isso fosse um afago de Deus numa Terra de Homens sem poesia alguma no coração.
Também tem aquelas vezes que alguém diz: "Vi uma borboleta amarela, lembrei de você." e essa frasezinha aquece a alma já quase acostumada a um inverno constante e rigoroso.
E eu me pergunto se estamos no lugar certo, ou se essa sacana da vida está nos testando: "Quero ver até onde tu aguenta! Te mexe!".
E eu não sei... Nem se é certo aguentar, continuar vendo o milagre que reside nas coisas ínfimas e rezando para o mundo não desabar, ou se é preciso pegar a primeira chance e partir. Partir de tudo: dos sonhos velhos, das ruas velhas, dos rostos que escondem almas velhas.
Enquanto isso a vida passa... Lá vai a vida.