25 de jun. de 2021

25/06/2021

 


Pelas frestas abertas após as quedas, escuridões sorrateiras penetram.

Sei que um delicado e rápido toque da realidade poderia estilhaçar todo aquele reino mágico construído sobre o alicerce frágil de milhares de palavras simplórias e sonhos desgastados.

Mas eu ainda tenho a voz dos anjos sussurrando alguma docilidade por entre as horas das tardes amargas, tenho o riso fácil deles mesmo diante das lágrimas inevitáveis dos dias; tenho, mesmo que não pareça, esperança. 

E perambulo por memórias alheias, fingindo por um instante que estou a uma distância segura dos fantasmas que também não deixam de me observar. 

Perambulo pelas minhas memórias... E volto e volto, recolorindo e retemperando imagens e sons que já se perderam todos pelo tempo, mas que não podem ser substituídos porque nada se pôde viver. 

E aos poucos as frestas vão se fechando mais uma vez, até o próximo solavanco, até o próximo susto. Mas se fecham. Antes que a alma se torne por completo apenas noite e inverno.

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#ruasdedomingo