3 de jun. de 2021

03/05/2021




 Todo poema, todo verso, eram e são pequenas orações ou delicados relicários sagrados, simples, humildes, onde eu tentava e tento guardar os milagres sutis dos dias;

O cheiro do café do meio da tarde, o canto dos pássaros que não tive mais com quem dividir nos feriados de céu lindo e muito azul, os amores que se foram e os amores que nunca, nunca irão partir. 

Eu guardo, guardo para poder voltar e encontrar algo que brilhe e encante encravado em uma alma tão cheia de partes ainda impuras. 

Tenho aqui comigo todos os caminhos, todos os olhares, todos os sorrisos, todos os dias em que a vida parecia perfeita e eterna quando talvez ela fosse isso de fato. 

E ainda que tudo isso seja uma fortaleza frágil e de pouca beleza, eu posso através desses tesouros olhar para o futuro sem lentes tão amargas nos olhos. 

Assim eu consigo mais uma vez perdoar o último vilão ainda não perdoado, consigo permitir que suas lágrimas deslizem sem culpa, consigo enterrar seus pecados como se fossem sementes no solo da fé sorrindo ao imaginar que algumas flores podem nascer antes da primavera chegar. 

E eu me curo do meu próprio veneno mais vez;

E eu vejo a bela face de Deus mais uma vez;

E eu renasço... Mais uma vez.